"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado." |
[Divulgado no Fórum de Leitores eletrônico do jornal
O Estado de São Paulo – 21 Mar
2012]
Li com atenção o artigo O Irã e as armas nucleares,
publicado no Estadão, de 19/03/2012,
pelo Professor Emérito e Ministro Doutor José Goldemberg. Faço considerações
correlatas.
Inicialmente, pode-se inferir que
o ilustre Professor Emérito comparou aspectos do regime militar brasileiro do
período de 1970 com aspectos do regime iraniano da atualidade. Subliminarmente,
permite inferir semelhanças entre o regime militar brasileiro e o regime
nazista. Não foram sugeridas semelhanças entre o regime militar brasileiro com
o regime comuno-stalinista --- simpatia, constrangimento ou outra razão?
Quão certo o Professor Emérito
pode estar? Afinal, trata-se de um físico notável e com estatura internacional.
Comparável a quem? Às doutoras Marie Curie e Lisa Meitner? Aos doutores Andrei
Sakharov, Qian Xuesen, Niels Bohr, Wolfgang Pauli, Edward Teller, Enrico Fermi e Albert Einstein?
Em realidade, em sua análise, o Professor
Emérito ignorou uma série de fatos históricos com inequívoco interesse para o
tema. Poderia aduzir que ele preferiu deixar de considerar verdades atinentes a
uma série de argumentos essenciais que poderiam ser levados aos leitores do Estadão.
Ele ignorou que egípcios, persas,
gregos, romanos, ..., soviéticos, americanos e chineses construíram países e
sociedades relevantes com o domínio dos artefatos bélicos prevalentes em suas
respectivas épocas.
Ele desconsiderou que, na
atualidade, os países prevalentes dominam a tecnologia nuclear e produzem
artefatos bélicos com essa tecnologia --- é o caso dos Estados Unidos, China,
Reino Unido, França e Rússia, para citar apenas aqueles que dominaram a fissão
e a fusão nucleares. E também que países importantes que não os produzem ---
Alemanha e Japão --- possuem o completo domínio científico-tecnológico bem como
recursos para fazê-los.
Ele não levou em conta que o
Brasil e, em especial, os militares brasileiros contribuíram diretamente para
varrer da face da terra o nazismo --- na década de 1940, mais de 25.000 homens
foram enviados ao campo de batalha europeu e cerca de 450 não voltaram com vida.
Ele deixou de considerar que os
brasileiros e, em especial, seus militares impediram o comunismo de se
implantar no País e causar milhões de mortes, como ocorrera onde se impuseram
--- com um custo, no período de 1964 a 1985, de mais de 550 vidas de
brasileiros (sendo cerca de 120 de integrantes do regime militar e cerca de 430 das forças opositoras; conforme dados, nem sempre coincidentes, de fontes abertas
disponíveis). A esse respeito, convém enfatizar que a grande vantagem do
comunismo sobre o nazismo --- possivelmente, o que muito agrada aos adeptos do
primeiro sistema --- é que os comunistas causaram, na Humanidade, pelo menos o
dobro de mortes causadas pelos nazistas.
Em síntese, os brasileiros e seus
militares contribuíram para varrer do ambiente terrestre, a perversidade nazicomunista,
embora resquícios prossigam em uns poucos países e em algumas perturbadas
mentes patrícias.
Ao mencionar a opção nuclear
versus opção hidrelétrica, ele desconsiderou que a hidrelétrica de Itaipu foi
concebida, projetada e construída pelo regime militar.
A rigor, na análise de uma questão
internacional relevante, o Professor Emérito deixou de levar em conta que, a
despeito de erros, o processo conduzido pelos militares, em seu término, permitiu-nos encontrar o caminho da liberdade
e da perspectiva de uma sociedade harmônica, fraterna e justa. Todos podem falar
e escrever o que pensam graças a isso. Enfatizo: os brasileiros podem falar e
escrever o que querem porque aqueles que queriam implantar em nossas plagas o
comunismo foram derrotados. Para confirmar esta assertiva basta ler o filósofo
comunista Gustavo Gorender.
Bem, uma questão primacial é que ignorar
a verdade é feio, muito feio! Quando a omissão vem de pessoas notáveis, deixa
de ser feio e passa a ser horrível!
Ademais, na omissão e nas
inverdades, encontramos explicações para
nossas mazelas --- a corrupção atávica e histórica, a ausência de prioridade
política e estratégica para educação e a despreocupação com o trânsito.
Como ilustração, nesse ínterim ---
transcorridos 60 minutos, do momento em que iniciei a leitura do artigo do
Professor Emérito até a redação desta mensagem ---, no trânsito brasileiro, quantificando-se
pela média, mais de 4 pessoas morreram. Nas últimas 24 horas morreram cerca de
100 pessoas. Nas próximas 24 horas morrerão algo equivalente a 100 pessoas. No
período de um ano, esse número de mortes no trânsito, ultrapassará 40.000 seres
humanos! Quarenta mil seres humanos!
Essa quantidade de mortes é
equivalente a cerca de 100 participações do Brasil em uma guerra com a dimensão
da Segunda Guerra Mundial, para derrotar o flagelo do nazismo; e é equivalente
a mais de 100 conflitos como o que travaram militares e civis brasileiros contra
aqueles que queriam implantar o comunismo no Brasil, para livrar o País dessa
ideologia com resultados hediondos.
As explicações para nossas mazelas
resultam também do fato de que muitos de nossos melhores talentos estão alheios,
omissos ou descompromissados com as questões ora levantadas --- corrupção,
educação e trânsito, entre outras --- e, não raro, apegam-se a questões
menores, apequenando-se e desmerecendo-se a inclusão entre aqueles que causam a
transformação redentora do cenário em que vivem.
Desabafo-me e provoco, esperando
que, com isso, intelectuais e estadistas possam fazer o que deles se espera ---
quem sabe liderar a luta por um conjunto de ações em favor de objetivos maiores
do que as dimensões anãs de cada indivíduo, maiores do que os ressentimentos daqueles
que foram contrariados, ...; enfim, maiores do que temos visto historicamente
ocorrer com as lideranças que tivemos e temos, não raro, corruptas ou lenientes
com a corrupção; não raro, em busca do enriquecimento pessoal e dos seus; não
raro, tirando passaporte de outro país para seus herdeiros; não raro,
bloqueando a ação da Justiça nos casos em que são surpreendidos na prática
ilegal; e, não raro, contribuindo para que mantenhamos a condição atual, onde,
sendo o Brasil um dos últimos emergentes, na classificação de evolução e
progresso, espalha-se aos quatros ventos que estamos em situação privilegiada.
Afinal, nós brasileiros somos tão
bons ou maus como quaisquer outros povos da Terra. O que tem nos faltado é
liderança, com estatura de estadista, que possa mobilizar energias, sinergias e
direcionamento para a busca de grandeza para um País e povo grandes.
Pode-se debater, sim, quão
prescindível é a arma atômica. E o conhecimento e a capacitação nucleares? Por imprescindível,
precisamos de argumentação fundamentada na verdade! Por imprescindível, precisamos, no mínimo, de um sistema educacional
satisfatório; de um processo judicial que funcione adequadamente e permita, com
rapidez, colocar atrás das grades todos os facínoras do bem público; e de
processos que reduzam drasticamente o número de mortes no trânsito.
Sem temor de ser recorrente,
assevero que temos o direito e o dever de buscar harmonia, fraternidade e
justiça; fundamentadas em Educação, em conhecimento e em capacitação
científico-tecnológica; e em sintonia com a verdade!