"O lavrador perspicaz conhece o caminha do arado". Homenagem a Oscar Barboza Souto, antigo lavrador. In Memoriam. |
O QUE ALÉSSIO VÊ
Poema de Carlos Drummond de Andrade
(com adaptações de Aléssio Ribeiro Souto, resultantes de brincadeiras indevidas)
A voz lhe disse (uma secreta voz):
— Vai, Aléssio, ver.
Vê e reflete o visto, e todos captem
por teu olhar o sentimento das formas
que é o sentimento primeiro — e último — da vida.
E Aléssio vai e vê
o natural das coisas e das gentes,
o dia, em sua novidade não sabida,
a inaugurar-se todas as manhãs,
o cão, o parque, o traço da passagem
de pessoas na rua, o idílio
jamais extinto sob as ideologias, a graça umbilical do nu feminino,
conversas de café, imagens
de que a vida flui como o Sena ou o Aquidauana
para depositar-se numa folha
sobre a pedra do Rochedo
ou para sorrir nas telas clássicas de museu
que se sabem contempladas
pela tímida (ou arrogante) desinformação das visitas,
ou ainda para dispersar-se e concentrar-se
no jogo eterno das crianças.
Aí, as crianças... Para elas,
há um mirante iluminado no olhar de Aléssio
e sua objetiva.
(Mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos [de Aléssio])
Tudo se resume numa fonte
e nas três menininhas peladas que a completam,
soberba, risonha, puríssima foto-escultura de Aléssio,
hino matinal à criação
e à continuação do mundo em esperança.
[Carlos Drummond de Andrade fez a apologia do Aléssio seu e antecipou alguma coisa do outro Aléssio]
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