"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado". Homenagem a Oscar Barboza Souto, antigo lavrador, garimpeiro e comerciante. In Memoriam. |
No início de 2020 foi anunciado o lançamento do filme “Radiaoctive”, sobre a cientista Marie Curie. A previsão de lançamento para o fim do primeiro semestre não se concretizou por causa da pandemia do coronavírus.
Finalmente, neste mês, o filme foi colocado à disposição dos assinantes pela Netflix. Ontem, assisti ao esperado filme na TV.
Fiquei com a impressão de que a diretora da obra cinematográfica se propôs a apresentar a trajetória da cientista, sob o prisma de duas considerações adicionais: dar ênfase aos dramas enfrentados pela senhora Curie; e fazer a apologia da necessidade de empoderamento da mulher para que ela vença os desafios da histórica desigualdade em relação ao homem.
Citaria alguns fatos, dentre vários outros do filme, que me levaram a essa percepção:
– a insistência nas dificuldades de Curie supostamente por ser mulher — a rigor, as dificuldades existiram, mas a notável senhora era tão superior que tornou-as menores e jamais permitiu que a impedissem de rumar para a glória;
– a forma um tanto demeritória como foi tratada a premiação de Curie, com o prêmio Nobel de Física, o primeiro a ser ganho por uma mulher;
– a omissão da maioria das viagens de Curie à Polônia, aos Estados Unidos e até mesmo ao Brasil; e
– a omissão ao fato de que a família Curie (e que família! ...) é detentora de seis prêmios Nobel, dois da própria Marie Curie; um de seu marido, Pierre Curie, em parceria com a esposa; um de sua filha Irène Curie; um de seu genro, Frédéric Joliot-Curie, em parceria com Irène; e um do outro genro, Henry Richardson Labouisse Jr, casado com Ève Curie, a outra filha.
Enfim, em “Radioactive”, assistimos a aspectos relevantes da trajetória de Curie, permeados por uma enfatizada sequência de dramas. A grandiosa Marie Curie — seguramente a Einstein feminina da Ciência — merecia uma obra cinematográfica grandiosa. Para ser enfaticamente redundante, eu preferiria uma epopeia épica sobre uma das mais bravas e brilhantes mulheres, dentre as bravas e brilhantes da História.
Esse juízo de valor não é absurdo uma vez que a diretora do filme, Marjane Satrapi, é iraniana — oriunda de uma família com envolvimento no socialismo e comunismo, antes da revolução islâmica — e foi submetida ao autoritarismo de seu país, impactante na população em geral, mas sobretudo opressor das mulheres, que afora os preconceitos históricos atinentes a costumes daquela sociedade, tem preceitos constitucionais que, de forma inequívoca, colocam a mulher, de forma institucional, em posição inferior.
Feitas essas restrições — e apesar delas — aos apreciadores da sétima arte que puderem, recomendo que assistam ao filme. Até uma obra controversa não tira o mérito, a excelência e a grandeza de quem se dispôs a participar, na área de Saúde, da Primeira Guerra Mundial, empregando os pioneiros e perigosos equipamentos de Raio-X para salvar guerreiros e, nesse contexto, ofereceu a própria vida — inicialmente, arriscada nas pesquisas que a levaram à descoberta da radioatividade — para melhorar o mundo das futuras gerações.
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