No encontro de um rochedense com uma vacariana, ocorre surpreendente diálogo metafísico.
— O mundo vai acabar!
— Vai demorar muito?
— Ah vai. Vai
ser daqui um “googolplex” de anos.
Eu explico.
Em 1916, Einstein formulou a teoria relativa às ondas gravitacionais, que
resultam da colisão de buracos negros.
Um
buraco negro é um espaço vazio; de cor negra, isto, é com total ausência de
luz; pesado como estrelas e pequeno como cidades. Quando dois buracos negros
colidem, ocorre um evento extremamente poderoso, com enorme produção de energia
— algo que tem similaridade com o “big bang”, que deu origem ao universo, há
mais de 13 bilhões de anos.
Conforme
Janna Levin, interpretando a proposição de Einstein, “essa profusão de energia
emana de buracos que se coalescem numa forma puramente gravitacional, como
ondas na forma de espaço-tempo, como ondas gravitacionais.”
— Elas são parecidas com as ondas do mar?
— Não. A
única semelhança é que ambas fazem algum ruído. No final da década de 1960, os gênios
Rai Weiss, Kip Thorne, Ron Drever e outros cientistas — com os respectivos meios do Instituto
de Tecnologia de Massachussets (MIT) e do Instituto de Tecnologia da California
(CALTECH), nos Estados Unidos — iniciaram o processo de obtenção de máquinas que fossem
capazes de “ouvir” as ondas gravitacionais. Eles queriam comprovar o que
Einstein formulara no início do século. E assim, surgiram os pioneiros
Observatórios de Ondas Gravitacionais por Interferometria a Laser (LIGO - Laser Interferometer Gravitacional Observatory) — o
LIGO Hanford Observatory (LHO), no estado de Washington, sede do Hanford Site,
localização dos primeiros reatores nucleares do mundo, que produziam plutônio
para a bomba atômica que foi lançada em Nagazaki, em 1945; e o LIGO Livingston
Observatory (LLO).
Em cerca
de cinquenta anos, os pioneiros Weiss, Thorne e Drever motivaram cerca de 1000
cientistas e engenheiros de vários países do mundo para trabalhar no
empreendimento. E assim, surgiram laboratórios menos poderosos: VIRGO, uma
colaboração italiana e francesa; GEO, na Alemanha; TAMA e KAGRA, no Japão; e o
LIGO-IN, na Índia.
— Não tem algum no Brasil?
— Não,
aqui só tem Operação Lava Jato.
— Que tal se a gente produzir um buraco negro para jogar os corruptos da Lava Jato?
— Não, não
podemos fazer isso. Tinha que ser tão grande que iria sugar muita gente
inocente; e além disso, o pessoal politicamente correto iria reclamar da
denominação buraco negro.
Mas
preste a atenção. Durante mais de quatro décadas, com pertinácia, suor e
genialidade, os cientistas conseguiram um extraordinário progresso. Então, em
2015 — com divulgação em 2016, no centenário da formulação da teoria de
Einstein —, os interferômetros LIGO de Hanford e de Livingston conseguiram gravar
as ondas gravitacionais da fusão de dois buracos negros de aproximadamente
trinta massas solares e que foi considerado o mais poderoso evento já detectado
desde o “big bang”. A energia das invisíveis ondas gravitacionais equivalem a
100 bilhões de trilhões de vezes a luminosidade do Sol. A gravação da música do
universo tem sido considerada uma das maiores descobertas científicas dos
últimos cem anos.
— Sim, mas que história é essa do fim do mundo?
— Com certeza,
vai acontecer. Daqui a um “googolplex” de anos, o mundo vai se transformar em
um único buraco negro.
— E quanto tempo é um “googolplex”?
— É um
número que equivale a dez elevado a um “googol”, que por sua vez equivale a 10
elevado a 100. Então, um “googolplex” é um número com mais de 102 algarismos.
Vale
dizer, um “googolplex” de anos é um tempo muito maior do que vários trilhões de
trilhões de trilhões de trilhão de anos.
— Sabe de uma coisa: estou começando a ficar preocupada.
— Por que?
— E o que a gente vai fazer com os pen drives, os DVDs, os livros e o conhecimento acumulado com tanto sacrifício ao longo da História?
— Sabe que eu não tinha pensado nisso...
— Você não acha que uma saída é começar tudo de novo — um novo “big bang”, uma nova evolução do mundo, até chegar o outro fim do mundo; e assim por diante?
— É
possível, mas aí apareceriam dois problemas!
— Quais?
— O
primeiro: esperar a evolução de 13 bilhões de anos, após o novo “big bang”. E o
segundo: ter que aguentar uma nova Lava Jato. Além disso, o fim do mundo só
ocorreria depois de um outro “googolplex” de anos.
— Realmente, você tem razão. Essa rotina seria muito entediante ...
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[*] Janna Levin. A Música do Universo: ondas gravitacionais e a maior descoberta científica dos
últimos cem anos. Editora Companhia das Letras, 2016.
[**] Um "googolplex" é 10 elevado a 100.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.
000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000
(um número com 103 algarismos).
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