SUMÁRIO
_________________Apresentação
24 de junho (domingo) – Paris-Londres; e Sussex Garden Rd, Edgware Rd e Oxford St
25 de junho (segunda) – Passeio de ônibus e barco, e Fantasma da Ópera
26 de junho (terça) – Palácio de Buckingham e Museu Britânico
27 de junho (quarta) – Torre de Londres, City e catedral de Saint Paul
28 de junho (quinta) – Abadia de Westminster, Parlamento Sq, Whitehall e National Gallery
29 de junho (sexta) – TGV Londres-Paris e viagem aérea Paris-São Paulo
30 de junho (sábado) – Viagem aérea Paris-São Paulo e São Paulo Brasília
24 a 30 de junho – Consolidação do Relato da viagem Paris-Londres
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Apresentação
Da mesma forma que no relato da viagem a Paris, inicialmente foram apresentados a data e os títulos dos eventos principais que nós vivenciamos em Londres, na continuidade da viagem que fizemos com nossas queridas filhas Cecília, Laura e Alessandra, com o objetivo primacial de celebrar os 15 anos que elas estão completando. Em seguida, seguiu-se esta apresentação e seguem-se os relatos dos 7 dias passados em Londres.
24 de junho (domingo) – Viagem de trem TGV e passeio na Sussex Garden Rd, Edgware Rd e Oxford St
A epopeia francesa chegou ao fim. A última jornada na Cidade Luz começou com o café da manhã no hotel Lepic, que ficará em nossas lembranças, mas especialmente nas mentes das meninas. Fomos de táxi para a Gare du Nord para embarcar no TGV (Train de Grand Vitesse – Trem de Grande Velocidade – ou Trem-Bala) para Londres.
As filas estavam imensas e havia uma certa confusão para identificar o local de acesso dos passageiros do nosso horário. O melhor foi ficar perto de onde havia funcionários orientando o checkin, a passagem pelo túnel de inspeção de bagagem e a verificação de passaportes. Prevaleceu a técnica ancestral: sorrir e declarar "Good morning! Please, may you help me?". Deu para perceber que esperaríamos um bom tempo. Até que chegou um momento crucial. Teríamos que evacuar o andar onde estávamos. Havia a suspeita em relação a uma bagagem abandonada. O procedimento padrão é afastar os passageiros para outro andar e aguardar a polícia especializada. Ficamos sabendo que, em realidade, há muitos abandonos de bagagem; há esquecidos para todos os gostos. Porém, com a frequência de atentados terroristas dos novos tempos, nunca se sabe se aquela mala ou aquele pacote é apenas mais um esquecimento ou tentativa de ação de alguma mente insana.
Depois de mais de duas horas de espera, até certo ponto angustiante, houve a liberação para o recomeço do embarque. Enfim, vimo-nos viajando a quase trezentos quilômetros por hora na belíssima paisagem francesa, que medeia Paris e Coquelles. Impressiona sobretudo a organização e a uniformidade da ocupação do solo que margeia a ferrovia, com a indicação de intensa produção agrícola. Vimos muitas pequenas cidades francesas, com arquitetura e implantação urbana exemplares. Tentei identificar alguma casa incompleta, sem reboco, sem pintura ou com deficiência no telhado. Fui alternando entre a surpresa e a admiração: as cidadezinhas francesas são bem construídas, sem partes inacabadas e belíssimas.
E assim, chegamos à região administrativa de Pas-de-Calais onde se inicia o eurotúnel, sob o canal da Mancha, no chamado estreito de Dover, o percurso mais estreito do canal (50 Km de extensão). O eurotúnel liga Coquelles, perto da cidade de Calais, na França, a Folkstone, perto de Dover, no Reino Unido. Calais está situada a oeste de Dunquerque (cerca de 45 km de distância) e a nordeste da Normandia (cerca de 200 km, tendo como referência o ponto médio da Alta Normandia).
Nesse momento, a memória desembestou, turbilhonou. Neste ano assistimos ao filme Churchill, que mostra o processo decisório do governo britânico para entrar na Segunda Guerra Mundial, em que a França e a Inglaterra estiveram na cratera do vulcão; e que, de certa forma, é um período emblemático e edificante das lutas pela verdade, liberdade, coragem, ética e, por via de consequência, da democracia — a recorrência desta frase em meus textos, nesta conjuntura, em que prevalece a tentativa de alterar os rumos políticos e sociais do Brasil, incomoda mas dignifica e enobrece. Assistimos também ao filme Dunquerque, onde mais de 300.000 soldados do Exército do Reino Unido, fazendo o percurso Calais a Dover, foram salvos de serem massacrados pelos nazistas, provavelmente, na mais dramática operação de retirada da história da guerra, em todos os tempos. Além disso, as meninas estudaram recentemente as duas grandes guerras do século passado. Então, enquanto almoçávamos sanduíche com vinho branco e aproximávamos do eurotúnel, conversamos sobre a invasão da Normandia, a Operação Overlord, ocorrida no dia 6 de junho de 1944, imortalizada no filme O Mais Longo dos Dias (The Longest Day) e que pretendo assistir com elas brevemente. Recordamos as praias em que ocorreram a Operação Netuno (codinome apenas do desembarque anfíbio): Juno, Gold, Sword, Omaha e Utah -- cerca de 160.000 pessoas, 1.200 aviões e mais de 5.000 embarcações participaram das atividades navais, aéreas e terrestres ao longo daquele dia. A invasão foi iniciada com uma aterragem de assalto aéreo de 24.000 britânicos, americanos, canadenses e tropas livres francesas, aí incluídos os eternos heróis paraquedistas. No aniversário de 50 anos do Dia D, eu estava em Paris e as celebrações foram arrepiantes: as ruas da cidade, normalmente coloridas pelas flores nas edificações foram abarrotadas de mais flores e bandeiras; a música e a alegria humanizaram a beleza; o ambiente da Cidade Luz iluminou-se de forma inexcedível; e a História como que reverberava em cada esquina, em cada trajeto e sobretudo em cada face de criança ou adulto. Quando voltei para o Brasil, soube que naquela celebração, foi realizado um salto de paraquedas épico pelos veteranos de guerra, no mesmo local em que eles tinham saltado 50 anos atrás. Inicialmente, não acreditei em um fato que depois constatei ser verdadeiro: o ex-presidente Bush, pai, com mais de 70 anos, saltou com os veteranos — juízo de valor é desnecessário; basta refletir!
Por oportuno, convém esclarecer que a França está dividida em 26 regiões administrativas, mutatismutandis, equivalentes aos estados brasileiros (sendo 21 continentais, uma marítima e 4 ultramarinas, entre as quais se inclui a Guiana Francesa, que fica aqui tão perto do Amapá e tão longe de nós). Calais e Dunquerque ficam na região administrativa de Nord Pas-de-Calais e as praias da invasão da França na Segunda Guerra Mundial ficam na região administrativa da Alta-Normandia que é adjacente à quase homônima Baixa-Normandia.
Depois de 2 horas e meia, tínhamos percorrido os 342 quilômetros que separam Paris de Londres, no percurso do trem de alta velocidade. Sem considerar o incidente da ameaça de bomba, o tempo total gasto na viagem foi 4 horas e 50 minutos, sendo 30min de deslocamento do hotel Lepic para a Gare du Nord, 40min na Alfândega em Paris, 2h 30min de viagem, 30min na Alfândega de Londres, 40min de deslocamento da estação de St Pancras para o hotel Aspen.
Há uma estatística curiosa, para a viagem Paris-Londres:
– de carro, a viagem é feita em 5 horas e 40 minutos;
– de bicicleta, em 20 horas; e
– a pé, em 57 horas.
