No magnífico artigo “Contra a aventura autoritária” (Estadão, A2, de 3 de junho), o intelectual doutor Sérgio Fausto apresenta uma série de ideias brilhantes. Esse brilhantismo decorre da afiliação do articulista ao PSDB e à condução da Fundação FHC, que como é de conhecimento público, foi reproduzida por outro ex-presidente, com a denominação Instituto Lula — coincidência curiosa mas não despropositada, pelas semelhanças que sugerem.
A primeira ideia concebida pelo doutor Fausto pode ser sintetizada na asserção de que “o movimento [de 1964] que pôs fim ao período democrático iniciado em 1945 não foi uma revolução, como querem seus adeptos.” Contradito o doutor, asseverando que o movimento de 1964 não se destinou a por fim à democracia. A rigor, pôs fim à revolução que estava em vias de se concretizar, pela vontade de personagens como Marighela, Lamarca, Roussef, Genoíno, Dirceu e Jango Goulart. Nesse sentido, a melhor denominação é Contrarrevolução de 1964. Imagino que o doutor Fausto não deva ser um dos defensores do Foro de São Paulo — uma teimosa e fanática tentativa de reproduzir esse passado que não deu certo. Um intelectual com sua estirpe não vai se propor a isso. Ou vai?
Segue o sábio com as ideias peessedebistas. O PSDB é constituído de magos que produzem ideias em profusão. Ele diz que “hoje parte da direita aposta na candidatura de Jair Bolsonaro. Corre o risco, se vitoriosa, de perder a liberdade sem obter a ordem.” O Bolsonaro pode não ter sucesso na correção da anomia que o PSDB e o PT causaram ao Brasil. Isso é empreendimento para décadas. Mas perder a liberdade? Ora, ora, doutor Fausto, não se espera de um sábio de seu quilate a profecia da inverdade.
Depois de algumas diatribes, com ataques a Bolsonaro no nível de briga de rua, o doutor Fausto compara o pré-candidato com Castelo Branco. A comparação é destituída de senso lógico, de amparo na razão. Senão vejamos. Castelo Branco que porfiou, na Itália, nos combates e nas vitórias contra o nazismo, o primo siamês do comunismo, deve ser comparado a heróis de guerra; e deve ser comparado também a gente da estirpe de Caxias, Rio Branco e Rui Barbosa. O doutor Fausto deveria comparar Bolsonaro com Lula, José Dirceu, Vacari, Eduardo Cunha, Gedel, Henrique Alves, Azevedo, Aécio. Ah é! Não pode porque estão todos presos ou em vias de? Sim, com eles mesmos, os que o PSDB e suas ideias empurraram goela abaixo dos brasileiros. Sim é a herança construída pelo político que dá nome para sua Fundação, senhor professor doutor Fausto. É a herança construída por suas ideias.
O doutor Fausto assevera ainda que “o restabelecimento da autoridade política no Brasil é fundamental”. Sim, consigo encontrar uma ideia com que concordo. Aí ele tem razão. Afinal os desmandos provocados pelo PSDB e PT, são muito bem conhecidos do doutor Fausto, até porque em termos de concepção, é provável que ele tenha alguma parcela de responsabilidade.
O doutor Fausto apenas começou a aprumar, mas logo, logo derrapou. Vejam que pérola: “A Lava Jato vem corrigindo esse desequilíbrio, mas com um efeito colateral negativo: a disseminação de visões radicalmente depreciativas sobre o Brasil e sobre a política.” A culpa é da Operação Lava Jato doutor? O tratamento de câncer é doloroso e tem efeitos colaterais; mas a culpa destes é do sistema de saúde, do médico? Confirma a tese subliminar: o povo do PSDB tem muitas ideias, mas a maioria é de um primarismo elementar; vulgar, eu diria. Não há nenhuma visão depreciativa do Brasil nem da política. A visão depreciativa é sobre o seu time, sua equipe, seus falsos sábios, seus políticos do local onde se armazenam os seres esvoaçantes.
Mas ‘la nave va’, e eu navego, diria o doutor Fausto. Pois ele aduz que “mexer nos termos da equação de que depende a legitimidade da autoridade pública democrática exigirá muito engenho e arte, pois as condições não são favoráveis”. Não foi necessário muito engenho e arte por ocasião da aprovação da emenda da reeleição, pois àquela época as condições eram favoráveis? Foi possível prescindir de engenho e arte para semear o embrião do Mensalão e do Petrolão, não é doutor Fausto?
Eu acho que já dá para ir para o final do texto emblemático do doutor Fausto. E no parágrafo conclusivo, ele preconiza que “Não temos outro país para chamar de nosso. Chegou o momento de construir um pacto pela ordem democrática para conter o risco da aventura autoritária”. Com a sapiência da roça de onde venho, eu assevero: não temos outro Brasil e não é necessário, pois este é grande, rico, estimulante e desafiador; mas temos outros políticos, além daqueles do PSDB, PMDB e PT que nos jogaram no colo o maior escândalo de corrupção da humanidade e que, graças à Operação Lava Jato — e cito isso apenas para mostrar o pau que matou a cobra —, a maior densidade de políticos com altas responsabilidades já foi colocada na cadeia. E com prosseguimento do apoio ao combate à corrupção colocará na mesma situação os demais amigos e correligionários do doutor Fausto que ainda estão a ameaçar e representar horrendo risco para a sociedade brasileira que aspira decência, justiça e prevalência da Verdade e da Liberdade.
Por último e sublimemente veraz, o doutor Fausto bem conhece as concepções de Goethe e não tem dúvidas de que o Fausto por ele concebido refletiu sobre as limitações do conhecimento científico, humanista e religioso; e sabe que, não foi por magia, que sua criação chegou ao conhecimento ilimitado, derrotou Mefistófeles e chegou ao céu.
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