quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Clostermann e Saint-Exupéry


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Antoine de Saint-Exupéry morreu em 1944, no Mediterrâneo, pilotando uma aeronave P-38, da Força Aérea Francesa Livre. Essa força foi organizada e liderada por De Gaulle, em 1940, no início da Segunda Guerra Mundial, em face da rendição dos franceses aos alemães. O governo tutelado pelos germânicos foi liderado pelo Marechal Pétain, em Vichy, o que lhe causou, ao final da guerra, a condenação à pena de morte por traição.

Pierre Clostermann [*] nasceu no Brasil,  fez pilotagem no Aeroclube do Rio de Janeiro aos 16 anos e se tornou, aos vinte e quatro anos, o maior herói daquela Força Aérea na Segunda Guerra Mundial.  No livro Le Grande Cirque 2000, faz uma severa crítica a Saint-Exupéry. A referência a Saint-Exupéry está na introdução do livro citado e, numa tradução livre e meio irresponsável, é a seguinte:


 “Em uma carta a André Gide, Saint-Exupéry dá uma triste e depreciativa definição de coragem: ‘Um pouco de raiva, um pouco de vaidade, um prazer esportivo vulgar ...’. Eu quero muito concordar com a raiva porque eu a conheço, mas a vaidade? Terá sido por vaidade que Saint-Exupéry tentou compartilhar nossa luta pilotando um P-38 com três anos de atraso e depois de, porta-voz inconsciente do Governo de Vichy, ter explicado aos Estados Unidos que a França deveria se redimir e a Roosevelt que De Gaulle seria um segundo Hitler! Prazer esportivo vulgar? Então prossigamos! Prazer esportivo vulgar, quando há na extrema trajetória do medo, a morte e a nobreza de um sacrifício livremente praticado? Prazer esportivo vulgar para os pilotos argentinos nas Malvinas, caindo a 600 nós no meio da frota inglesa? Prazer esportivo vulgar? O que significam essas palavras para os pilotos camicases japoneses de vinte anos que viviam sua noite de jardim das oliveiras sabendo que o sol que se pôs no horizonte iluminara seu último dia? Palavras da parte de um excepcional escritor, ou auto-justificação?  Que viva a eternidade em paz, ele pagou o preço devido.”


         Saint-Exupéry adquiriu fama mundial com seus livros, dentre os quais o mais célebre é O pequeno príncipe. Por outro lado, conquanto herói francês, Clostermann é pouco conhecido, mas a versão que apresenta em seu livro dá o que pensar.  Afinal, trata-se de escritor de 11 livros, empresário bem sucedido e deputado da Assembleia Nacional, tendo sido reeleito sete vezes.  
a          Por oportuno, é imperioso indagar se a produção intelectual — científica, artística, literária, como por exemplo a do Saint-Exupéry — está desgarrada da conduta ética? Vale a expressão: “odeio esse caboclo, mas adoro sua obra!”, como asseverara Godard, em referência ao apoio de John Wayne aos republicanos americanos e ao magistral desempenho do ator no filme Rastros de ódio?

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