– de avião, o tempo total despendido seria 5 horas e meia — com as seguintes períodos: 40min de transferência do centro de Paris para o aeroporto, 1h de antecedência para o checkin, 1h 30min na Alfândega, 40min de viagem, 40min para aguardar e retirar a bagagem e 40min de transferência para o destino em Londres.
– de carro, a viagem é feita em 5 horas e 40 minutos;
– de bicicleta, em 20 horas; e
– a pé, em 57 horas.
– de avião, o tempo total despendido seria 5 horas e meia — com as seguintes períodos: 40min de transferência do centro de Paris para o aeroporto, 1h de antecedência para o checkin, 1h 30min na Alfândega, 40min de viagem, 40min para aguardar e retirar a bagagem e 40min de transferência para o destino em Londres.
Com um atraso de um pouco mais de duas horas, chegamos à estação St Pancras International, em Londres, por volta de 17:00 horas. A estação muito bonita e uma tarde de verão londrino agradável nos proporcionaram as boas-vindas. St Pancras International é contígua à estação do metrô londrino King's Cross St Pancras. Após um estudo de situação, verificamos que a Circle Line, linha amarela do metrô que parte de St Pancras, chega em Paddington, região e respectiva estação, bem próximo do hotel Aspen, que tínhamos contratado em janeiro, portanto com 6 meses de antecedência. A região de Paddington é adjacente ao lado norte do Hyde Park, o que lhe confere uma boa localização na metrópole londrina. Ato contínuo, cada um puxando sua própria mala, tomamos o confortável trem do metrô, estreando — à semelhança de Paris — o meio de transporte essencial para quem não se dispõe a ampliar de forma não razoável as despesas, utilizando táxi.
Saímos da estação de Paddington do lado oposto ao desejado. Como a rodinha da mala deste idoso, a mais pesada com 25 kg, quebrou em algum ponto da viagem, tomamos um táxi para ir para o hotel. Em menos de 6 minutos, demos a volta desnecessária em substituição aos 400 metros que era a distância da outra saída para o hotel.
A localização e os aspectos internos e externos do hotel são muito bons. Em realidade, como essa região tem dezenas de hotéis contíguos, a concorrência contribui para a elevação da qualidade. A escolha desse hotel se deveu a minha passagem por Londres em 2009, para visitar a maior exposição de material bélico britânica. Fiquei em um hotel próximo, entrei neste e apanhei o folheto que motivou sua escolha passados 9 anos. Valeu a pena!
Depois da desarrumação das malas, do descanso e do banho, saímos para primeira caminhada londrina. Percorremos a Sussex Gardens Road, onde confirmamos a existência de uma grande quantidade de hotéis, a começar do nosso. Depois de uns cinco quarteirões, viramos à direita, na Edgware Road, com a predominância de comércio e trânsito de gente islâmica, o que não foi exatamente do agrado das meninas, pelo aspecto das pessoas, especialmente, das mulheres, usando o hijabe só mostrando a face e as mãos; bem como da frequência de pessoas fumando narguilé nos bares e restaurantes. Ingressamos na Oxford Street e passamos pelo Marble Arch. Nessa rua, famosa pelo comércio e por ser contígua ao Hyde Park e próxima ao Green Park, aquela sensação de insegurança da região com grande presença islâmica, ... digamos, evanesceu. O Hyde Park abriga o Kensington Palace, atual residência do príncipe Harry, herdeiro do trono britânico; que foi residência do príncipe Charles e princesa Diana, antes de se separarem; e onde em 1837 a princesa Victoria de Kent foi acordada às 5 horas da manhã com a notícia de que seu tio William IV tinha falecido e ela era agora rainha — marcando o início de seu reinado de 63 anos e 216 dias; e o Green Park abriga o Buckingham Palace, residência oficial da rainha Elizabeth II, que em 2017, superou o tempo de reinado de sua tataravó Victoria.
Navegáramos quase em excesso e aí numa das transversais da Oxford St vislumbramos o restaurante Ask Italian, que oferecia o que já se tornara imprescindível: repouso e alimento. A comida italiana foi uma boa escolha para a primeira noite em solo londrino; algumas escolhas subsequentes de restaurante foram condicionadas por esse primeiro acerto.
Ao consultar o mapa percebemos que tínhamos caminhado muito, mas o encanto do mundo de Sua Majestade compensava o esforço. Falo pelas meninas, mas também por mim e Isabel. O retorno de táxi foi inevitável. A boa surpresa resultou da conversa com o motorista Sayed, paquistanês. No mês passado, ele estivera no Brasil visitando amigos. Ao identificar brasileiros, ele demonstrou enorme alegria e manifestou inequívoco entusiasmo por nosso maltratado País.
Chegando ao apartamento, ao perceber que precisava de água, desci e na rua perpendicular à Sussex Garden, encontrei vários restaurantes e cafés a 3 minutos de onde estávamos. Havia até mesmo o "Desejos do Brasil", especializado em carnes. Parece que a crise tupiniquim tinha chegado a Londres — foi decepcionante descobrir nos dias seguintes que apesar da placa, suas atividades estavam encerradas.
25 de junho (segunda-feira) – Passeio de ônibus e barco; e teatro Fantasma da Ópera
Ter uma visão panorâmica de Londres era desejável por nossas queridas adolescentes que — na assunção de sua própria identidade — optaram por celebrar a passagem para os 15 anos em duas mais importantes cidades históricas da bola redonda que Galileu teimosamente negou-se a aceitar que fosse plana. Então, o passeio de ônibus foi a decisão consentânea com o momento que se queria inesquecível. Adquirimos os bilhetes na recepção do hotel e pegamos o inefável ônibus na London St, a rua de cafés e restaurantes, entre o hotel Aspen e estação de Paddington. Fizemos o percurso Sussex Garden Rd, Edgware Rd e passamos pelo Marble Arch, que foi projetado no século XIX para ser a entrada principal do Palácio de Buckingham, mas por ser pequeno para essa destinação foi implantado na Oxford St, num dos acessos ao Hyde Park. Infletimos para o norte pela Gloucester Place, cruzamos a Baker St, onde vimos a indicação do Museu Sherlock Holmes, viramos à direita, na Marylebone Rd, one vimos o Museu Madame Tussaut's e sua cúpula arredondada na forma de meia esfera.
Como estava muito calor, preferimos descer do ônibus e caminhar na Haymarket St. Passamos em frente ao Theatre Royal Haymarket e sua fachada similar ao Partenon, tão comum, e ao mesmo tempo projetando a ilusão de tão inédita. Do lado oposto da rua, nos fixamos no Her Majesty Theater, que estava apresentando The Phantom of the Opera. Não hesitamos e compramos ingresso para o dia seguinte. Laura e Isabel preferiram não ver o fantasma.
Continuando, chegamos ao cruzamento da Haymarket St, com a Cocspur St e com a Pall Mall St. No início da Cocspur St, vimos a bandeira do Brasil na fachada de um prédio. Trata-se da Embaixada do Brasil. Afora as fotos externas, deixei as meninas admirando o belo conjunto na pracinha que fica na interseção das duas ruas e entrei no prédio. A receptividade não foi boa, embora meu pedido não tenha sido razoável: queria fotografar as obras de arte da recepção — tudo bem, as questões de segurança devem prevalecer, mas a elegância também.
