domingo, 23 de agosto de 2015

O ensino e a essência do regime democrático

A matéria Sob rédea curtíssima da Dra. Tania Zagury (Estadão de 23 de agosto) contém apropriado diagnóstico de problemas no âmbito da educação brasileira e é uma aula magna para pais, professores e demais seres sapiens, homens ou mulheres. Entretanto, quando ela assevera “Não, não precisamos de escolas militarizadas ...”, fica evidenciado o seu desconhecimento da realidade das escolas militares. Se ela se propusesse a acompanhar três alunos de escolas militares (eu sugeriria, por exemplo, um colégio militar, o Instituto Militar de Engenharia e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), há razoável probabilidade de alteração de sua visão, o que não seria nenhum pecado, pois como Heráclito ensinou: “só a mudança é permanente”.
E assim ela não confundiria práxis militar — que é o lamentável mas imprescindível preparo e o exercício da gestão da violência — com a prática das escolas militares, que é inequivocamente o provimento do melhor ensino possível em qualquer contexto e, em especial, no âmbito da realidade brasileira.
O acompanhamento de alunos à guisa de estudo não seria uma atitude inédita. Afinal, a escritora Amanda Ripley acompanhou três adolescentes americanos que passaram cerca de um ano em escolas finlandesa, polonesa e sul coreana, respectivamente; entrevistou pais e professores naqueles países; e a partir daí — conforme relato em seu livro As crianças mais inteligentes do mundo —, formulou assertivas e transmitiu ensinamentos desprovidos de preconcepção, que muito engrandecem a excelsa escritora.
Ademais, a talentosa filósofa poderia ensinar também que as escolas militares agem no sentido de impedir o que ela tão bem diagnosticou como as mazelas encampadas por expressiva parcela de nosso sistema educacional.

Em concordância com a Dra. Zagury, é curioso enfatizar que desnecessária é a militarização das escolas brasileiras. Basta que as escolas em geral e, em especial, as do setor público adotem o que se pode inferir de seu magnífico artigo: seriedade, responsabilidade, limites, disciplina, autoridade, inexistência de greve, cumprimento rigoroso das metas colimadas e igualdade de oportunidades; enfim, a prevalência e a essência intrínseca do regime democrático — paradoxalmente, o que as escolas militares praticam e a notável filósofa desconhece.

sábado, 8 de agosto de 2015

Legitimidade eleitoral e ética

Com relação à afirmação da presidente Dilma Roussef de que obteve legitimidade com a eleição popular, convém lembrar que o voto foi a fonte de legitimidade de Richard Nixon e Fernando Collor, ambos de triste memória para seus respectivos povos.
           Convém jamais esquecer que, em face da legitimidade de mais de dois milhões de votos recebidos por Adolf Hitler nas eleições alemãs de 10 de abril de 1932, o presidente Paul von Hindenburg o nomeou Chanceler da Alemanha. Será que é necessário relatar as consequências da legitimidade a que se atribuía o Fuhrer?
           Convém não ignorar que a legitimidade de Fidel Castro — em Cuba, havia eleições que majoritariamente reelegiam o Comandante — leva Dilma Roussef a visitá-lo, admirá-lo e apoiá-lo de forma incondicional.
Nesse sentido, a mentira, a incompetência, a corrupção desenfreada e o descrédito que cercam o governo petista são antídotos insubstituíveis para a propalada legitimidade. Indo ao paroxismo, é legítimo asseverar que a legitimidade da senhora Dilma Roussef está corroída, apodrecida e dilacerada pelos antídotos mencionados. Se a grandeza humana e política fosse um de seus atributos, certamente, a evolução do País nessa conjuntura adversa poderia ser menos traumática. Entretanto, é difícil imaginar que ela possa nos surpreender.

Em todo caso, fica a conjectura de um remoto, e tão breve quanto possível, encontro dela com Platão. O filósofo lhe ensinaria que a legitimidade de Sócrates — que por essa legitimidade condenou-se a influir no pensamento humano nos 2500 anos seguintes a sua morte — não decorria do voto, mas de sua recusa em pedir clemência por ocasião de sua condenação à pena capital, dado que ele não admitia negar a verdade e a ética que o levou a julgamento; e também de sua recusa em fugir na véspera de sua execução, uma vez que aceitar a oferta de fuga equivaleria  a negar sua inarredável crença nas instituições. Com esse encontro, Dilma Roussef poderia pois poupar seus contemporâneos de sua conspurcada legitimidade e receberia dos gregos uma magnífica lição ainda que, para ela, tardia.

domingo, 2 de agosto de 2015

Mensagem para o Dr. Londolpho


Caro Dr. Lindolpho,
Como está o senhor, tudo bem?
Conforme havia mencionado em nossa conversa telefônica, pensava que o livro Amor e Matemática, do Edward Frenkel, era destinado ao ensino médio. Talvez, não seja bem assim. Ele se estende um pouco mais. De qualquer sorte, gostei do livro.
Ao concluir a leitura, tive uma agradável surpresa. Transcrevo um pequeno trecho para mostrar a razão.
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No meu trabalho com Witten, analisamos esse fenômeno em detalhes. Um tanto surpreendentemente, isso nos levou a alguns novos insights não só referentes ao Programa de Langlands geométrico para superfícies de Riemann, mas também à coluna central da pedra de Roseta de Weil, que trata de curvas sobre corpos finitos. Esse é um bom exemplo de como as ideias e os insights em uma área (física quântica) podem se propagar de volta às raízes do Programa de Langlands.
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Em abril de 2007, Witten e eu começamos a trabalhar nesse projeto quando eu estava visitando o instituto, em Princeton, e  o artigo foi finalizado no Dia das Bruxas (Haloween), em 31 de outubro (lembro-me bem da data, pois, após publicá-lo on-line, fui a uma festa de Halloween para comemorar). Nesses sete meses, estive três vezes no instituto ficando cerca de uma semana cada uma das vezes. Todos os dias trabalhávamos juntos no confortável escritório de Witten. No restante do tempo, estivemos em lugares diferentes. Naquele período, dividia meu tempo entre Berkely e Paris, e também passei duas semanas em visita ao IMPA, Instituto de Matemática no Rio de Janeiro. No entanto, meu paradeiro não tinha importância.
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Dr. Lindolpho, achei interessante que o Frenkel cite o IMPA em um contexto que inclui o Instituto de Estudos Avançados de Princeton, que abrigou Einstein e von Neumann; bem como --  de forma não explícita -- o Instituto Henri Poincaré, onde ocorre o Séminaire Bourbaki
Acho que o IMPA tem muito mais prestígio do que os brasileiros medianos imaginam.
Permita-me dividir com o senhor a alegria e orgulho dessa obra magnífica
Fraterno abraço,
Aléssio.