Divulgado no Fórum de Leitores eletrônico
do jornal O Estado de São Paulo – 18 Abr 2013
A propósito do editorial O ‘filho de Chavez’ falhou
(Estadão, de 16/04/2013), é possível asseverar que a vitória do Sr. Maduro
sobre o ‘peessedebista’ Capriles, na vizinha Venezuela, frustrou a expectativa
de um ponto de inflexão no estado de coisas vigentes na América do Sul. Esse
evento político constituiu-se em inequívoco estímulo à continuidade de um
conjunto de ações, procedimentos e rotinas com impacto terrível para as
populações sul-americanas.
Assim, saem fortalecidos o
patrimonialismo da esmola mensal em lugar da oferta de trabalho para que cada
um possa buscar a sobrevivência com dignidade; a política de cotas educacionais
em substituição às escolas públicas de boa qualidade (atenção, sábios, sou neto
de negra, bisneto de índia, oriundo de lar muito modesto e estudei apenas em
escola pública que já foi de boa qualidade, sem o malfadado mecanismo de cota);
a tentativa recursiva de cercear a liberdade de imprensa; e o crescimento
econômico pífio camuflado pela retórica de que tudo segue às mil maravilhas.
Restam cristianizados a
solidariedade, defesa e convivência dos operadores da malversação dos recursos
públicos; a utilização dos recursos públicos para as estadias faustosas no
estrangeiro, camuflada pela falsa defesa da prioridade para os pobres; a
poligamia bancada pelos recursos da sociedade; e a retirada de objetos de
palácio do governo, por líder substituído, sem qualquer constrangimento.
Similarmente, estão sendo
considerados republicanos a associação, defesa e apoio de regimes ditatoriais
de várias latitudes; o acolhimento de bandido condenado em país com plena
vigência do estado de direito; e o repatriamento de atletas estrangeiros que se
opõem à ditadura de seu país.
É forçoso indagar se devemos atribuir
aos líderes sul-americanos a condição de maduros ou de ‘podridos’. Não se trata
de brincadeira, mas de alusão à podridão moral, ética e intelectual. E também a
pior das podridões --- a dos intelectuais que apoiam ou se omitem diante de
tanta podridão.
Não raro, reflito sobre a questão
dos intelectuais. A História ensina que eles apontam as direções
transformadoras. Os operadores da transformação, os estadistas, quando existem,
a empreendem. Para tanto, é preciso recorrer ainda à evolução histórica e,
facilmente, inferir que as sociedades que atingiram níveis de satisfação
coletiva elevados tiveram intelectuais e estadistas, e se submeteram aos
ditames de uma equação simples: Talento, Trabalho, Produção e Poupança (T2P2).
Com a perspectiva de não ocorrer
alternância de poder no Brasil ao longo de um ciclo de 24 anos, injeta-se no
inconsciente coletivo a normalidade da situação vigente e elege-se décadas para
aprender, saber, pensar e agir condicionados à equação T2P2
e para empreender a recuperação do tempo perdido. Claro, sendo otimista, e não
admitindo que podemos passar à decadência antes de atingir o ápice --- entendendo-se
o ápice como a condição da possibilidade de cidadania jurídica, educacional,
financeira e política plena, para todos os integrantes da sociedade.