A cerca de 200 metros, ao longo da Pall Mall St, estava a Trafalgar Square. Apressamos o passo, chegamos e nos dedicamos a fotografar e apreciar um local simplesmente extraordinário, onde os destaques são:
– Trafalgar Square, ela própria, no centro, com as belíssimas fontes, que Isabel insistiu tanto em curtir;
– estátua do homem-animal alado (motivo possivelmente iraniano);
– estátua do General James Napier;
– museu National Gallery, ao norte, com suas maravilhosas obras de artes plásticas;
– igreja St Martin-in-the-Fields, a nordeste, com antiga tradição social (apoio aos desvalidos) e musical (abriga concertos musicais, desde o fim da Segunda Guerra Mundial);
– coluna do Almirante Lorde Nelson e sua guarda de 4 enormes leões metálicos, ao sul, com a estátua do Almirante no topo de seus imponentes 50 metros de altura — erigida para celebrar a morte heróica de Nelson, na batalha de Trafalgar, em 1805, contra Napoleão;
– Admiralty Arch, a sudoeste;
– embaixada do Canadá, no lado oeste; e
– embaixada da África do Sul, no lado leste.
Essa manhã épica continuaria outro dia com a visita ao imperdível Museu National Gallery. Chegou a hora do almoço e a escolha foi a turística lanchonete Pret a Manger. Para uma refeição rápida, se melhorasse um pouco, teria sido uma escolha satisfatória.
Retomamos o ônibus, que seguiu pela Whitehall, passando pela Downing Street 10, residência do Chefe de Governo — atualmente a Primeira Ministra Theresa May —, Praça do Parlamento, onde se vê a estátua do Churchill, a Abadia de Westminster, as Casas do Parlamento e o magnífico Big Ben, que está todo coberto, em processo de restauração, com previsão de conclusão em 2 anos. Em seguida atravessamos o rio Tâmisa, por intermédio da Ponte de Westminster, de onde se tem imagens belíssimas de Londres, tanto a jusante quanto a montante, isto é, a sudoeste revemos o Parlamento e a Abadia de Westminster; ao norte chamam a atenção a Roda do Milênio (Millenium Wheel ou como é mais conhecida, London Eye), que é uma roda-gigante de observação inaugurada no réveillon de 2000. Era a maior do mundo, mas em 2006 foi ultrapassada pela Estrela de Nanchang (160 m), na cidade homônima na China; e depois pela High Roller (167 m), localizada em Las Vegas, USA.
O passeio prosseguiu e depois de uns 10 minutos, passamos entre a Hayward Gallery e o Royal National Theater e voltamos a cruzar o rio Tâmisa, pela ponte de Waterloo. O percurso seguiu paralelo ao rio e depois de passarmos pela St Paul's Cathedral, ingressamos na Queen Victoria St, e assim nos vimos na City of London, o centro financeiro da cidade. Refiro-me com ênfase ao Bank of England e à torre comercial de arquitetura neo futurista, informalmente, conhecida como Gherkin — a rigor, trata-se da 30 St Mary Axe, antes chamada de Swiss Re Building.
Chegou o momento de, pela terceira vez cruzarmos o rio Tâmisa, desta feita pela London Bridge, entre a City e Southwark. A ponte original foi uma das mais famosas do mundo: era a única na cidade a cruzar o rio até que se inaugurou a Westminster Bridge em 1750. A primeira ponte de Londres, construída pelos romanos no ano de 43, era de madeira. Em 1013, o rei Ethelred queimou a ponte para tentar dividir as forças invasoras do rei Sueno I da Dinamarca. A ponte reconstruída foi destruída por uma tormenta em 1091 e novamente destruída pelo fogo em 1136. A ponte foi, em 2006, cantada na música 'hip-hop/rap' London Bridge, pela cantora Fergie, que permaneceu 3 semanas em primeiro lugar no Billboard Hot 100. Vale dizer, essa ponte tem história e ela passou debaixo de nossos pés.
Logo após sair da ponte, passamos ao lado da Southwark Cathedral e em seguida vimos a City Hall, com sua arquitetura não usual, na forma de bulbo vertical, ligeiramente inclinado, com a pretensão de reduzir a superfície e melhorar a eficiência energética. Essa edificação é o quartel-general da prefeitura e da assembleia legislativa de Londres — reunidas na Greater London Authority, que compreende o Mayor of London e a London Assembly.
E agora provavelmente o ponto alto do passeio de ônibus: o último cruzamento do rio Tâmisa, pela London Tower Bridge. Essa ponte se notabilizou por aparecer em destaque em vários filmes; por ser objeto de desejo de vários pilotos que voaram entre suas estruturas paralelas horizontais; e pelo engano do motorista de ônibus que resolveu acelerar, e o veículo deu um salto cinematográfico da báscula móvel para a báscula fixa. Na hora errada, o ônibus que ele dirigia estava na parte horizontal central da ponte (báscula móvel) que se eleva para a passagem de navio. Como nenhum passageiro se feriu ele recebeu um prêmio de 10 libras.
Nas proximidades da London Tower, deixamos o ônibus e fomos para a estação fluvial. No cais da Torre (Tower Pier), começamos o passeio de barco pelo rio Tâmisa, embarcando em uma balsa catamarã de dois andares (Thames Circular Cruise by Catamaran Cruisers). O rio Tâmisa foi a rota utilizada pelos invasores Vinkings nos séculos VIII e IX; foi o nascedouro da Marinha Real britânica durante a dinastia Tudor; e foi a artéria principal da maior parte do comércio do país até o início da década de 1950. O passeio fluvial é interessante pela vista das principais atrações arquitetônicas londrinas, de um outro ângulo e do lago oposto àquele que tínhamos visto de ônibus ou a pé. entres outras, voltamos a admirar: Tower Bridge, London Tower, St Paul’s Cathedral, London Bridge, Southwark Cathedral, HMS Belfast (Her Majesty Ship Belfast, cruzador da Segunda Guerra Mundial, transformado em museu desde 1971), London Aquarium (antiga sede do conselho governamental de Londres e agora transformado em um dos maiores aquários da Europa), London Eye, Westminster Bridge e, por último, Parliament Houses e Big Ben. Deixamos a embarcação no Westminster Pier e tomamos o metrô na estação homônima para retornar ao hotel.
Descansamos um pouco e depois preparamo-nos para ir ao teatro. Isabel e Laura permaneceram no hotel e mais tarde foram “jantar” no McDonald. Cecília e Alessandra se produziram com muito capricho e deixaram este pai alegre e orgulhoso. Claro, para poder acompanhá-las adequadamente não tive dúvidas e enfiei-me em terno e gravata. Fomos de táxi para a rua Haymarket St, entramos no Her Majesty Theater com 15 minutos de antecedência. Um disfarçado lamento brotou em minha cachola: gostaria muito que Laura e Isabel estivessem conosco. Até porque Laura está com o aprendizado da música tema da apresentação, The Phantom of the Opera, no piano, quase concluído. Achava que ela que deveria ir, mas optou por ficar. Em conversas posteriores, ela mencionou a razão: gosta da música, mas não se sente confortável com a história do rapaz que se apaixonou para presentear os amantes da arte com uma história improvável. Fiquei um pouco desapontado pelo fato de que muita gente não estava vestido com o esmero requerido. Tinha algumas pessoas, inclusive idosos, de bermuda. Dentre os que não se importam com a justificativa do verão, em Londres, poucos estavam de terno e gravata. A grandiosidade e beleza do espetáculo fez com que as demais percepções ficassem em segundo plano. Com certeza, as meninas se rejubilaram e se emocionaram várias vezes. Ficou claro o acerto em enfrentar eventual cansaço e, em poucas vezes, algum desconforto, para ultrapassar os 15 e os quase 70 anos, respectivamente, agregando qualidade e emoção, com a ida ao teatro. Dez anos atrás, em uma viagem em serviço à África do Sul e em seguida a Londres, vi essa mesma peça, nesse mesmo teatro. Estava sozinho; curiosamente, sentei ao lado de duas brasileiras jovens. Estar com as duas filhas queridas é simplesmente incomparável e inexcedível. Na primeira vez, mencionei para as duas moças que sonhava ver minhas queridas filhas com a idade delas. De fato, não apenas sonhei, não apenas estava vendo, mas estava vivenciando algo perto da fronteira da beleza do impossível, que tão poeticamente cantou Manuel Bandeira.
