sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O fim trágico do vovô José Francisco

Hoje, tive uma longa conversa telefônica com Júlia, minha prima que mora em São Paulo. Ela é filha de tio Branquinho e tia Marinha — esta, irmã de papai. Júlia é irmã de Fernando, Railton, Cosmilton e Cosmélia. Ela tem 6 netos. É educada, gentil, articulada e como toda baiana da família se comunica bem, tem prosa plena de imaginação, varrendo da família à política, passando por tantas curiosidades quantas imagináveis.
O WhatsApp, essa maravilha tecnológica, permitiu que taramelássemos muito — quer dizer, ela falou muito  [1] — especialmente, do vovô José Francisco, esposo da vovó Júlia  [2]. Ele era funcionário público estadual da cidade de Jequié-BA, e atuava como delegado coletor de impostos da produção rural. Além dos filhos consanguíneos [3] [4],  José Francisco e Júlia tinham um filho de criação adulto, chamado Aniceto. José Francisco deu-lhe um sítio para que ele cultivasse a terra. No início de 1921, o delegado dirigiu-se para a região rural com o objetivo de realizar a coleta tributária habitual. Na volta, Aniceto o esperava e dirigiu-se a ele, asseverando que pagaria o débito atinente aos impostos de sua pequena propriedade e entregando-lhe a quantia devida. Nesse momento, surpreendentemente, Aniceto sacou uma arma e atirou em José Francisco e depois saiu em disparada. O tiro pegou no braço, mas como a munição estava envenenada, a vítima faleceu umas duas horas depois. A morte dramática resultou de crime de encomenda, sendo o executor alguém sobre quem jamais recairia suspeita. O mandante não foi identificado, mas a hipótese mais provável dava conta tratar-se de alguém insatisfeito com o trabalho de cobrança de impostos que José Francisco realizava.
Naquele tempo, nas plagas do interior baiano-nordestino, havia a superstição de que se o morto fosse sepultado de bruço, o assassino não conseguiria fugir. Passada uma semana do evento fatal, amigos de José Francisco encontraram o algoz abrindo a cova da vítima. Aniceto foi preso, pediu água e recebeu uma caneca de água envenenada. Deixou este mundo da mesma forma trágica que ocasionou a covarde partida de seu mentor de criação.
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[1] Expresso a Júlia o agradecimento, atribuindo-lhe o crédito pela manutenção da memória de nossa saudosa família. E também a certeza de que é oportuno  reproduzir o relato que ela propiciou, para que todos da família possam ter conhecimento do que ocorreu com vovô José Francisco.

[2] Segundo Júlia, sua mãe Marinha deixou um caderno de anotações onde consta a data de nascimento de nossos avós (avós paternos deste escriba):
– José Francisco Souto – 18/11/1887;
– Júlia Barbosa Souto   – 12/04/1885.

[3] Em 1921, dentre os filhos de José Francisco e Júlia, Liberalino tinha 12 anos, Floripes 10 anos, Oscar 7 anos, Jonias 5 anos, Jesulino 4 anos, Marinha 2 anos e Aléssio 8 meses. 

[4] Floripes casou com 15 anos e faleceu no parto do 5º. filho, com 20 anos.


José Francisco Souto                            Júlia Barbosa Souto
                                 (Em pé)



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