Após o término do espetáculo, compramos blusas com motivo do fantasma para Cecília e Laura. Depois, caminhamos pelas imediações. Chegamos até a Royal Academy of Arts. A noite estava bonita e serena. As pessoas estavam alegres se divertiam muito. Tomamos um táxi e fomos para o hotel.
26 de junho (terça-feira) – Passeio no palácio de Buckingham e visita ao museu Britânico
Hoje, Isabel preparou o café da manhã no apartamento. Não é exatamente uma solução confortável, mas tem a requerida vantagem financeira — gasta-se menos da metade.
Depois, tomamos o metrô na estação Paddington e fomos até a estação Victoria. Passamos em frente ao Victoria Palace e do pouco conhecido Little Ben que, se não tem o apelo de seu primo famoso, ao menos é bonito e charmoso.
Passamos pela loja de um paquistanês esperto e compramos, com atraso, duas utilidades essenciais para viagem: um adaptador de tomada padrão inglês — o único que tínhamos era insuficiente — e um carregador portátil de celular.
Caminhamos pela Buckingham Palace Road e chegamos ao Buckingham Palace — uma visão histórica e arquitetônica paradisíaca. Cada aspecto desse conjunto espetacular agrada aos olhos, deslumbra a sensibilidade e entusiasma o pensamento. Ademais, esse palácio é merecidamente ocupado pela nonagenária que aos 20 anos recebera a sugestão de refugiar-se no Canadá para evitar os perigos dos bombardeios na Segunda Guerra Mundial; porém, ela decidiu recusar a oferta, alistou-se no Exército do Reino Unido e contribuiu para que os Aliados derrotassem os nazistas e vencessem a guerra — trata-se da rainha Elizabeth II, respeitada e admirada soberana britânica.
Um pequeno mistério ou uma curiosidade inusitada: vimos várias pessoas vestidas com traje de festa, paramentadas mesmo, saindo do palácio pelo acesso principal — aquele em que os soldados com uniforme vermelho e touca preta fingem que guardam. Ficou a impressão de que houve alguma solenidade com a realeza. Ao chegar no hotel, Alessandra esclareceu. Um integrante do conjunto musical Bee Gees — que nasceu na ilha de Mann e contribuiu com música para a melhoria do orçamento britânico — fora agraciado com o título de Sir. A rainha não brinca em serviço. No passado, ela já tinha agraciado o líder da banda.
Após a visita que encantou especialmente Laura, Cecília e Alessandra, fomos almoçar no restaurante Pronto 'A' Mangia, na Buckingham Palace Road, a uns 400 metros da residência real.
Na caminhada subsequente, passamos em frente ao Rubens Hotel. A fachada do prédio e a entrada do hotel mereceram um conjunto de fotos. Uma placa de bronze despertou a curiosidade; nela lia-se:
"General W. Sikorsky - Prime Minister - Commander in Chief of the Polish Forces in the Second World War - Had his Headquarters in this building from 1940 until his tragic death at Gibraltar in 1943."
“General W. Sikorsky – Primeiro Ministro – Comandante em Chefe das Forças Armadas Polonesas na Segunda Guerra Mundial, teve seu Quartel-General neste edifício de 1940 até sua trágica morte em Gibraltar em 1943”.
Por volta de 15:30 h, dirigimo-nos para o Museu Britânico (British Museum). Fizemos o percurso Estações Vitória, Embankment e Tottenham Court Road. Para o acesso não há pagamento de ingresso. O que chama a atenção é o rigor da segurança. Todos precisam mostrar sacolas e bolsas e o que mais for necessário. Nesse museu, estão as obras que os ingleses retiraram sobretudo do Egito, da Mesopotâmia e da Grécia. É difícil ficar a favor deles; mas é insensato ficar contra. Será que de outra forma conheceríamos as múmias egípcias e a forma como essa antiga civilização tratava seus mortos? Será que veríamos a Pedra de Roseta e os demais 'tablets' que mostram a origem da escrita? E os painéis do Partenon que os gregos reclamam tanto? E para quem já morou no Irã, ver painéis de Persépolis, seria possível? Então, viva aos ingleses e "Deus salve a rainha"; afinal, eles estão disponibilizando os primórdios da civilização para a humanidade. Como tem ocorrido de forma recorrente, precisaríamos do triplo do tempo ou de muito mais para, não apenas dar uma admirada em uma parcela de preciosidades, mas para observar cada uma de todas elas com atenção e concentração. Bem, mas isso provavelmente seria possível, morando-se em Londres. É missão para as meninas.
É oportuno recordar que a Pedra de Roseta contém uma inscrição em diferentes linguagens, o que permitiu que a antiga escrita hieroglífica egípcia fosse decifrada. É o único fragmento existente, de uma tábua de pedra maior, com o registro de um decreto de 27 de março de 196 a. C. No topo da pedra, o texto foi escrito em hieróglifo, a tradicional escrita dos monumentos egípcios, desde 3000 anos atrás. Na parte central, o decreto foi escrito em demótico, a escrita do dia a dia dos egípcios. E na parte inferior, o texto foi traduzido para o grego, a linguagem usada àquela época pelo governo. Depois, será esclarecido porque essa pedra está no Museu Britânico, já que ela teria sido descoberta pelos franceses e decifrada por Champollion.
A visita ao museu foi um pouco corrida. Precisávamos retornar para o hotel mais cedo pois Isabel receberia a visita das amigas de adolescência, Sally e Susan. Já como especialistas no metrô londrino, pegamos Tottenham Court Road – Notting Hill Gate - Paddington.
Chegamos extenuados, então assistir aos vinte minutos finais do jogo Argentina versus Croácia foi um bálsamo. Testemunhar a derrota portenha ocasiona uma sensação ambígua — quem gosta de bom futebol, quer ver a Argentina jogar, pois eles jogam bem e tem Messi, que dispensa adjetivos; vê-los perder alegra, pois o fanatismo argentino é confundido com arrogância, e nada há melhor do que um arrogante derrotado. Enfim, terão que contar com a sorte para lograrem a classificação para as oitavas de finais.
As amigas britânicas chegaram por volta de 19:00 h. Fomos caminhar e procurar um restaurante. Achamos o Ask Italian de Paddington. Já tínhamos ido a outro Ask Italian — aquele identificado no primeiro dia de Londres. Repetir a deliciosa comida italiana foi uma boa decisão. O tempo passou rápido como sempre ocorre quando a alegria predomina.
27 de junho (quarta-feira) – Visita à Torre de Londres, passeio na City e visita à catedral de Saint Paul
O café da manhã foi no apartamento. Mais uma vez, Isabel fez a previsão adequada e preparou tudo direitinho.
Em Paddington, houve a descoberta de turista de zero-ésima viagem: o bilhete de metrô só vale para o dia em que for comprado. Assim perdemos 5 bilhete comprados ontem, por £ 4,50 cada um. Demos sorte, pois ao pedir informações para o guarda, Sr Laurence, ele nos levou ao escritório onde vendiam o cartão Oyster. O cartão vale para todas as vezes que precisarmos do metrô nos três dias que ainda ficaríamos na cidade e fica bem mais barato do que a compra normal. Além disso, compramos os bilhetes de acesso à Torre de Londres.
Em seguida, pegamos o metrô, visando chegar à estação Tower Hill, para iniciar a visita à Torre de Londres (London Tower). Uma boa visão da história inglesa é sintetizada na história desse conjunto fantástico de edificações, que são um emblema da resiliência dos britânicos bem como das visões de estadista e a continuidade daqueles que dirigiram os destinos da nação.
Essa jornada pode ser sintetizada nas seguintes etapas: caminhada pelo conjunto de edificações, visita às Joias da Coroa (Crown Jewels), visita à Torre Branca (White Tower) e passagem pela Capela de São João (Chapel of St John).
Na caminhada, houve observações rápidas do conjunto da obra, aí incluída a Byward Postern, do ano de 1350, que liga a Torre ao rio Tâmisa; da Cradle Tower, construída em 1355 para armazenar embarcações e equipamentos militares, e para permitir uma entrada privada do rio Tâmisa para a Torre.
Uma das mais fantásticas coleções de joias reais do mundo, várias dentre elas, utilizadas pela realeza em ocasiões especiais — por exemplo, durante a coroação da rainha Elizabeth II — são mantidas em segurança na fortaleza denominada Joias da Coroa. A mais impressionante de todas é a joia que contém um diamante de 540 quilates, um dos maiores do mundo.
Ao longo da visita, constata-se que a Torre é uma fortaleza com características medievais, tendo no centro do conjunto, a edificação mais importante que é a Torre Branca, com paredes com mais de um metro de espessura, e que abriga as Armaduras Reais (Royal Armories), uma impressionante coleção de armas e armaduras do tempo do palácio e fortaleza de William, o Conquistador, o fundador da Torre de Londres, depois de sua vitória na batalha de Hastings, no ano de 1066.
No andar mais alto da Torre Branca, está situada a Capela de São João. Simplicidade e robustez fazem desse templo o local ideal para o encerramento de uma visita que se torna cansativa pela oferta tão generosa de pontos de observação com grande diversidade e grandeza.
Desistimos de ir à Ponte das Torres (Bridge Tower). Já tínhamos passado por ela no passeio de ônibus e no passeio de balsa; aí restaria a subida pelas centenas de degraus para uma privilegiada vista da cidade — decidimos não pagar esse preço.
Caminhar era preciso; almoçar não era obrigatório, mas era conveniente. Encontramos o Fuller's Ale & Pie, que se revelou uma boa escolha, por ser elegante e por servir comida inglesa — há quem afirme que não é boa, o que não é uma asserção absurda.
Entrei na igreja St Mary Woolnoth. Destacaria apenas o altar, que tem um painel belíssimo, com os Dez Mandamentos em inglês arcaico, e uma oração de São Mateus. Ademais, havia um pianista ensaiando, o que permitiu registrar uma fração de apresentação, em vídeo.
A caminhada prosseguiu, contemplando a City, o coração financeiro de Londres. Chegamos à Bolsa de Valores Real (Royal Exchange, nome atribuído, em 1571, pela rainha Elizabeth I, impressionada que ficou com o empreendimento do empresário Sir Thomas Gresham). A rigor, trata-se de um notável conjunto arquitetônico composto pelo Banco de Londres, pela Casa Mansão e pela Bolsa de Valores. A BVR foi reconstruída duas vezes: em 1667, sob as ordens do rei Charles II, e em 1844, com o estímulo da rainha Vitória -- foi neste período que foi acrescentado o magnífico pórtico coríntio com oito pilares, a marca registrada, admirada e copiada da fachada do Partenon.
Agora foi a vez da livraria Daunt Books. Queríamos verificar o prestígio brasileiro, nas artes das taramelas. Comecei perguntando sobre alguma obra relativa a Santos Dumont ou Machado de Assis. O vendedor indicou uma estante no andar inferior. De fato, havia um pequeno setor referido como América do Sul. Para efusiva vibração da Alessandra, encontramos, em inglês, Dom Casmurro, Epitaph of Bras Cubas e Quincas Borba, do Machado de Assis; The War of the Saints e Captains of the Sand, do Jorge Amado; Concise History of Brazil, do Boris Fausto, pai, e Sergio Fausto, filho — lembrando que o filho é presidente do Instituto FHC, e em março deste ano publicou um severo artigo contra o regime militar e contra o Bolsonaro; então repliquei de forma veemente. Infelizmente, o Estadão não divulgou minha mensagem no Fórum de Leitores. O texto está em meu blog e o título é:
Resposta ao senhor Sérgio Fausto [para acesso a este texto, clique sobre o título].
Resposta ao senhor Sérgio Fausto [para acesso a este texto, clique sobre o título].
Passamos na igreja St Mary-le-Bow. Não é uma estrela do turismo londrino. É pequena mas tem vitrais lindos. Valeu a pena dar uma olhada.
Tínhamos o objetivo de visitar a Saint Paul's Cathedral. Isabel constatou que as visitas se encerravam às 16:00 h, então decidimos apenas passar em frente. A arquitetura imponente da catedral é o primeiro atrativo que torna a visita imperdível. Para nossa surpresa, a catedral estava aberta. Ao chegarmos à porta principal, ficamos sabendo que o acesso após o horário de visitas turísticas era possível para quem quisesse assistir à celebração da missa. Entramos para assistir uma parcela do ato religioso. A catedral é deslumbrante. A fiscalização contra intrusos é rigorosa e fotografias são proibidas. A catedral foi construída em 604 d. C. pelo Bispo Mellitus; foi destruída por incêndio em 1087; foi reconstruída com pedra em 1087, pelo Bispo Maurice; foi reduzida a ruínas por incêndio em 1666; e foi reconstruída com a grandeza atual, em 1708, por Christopher Wren — destaque-se o domo externo, com 110 m de altura, sendo o segundo mais alto do mundo, logo após o maior de todos que pertence à igreja de São Pedro, em Roma. Abriga os túmulos do construtor Wren, do aventureiro Laurence da Arábia e do poeta John Donne. Vários eventos cerimoniais de apelo histórico foram realizados em seu interior. Em 1965, abrigou o funeral de Winston Churchill e, no início da década de 1980, o casamento do príncipe Charles com Lady Diana Spencer.
Saímos da catedral e caminhamos até a estação Blackfliars, onde pegamos o metrô e depois de 12 estações, chegamos a Paddington. O objetivo era ir de imediato para o hotel para assistir ao jogo entre Brasil e Sérvia. Foi um bom jogo e a seleção brasileira ganhou de 2 x 0, com gols de Paulinho e Tiago Silva. Os jogadores de ataque perderam muitos gols. No nível da seleção brasileira, não pode haver tantas oportunidades perdidas. Numa hora dessas, as chances desperdiçadas podem fazer falta.
Após o jogo, não quisemos pensar nem arriscar. Aqui perto tem um Ask Italian. De novo? Sim, o cardápio variado e conhecido, em um ambiente agradável, permite jantar três vezes em um semana, não repetir prato nem ficar insatisfeito.
28 de Junho (quinta-feira) – Visita à abadia de Westminster, passeio na Parliament St e visita ao National Gallery
O café da manhã seguiu a rotina; foi no apartamento. Fomos para a estação Paddington comprar os ingressos para a Abadia de Westminster — e que fique esclarecido: fui alertado pelo vendedor que não há ingresso para a Catedral e sim para a Abadia de Westminster (Westminster Abbey). Depois, tomamos o metrô e seguimos até a estação Westminster. Deixamos o terminal para encontrar a História, representada pelas imagens das Casas do Parlamento e o Big Ben, Praça do Parlamento e Abadia de Westminster (Parliament Houses and Big Ben, Parliament Square e Westminster Abbey). Deixamos de ver o Big Ben porque está envolto em placas, em manutenção, com previsão de término em dois anos — uma pena!
Westminster Abbey é o local onde os grandes vultos históricos, os heróis e os construtores da pátria britânicos são relembrados e reconhecidos; onde a nação realiza suas celebrações e cerimoniais; e onde os monarcas britânicos recebem Chefes de Estado. As paredes, os corredores, as capelas, a nave, vale dizer, todos os ambientes têm estátuas, sepulturas e placas com homenagem aos reis e rainhas, militares, políticos, escritores, cientistas e demais cidadãos que contribuíram para a glória do país. Há mais de 3.300 pessoas sepultadas ou homenageadas na abadia.
O túmulo do soldado desconhecido é o único local do piso onde ninguém pode pisar. Esse desconhecido viveu e se sacrificou pela verdade, pela liberdade, pela decência e pela democracia. A ideia de viver sob o manto de valores está muito bem caracterizada nesse respeito e homenagem a um integrante da base da pirâmide social e militar. Não há como não reverenciar aquele que se foi no anonimato, mas encravou-se no coração e nas mentes de quem peleja para reduzir as limitações e as restrições impostas pela condição humana; pensando e agindo, e fundamentando o pensamento e a ação no arcabouço da ética, da boa fé e na crença inabalável nos princípios que engrandecem e nobilitam o ser humano.
Tantos reis célebres poderiam ser citados, mas os grandes mestres são uma boa síntese para uma melhor compreensão do destino bem sucedido da pátria, da nação e do estado britânicos. Assim, nos deparamos com Shakespeare, Isaac Newton, Charles Darwin e a partir deste ano de 2018, a meio caminho entre os dois cientistas, Stephen Hawking, como a transmitir para os visitantes nacionais e estrangeiros o que é prioritário na gestão dos destinos da Nação — e aqui eu invento uma frase para esse emblema recorrente: “a Educação e a Ciência & Tecnologia são tão importantes e fundamentais quanto nossos maiores reis e estadistas!” . É imperioso enfatizar que a Cecília fez algo proibido, muito surpreendente e de enorme relevância. Ela fotografou o túmulo do Stephen Hawking e assim permitiu que atentássemos para a frase que está inscrita na lápide metálica: “Here lies what was mortal of Stephen Hawking – 1942-2018”. A frase é estonteante. Ela permite inferir que Hawking tem uma dimensão imortal, estruturada no conhecimento que ele descortinou e nas teorias que ele descobriu; enfim, na herança que ele deixou para a humanidade.
Na parede externa da abadia, uma frase me fez parar e observar:
“MAY GOD GRANT TO THE LIVING • GRACE; TO THE DEPARTED • REST; TO THE CHURCH & THE WORLD • PEACE AND CONCORD; AND TO US, SINNERS • ETERNAL LIFE.”
(“POSSA DEUS ASSEGURAR: PARA OS VIVOS, GRAÇA; PARA OS QUE SE FORAM, DESCANSO; PARA A IGREJA & PARA O MUNDO, PAZ E CONCÓRDIA; E PARA TODOS NÓS PECADORES, VIDA ETERNA.”)
Poder-se-ia aduzir que a abadia de Westminster homenageia também a beleza. Em seu interior, a beleza atinge o paroxismo — até a falta de sensibilidade mais atroz se rende, sucumbe diante da demonstração de genialidade daqueles que vão muito além do trivial e do senso comum; e projetam, empreendem e colocam à nossa disposição uma obra-prima como aquela abadia.
No passado, quando eu e Isabel visitamos Amsterdã, cedi à tentação e comprei um anel de brilhante para presenteá-la. Essa cidade holandesa tem uma tradição ancestral na produção de joias, aquelas em que a união fatal de ouro e diamante fascina as mulheres e escraviza os homens — a incomparável escravidão de quem quer ser lembrado para sempre. Decidi entregar o presente em outra hora, em algum lugar fora da curva do senso comum. Fazer a entrega na abadia de Westminster foi uma boa escolha; passados dezoito anos, recordar com as meninas — que constituem o corolário dessa equação afetiva — não é uma abstração matemática, é uma abstração resultante da harmonia e virtude humana. Ou não, diria o pessimista empedernido.
Saímos do templo e caminhamos na Parliament Square, observando as várias estátuas. Uma das que mais despertou a curiosidade foi a de Milligent Garret Fawcet, uma ativista social e líder sufragista. Sua estátua relembra os 100 anos passados após a data em que a mulher adquiriu o direito ao voto no Reino Unido. A imagem retrata Millicent quando ela tinha 50 anos e se tornou presidente da União Nacional das Sociedades pelo Sufrágio da Mulher (National Union of Women’s Suffrage Societies [NUWSS]). A estátua foi erigida com Millicent segurando um estandarte onde se lê: “Courage calls to courage everywhere”— frase extraída do discurso que ela pronunciou por ocasião da morte da sufragista Emily W. Davison. A estátua é o primeiro monumento de mulher na Parliament Square e é a primeira obra da praça a ser esculpida por uma mulher, a escultora Gillian Wearing, ganhadora do Turner Prize — uma láurea atribuída anualmente a um artista britânico da área das artes visuais com menos de 50 anos.
A outra estátua onde paramos e tiramos várias fotografias foi a de Winston Churchill. A parada serviu também para reflexão. Como e por que ele se arquitetou estadista, passou para a história como Primeiro-Ministro britânico e condutor do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial e foi imortalizado com sua imagem colocada em local de tamanho destaque? Era de família nobre, tornou-se militar e participou de campanhas militares na Índia, no Sudão e na África do Sul. Serviu no Exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial, comandando o 6º Batalhão dos Fuzileiros Reais Escoceses. Ganhou notoriedade como correspondente de guerra, descrevendo as campanhas militares a que assistira. Sua têmpera originária da nobreza e seu intelecto privilegiado — que lhe permitiu, após a vitória na Segunda Guerra Mundial, escrever o épico e monumental relato da vitória, que o transformou em ganhador do Prêmio Nobel de literatura — foram temperados com aço no calor de várias guerras; com vitórias e com pelo menos uma grande derrota.
Para fechar a caixa de reflexões, transporto-me para a querência e questiono:
– É razoável pensar que, no Brasil, estamos muito distantes do período monárquico, então, nesse sentido, há nobreza no sentido político?
– Mas temos nobreza no espírito, nas profundezas da mente, nas bordas ou no interior da arquitetura do pensamento?
– Os traumas brasileiros políticos, militares ou de outra ordem foram suficientes para conformar atitudes e procedimentos?
– Foram adequados para estimular e fomentar a formação e evolução de intelectuais?
– Foram relevantes para construir o ambiente que permitisse o surgimento de empreendedores e de estadistas?
– Poder-se-ia asseverar que tudo começa com os traumas; conquanto os nossos tenham existido, foram como que espargidos nas sombras da poeira do tempo. Ou não?
– O que resta então? Estaria nas mãos e nas mentes dos jovens, dado que os demais não possuem a impulsão que o desafio requer?
Contíguo à Parliament Square, impacta o horizonte, bem próximo da gente, as Casas do Parlamento e o inefável Big Ben, envolto em placas que caracterizam a reforma que impede sua visão. Viemos, não o vimos, não o ouvimos. Fechando-se os olhos apenas, já que o ouvido não foi construído para ser fechado, foi possível imaginar a figura e o som, tão universais quanto se queira; foi possível registrar, sem perder a integridade, que estivemos a seu lado — as meninas pela primeira vez, e nós pela terceira, quarta, quinta, ... sei lá. Assistir a uma sessão do Parlamento britânico teria o seu encanto, mas a improbabilidade de sermos aceitos em trajes turísticos impediu até mesmo uma simples cogitação.
Observar o número 10 da Downing Street não tem apelo estético, mas a curiosidade humana é insaciável. Então, paramos, olhamos, fotografamos e tietamos o quanto pudemos. Afinal, dar uma olhada na residência do chefe de Governo britânico relembra uma boa parcela da história da humanidade. Por ali, passaram, entre outros:
Neville Chamberlain, que em 1940, foi a Berlim e acertou a paz com Hitler, um erro histórico comprovado pela Segunda Guerra Mundial, o maior conflito humano da história;
Winston Spencer Churchill, que conduziu o Reino Unido na correção do erro de Chamberlain e levou os Aliados (Reino Unido, Estados Unidos, França, Canadá, Brasil e outros) à vitória naquele conflito;
Margareth Thatcher, a Dama de Ferro — que ao lado do presidente americano Ronald Reagan e do papa João Paulo II (anteriormente, bispo polonês Carol Wojtyla) — contribuiu para a queda do muro de Berlim em 1989, e para o consequente esfacelamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas;
John Major, que fez parte do conjunto de chefes de Estado que instituiu a União Europeia, por intermédio do Tratado de Maastricht — formalmente Tratado da União Europeia (TUE), assinado em 7 de fevereiro de 1992, pelos membros da Comunidade Europeia na cidade de Maastricht, Países Baixos;
David Cameron, que em 2016, convocou o plebiscito, denominado BREXIT (Britain Exit), que votou pela saída do Reino Unido da União Europeia; e
Theresa May (atualmente Primeira Ministra, lá residindo), que está ultimando as medidas políticas e jurídicas para formalizar a separação britânica daquela União.
Passamos em frente aos Horse Guards, quartel general do comando dos dois mais antigos regimentos de Cavalaria do Exército Britânico: o Life’s Guards e o Blues and Royals, que são encarregados da guarda real. Assistimos militares femininas, regiamente paramentadas e montadas no matungo, fazendo o rodízio da guarda. E fomos seguindo, observando, admirando.
Destaquei-me de Isabel e das meninas, pois vi a estátua do General Bernard Law Montgomery — apelidado “Monty” e laureado com o título de 1º Visconde Montgomery de Alamein. Não há como não admirar o grande comandante do 8º Exército Britânico (os “Ratos do Deserto”), que venceu, na África, as tropas alemãs (o “Afrika Korps”) comandadas pelo General Erwin von Rommel, um dos maiores comandantes alemães daquela guerra. Após vencer Rommel, “Monty” comandou tropas britânicas na invasão da Sicília e da península italiana; e depois foi convocado para participar da Operação Overlord, a invasão da Normandia, como comandante das forças terrestres americanas, britânicas, francesas livres e canadenses, cujo comando geral (forças aéreas, navais e terrestres dos quatro países) cabia ao General Dwight Eisenhower, americano e, após a guerra, presidente dos Estados Unidos. “Monty” e sua indefectível boina têm a minha reverência — em realidade, imperecível, infalível nessa história é o portador da boina.
Apareceu o memorial “The Women of World War II”, uma obra de arte erigida em 2005, com 6,7 m de altura por 4,9 m de largura por 1,8 m de profundidade; abrigando 17 conjuntos de uniformes ou trajes, um ao lado do outro, envolvendo o memorial nos quatro azimutes, em alto relevo metálico, os quais simbolizam as centenas de diferentes trabalhos realizados por mais de 7 milhões de mulheres durante a Segunda Guerra Mundial. Embora tardiamente, o reconhecimento ao papel e ao valor da mulher foi resgatado com o destaque devido.
A transição da manhã para a tarde se alongava além do previsto e o surgimento do restaurante Grand Caffé Concerto estimulou as papilas gustativas; não hesitamos em aproveitar a oportunidade. A entrada e o elegante ambiente interno — com um grande quadro sugerindo a presença em festa ou dança do tango, e com lustres pendentes de muito bom gosto — contribuíram para a alegria na ansiosa espera dos pedidos. Foram momentos adequados que antecederam o próximo evento do dia.
Retornamos à Trafalgar Square e nos enfiamos no santuário londrino de artes plásticas — o museu National Gallery. A primeira acolhida estava na imponente fachada com suas 8 colunas gregas coríntias de mármore, sob o triângulo que aparenta sempre equilíbrio eterno; e logo após o primeiro hall, as 3 portas de entrada de madeira, tendo logo acima de cada uma delas, em alto relevo — e entre colunas gregas coríntias de granito — o florentino Leonardo da Vinci, ladeado pelo batavo Rembrandt e pelo corregiense Antonio Allegri.
O tempo não seria suficiente para uma visita minimamente adequada à riqueza do museu National Gallery. Então, foi necessário buscar as áreas de artistas mais consagrados. Assim, nos fixamos nas obras dos mais conhecidos, dentre as quais, podem ser destacadas:
– A Virgem e a Criança com os Santos, de Gerard David;
– Santa Genevieve e Apolônia, eSanta Cristina e Otila, ambas de Lucas Cranach, o Velho;
– Os Embaixadores, de Hans Hobein, o Jovem;
– Santa Catarina de Alexandria, Segunda Crucificação, e Madona de Ansidei, de Rafael;
– Vênus ao Espelho, de Velásquez;
– Baco e Ariadne, Madona de Aldabrandini, Dinheiro do TributoeA Família Vendramin, de Ticiano;
– A Família de Dario diante de Alexandre, de Paolo Veronese;
Depois da derrota de Dario por Alexandre, a mãe do persa vai pedir clemência e se engana dirigindo-se a amigo de Alexandre.
– Vênus ao Espelho, Retrato do Arcebispo Fernando de Valdés, eFelipe IV de Espanha em Marrom e Prata, de Velázquez;
– No Teatro (A Primeira Saída), e La Yole, de Pierre-Auguste Renoir;
– Lavacourt sob a Neve, eMulher Sentada no Banco, de Claude Monet;
– Girassóis, eCampos de Trigo com Ciprestes, de Vincent Van Gogh;
– Um Vaso de Flores, de Paul Gauguin;
– Banhistas, Encosta, eAvenida de Chantilly, de Paul Cézanne;
– Sr. e Sra. William Hallet, de Thomas Gainsborough;
– A Virgem das Pedras, de Leonardo da Vinci;
– Vênus e Marte, de Sandro Boticelli;
Vênus – deusa do amor e da beleza; Marte – deus da guerra.
– Retrato de uma Dama, de Alesso Baldovinetti;
– A Madona e o Menino, de Masaccio;
– O Altar da Igreja de San Pier Maggiore, de Jacopo di Cione;
– O Altar da Santa Cruz, belíssimo conjunto abrangendo as seguintes peças: David, Isaías, Moisés, São Simão e São Tadeu, São Bartolomeu e Santo André, A Descensão, A Ressurreição, A Traição de Cristo, eO Caminho do Calvário, de Ugolino di Nerio.
Saímos do National Gallery e, por indicação de Isabel, fomos para a livraria Waterstone. Não tive sucesso na tentativa de encontrar livros de autores brasileiros. Mas escolhi um bom título lançado em 2018: The Spy Who Changed History, de Svetlana Lokhova. Na introdução ela promete demonstrar como Stalin conseguiu aprumar a União Soviética, colocando 65 estudantes espiões soviéticos no MIT e em outras instituições de nível superior americanas na década de 1930. Através da espionagem científica e industrial, esses estudantes espiões teriam dado uma grande contribuição para que seu país pudesse competir com o Ocidente e atingir o status de superpotência. Se a hipótese for confirmada, o livro lançado recentemente é uma pérola de espionagem científico-tecnológica e transforma o que se conhecia até agora sobre espionagem em geral, em trabalho de amadores pouco produtivos.
Depois fomos a uma banca identificada no primeiro dia em que visitamos a Trafalgar Square, para comprar camisetas e blusões. Foi um pedido da Alessandra e do qual se valeu também a Laura para comprar roupa com preços melhores do que nas lojas ou outros locais de venda. Ademais, interagimos de forma gentil com o casal de namorados albaneses, proprietários da banca; além de muito simpáticos, eles são apreciadores e conhecedores do futebol brasileiro.
A Cecília sugeriu que passássemos no Her Majesty Theater para comprar o DVD do The Phantom of the Opera. Foi o que fizemos antes de voltar para o hotel.
Depois de uma pausa para assistir à metade do segundo tempo da vitória da Bélgica sobre a Inglaterra, ambas já classificadas para a fase seguinte da Copa do Mundo, saímos para jantar. Perto do hotel, encontramos o restaurante Oliver Steak House, com um serviço razoável e carne de um padrão que brasileiro pode aceitar.
No retorno para o hotel, a pessoa que estava atendendo na recepção do hotel perguntou se nós queríamos transporte para o dia seguinte. Entendi que tínhamos ganho experiência suficiente em arrastar mala em estações e aeroportos e não era exagero gastar um pouquinho mais e ir de van para a Estação St Pancras International.
O começo do fim da epopeia londrina estava se iniciando. Amanhã, começaria a viagem de volta ao Brasil.
29 de Junho (sexta-feira) – Viagem de trem Londres-Paris e viagem Aérea Paris-São Paulo
Acordei com uma certa sensação ambígua de perda e alívio. Perda porque a viagem se encaminhava para o fim, e confinaria novidade, beleza, encanto e história nos confins das recordações e lembranças. Alívio porque o retorno para casa devolve estabilidade, despreocupação e reinserção na região de conforto.
Enfim, as malas ficaram prontas ontem. Isabel e as meninas são rigorosas nessa questão e isso ajuda muito. No horário previsto, o motorista, provavelmente estrangeiro do Oriente Médio, chegou. Embarcamos em um carro espaçoso e com aspecto geral na faixa de regular para bom. Depois de 5 minutos de deslocamento, o motorista fez uma ligação, passou-me o celular e disse que eu tinha que eu tinha que realizar pagamento por telefone. Reagi de imediato e afirmei que só faria o pagamento através de máquina. Como ele disse que não tinha a engenhoca, solicitei que ele parasse na primeira loja de câmbio, pois eu faria a troca de dólar por libra e faria o pagamento em espécie. E assim foi feito. Desci do carro e disse para ele contornar o quarteirão enquanto eu trocava o dinheiro. Como ele demorou, resolvi caminhar no sentido em que ele deveria chegar. Depois de algum tempo, ele surgiu no sentido contrário, meio esbaforido. Disse que o trânsito estava ruim e ele parou o carro em uma transversal.
Aí me dei conta de dois erros graves. O primeiro: deixei Isabel e as meninas em um veículo com um desconhecido, em plena Londres — desse erro estava livre, pois ele não fugira com elas. O segundo: esse, corolário do primeiro, pois não sendo o motorista um bandido, ele deixou as moças em um carro numa rua desconhecida da cidade e foi me procurar. Com alguma ansiedade, caminhei a seu lado e depois de uns 10 minutos, surgiu o veículo e deu para perceber que elas estavam em seu interior. Dois erros, dois ensinamentos e um suspiro de alívio. Entramos no carro. O caboclo tentou ligar o motor, uma duas, três, quatro vezes, e nada! Então, com o inglês que não escondia sua origem, afirmou que a estação era perto e que nós deveríamos seguir a pé; ele acompanharia e ajudaria, puxando a mala mais pesada.
E assim caminhamos cerca de um quilômetro até chegar à estação St Pancras International. A dúvida atroz: eu deveria pagar? Não paguei e ele não solicitou o pagamento. Não se tratou de honestidade. Ficou claro que a atividade que ele exercia não era legalizada e sendo estrangeiro, se eu procurasse a polícia, ele correria o risco de expulsão.
Eu fiquei sob pressão, fiquei tenso e era para menos? Fizemos o checkin, embarcamos e antes de começar o túnel sob o canal da Mancha, dei uma bela cochilada; acho que a tensão ajudou. Após o lanche com um belo sanduíche, voltei a cochilar, para despertar uns 15 minutos antes de chegar na Gare du Nord.
Em lá chegando, o adido do Exército nos esperava com o motorista. Em realidade, o Cel Ronaldo Morais Brancalione,que deu apoio na chegada a Paris, estava sendo substituído pelo coronel Adilson AkiraTorigoe. Embora ainda não investido na função, o Cel Akira foi nos receber na estação. Foi uma boa surpresa, além do que o Akira deve ser oriundo da aristocracia nipônica — é elegante no trato e com uma capacidade de comunicação bastante superior à média dos militares bem sucedidos; trata-se de inequívoco indicador que ele terá sucesso na missão diplomática militar na Cidade Luz. Ele nos levou até o aeroporto Charles De Gaulle e nos acompanhou até o guichê da TAM, onde nos despedimos.
Chegamos cedo, por volta de 14:20 horas, quer dizer, umas quatro horas antes da entrega das malas, uma vez que o checkinfora feito em Londres, com a facilidade do celular. Então, passear e almoçar garantiram a espera sem tédio.
Como era conveniente um pouco de emoção, quando o guichê da TAM abriu e entramos na fila da entrega de malas, veio o alerta relativo a uma bagagem abandonada e a suspeita de terrorismo. A ordem é imediata e rigorosa: desocupar as imediações do local, o que as pessoas fazem com a pressa de quem não quer fazer. Aí vêm os policiais, com a educação e elegância francesas e amedrontam mais do que o suposto explosivo. Lembro que na conversa com o Akira, ele disse que vivenciou o mesmo problema, sentiu vontade de desobedecer as ordens, pegar a mala e jogar por uma janela qualquer para outro ambiente. A chance de pegar a mala contendo explosivos é algo da ordem de um para 10.000. Depois de uma demora de quase duas horas, a região foi liberada e seguimos a rotina para chegar a hora do embarque.
Enfim, chegou a hora do embarque. O atendimento da Latam foi satisfatório tanto na ida quanto hoje na volta. Uma vez mais, o jantar tinha o mínimo de qualidade para um voo interncional, em classe econômica. Foi fácil conciliar o bom sono potencializado pelas circunstâncias excepcionais que envolvem a viagem.
30 de Junho (sábado) – Viagem aérea Paris-São Paulo e São Paulo-Brasília
Chegamos em São Paulo no início da manhã. As normas vigentes nos obrigou a receber as malas e submetê-las aos procedimentos alfandegários no aeroporto paulista de Guarulhos. Bem que isso poderia ocorrer no destino. O avião decolou de São Paulo no horário previsto. O pouso ocorreu em absoluta normalidade. Acho que a Laura — tão reticente e desconfortável nas viagens de avião — estava completamente adaptada pela experiência vivenciada com tamanha intensidade. Alessandra e Cecília, não sei se seriam paraquedistas, mas sempre mostraram satisfação e conforto nas instabilidades aéreas.
Saíramos de Brasília 12 dias atrás. Vivenciamos momentos maravilhosos e inesquecíveis. As meninas escolheram a passagem para os 15 anos sem a celebração habitual. Preferiram a aventura épica de conhecer as duas cidades mais frequentes nos livros de história; as que mais impressionam a imaginação e povoam os sonhos. Eu e Isabel aderimos sem hesitação, sem uma gota de contrariedade, sem qualquer queixa; afinal, razão não havia. Reveríamos o que já tínhamos visto juntos ou isoladamente. Curtiríamos o que antecedeu as meninas e contribuiu para que criássemos as condições para que elas existissem. Creio que elas confirmaram o acerto da opção, não se arrependeram e vão guardar na memória enquanto estiverem usufruindo a faculdade essencial do ser humano — a capacidade de sensibilizar-se, de emocionar-se e de lembrar o que a sensibilidade transforma em emoção.
E agora o lugar comum desprovido de qualquer criatividade: a viagem é maravilhosa, especialmente pela leveza, alegria e conforto que cercam o retorno e contato amigo com cada canto, ângulo e espaço da Casa em Cima do Mundo.
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