Apresentação
24 de junho (domingo) – TGV, Sussex Rd, Edgware Rd e Oxford Rd
25 de junho (segunda) – Passeio de ônibus e barco, e Fantasma da Ópera
26 de junho (terça) – Palácio de Buckingham e Museu Britânico
27 de junho (quarta) – Torre de Londres, City e catedral de Saint Paul
28 de junho (quinta) – Abadia de Westminster, Parlamento Sq, Whitehall e National Gallery
29 de junho (sexta) – TGV Londres-Paris e viagem aérea Paris-São Paulo
30 de junho (sábado) – Viagem aérea Paris-São Paulo e São Paulo Brasília
24 a 30 de junho – Consolidação do relato da viagem a Londres
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O café da manhã seguiu a rotina; foi no apartamento. Fomos para a estação Paddington comprar os ingressos para a Abadia de Westminster — e que fique esclarecido: fui alertado pelo vendedor que não há ingresso para a Catedral e sim para a Abadia de Westminster (Westminster Abbey). Depois, tomamos o metrô e seguimos até a estação Westminster. Deixamos o terminal para encontrar a História, representada pelas imagens das Casas do Parlamento e o Big Ben, Praça do Parlamento e Abadia de Westminster (Parliament Houses and Big Ben, Parliament Square e Westminster Abbey). Deixamos de ver o Big Ben porque está envolto em placas, em manutenção, com previsão de término em dois anos — uma pena!
Westminster Abbey é o local onde os grandes vultos históricos, os heróis e os construtores da pátria britânicos são relembrados e reconhecidos; onde a nação realiza suas celebrações e cerimoniais; e onde os monarcas britânicos recebem Chefes de Estado. As paredes, os corredores, as capelas, a nave, vale dizer, todos os ambientes têm estátuas, sepulturas e placas com homenagem aos reis e rainhas, militares, políticos, escritores, cientistas e demais cidadãos que contribuíram para a glória do país. Há mais de 3.300 pessoas sepultadas ou homenageadas na abadia.
O túmulo do soldado desconhecido é o único local do piso onde ninguém pode pisar. Esse desconhecido viveu e se sacrificou pela verdade, pela liberdade, pela decência e pela democracia. A ideia de viver sob o manto de valores está muito bem caracterizada nesse respeito e homenagem a um integrante da base da pirâmide social e militar. Não há como não reverenciar aquele que se foi no anonimato, mas encravou-se no coração e nas mentes de quem peleja para reduzir as limitações e as restrições impostas pela condição humana; pensando e agindo, e fundamentando o pensamento e a ação no arcabouço da ética, da boa fé e na crença inabalável nos princípios que engrandecem e nobilitam o ser humano.
Tantos reis célebres poderiam ser citados, mas os grandes mestres são uma boa síntese para uma melhor compreensão do destino bem sucedido da pátria, da nação e do estado britânicos. Assim, nos deparamos com Shakespeare, Isaac Newton, Charles Darwin e a partir deste ano de 2018, a meio caminho entre os dois cientistas, Stephen Hawking, como a transmitir para os visitantes nacionais e estrangeiros o que é prioritário na gestão dos destinos da Nação — e aqui eu invento uma frase para esse emblema recorrente: “a Educação e a Ciência & Tecnologia são tão importantes e fundamentais quanto nossos maiores reis e estadistas!” . É imperioso enfatizar que a Cecília fez algo proibido, muito surpreendente e de enorme relevância. Ela fotografou o túmulo do Stephen Hawking e assim permitiu que atentássemos para a frase que está inscrita na lápide metálica: “Here lies what was mortal of Stephen Hawking – 1942-2018”. A frase é estonteante. Ela permite inferir que Hawking tem uma dimensão imortal, estruturada no conhecimento que ele descortinou e nas teorias que ele descobriu; enfim, na herança que ele deixou para a humanidade.
Na parede externa da abadia, uma frase me fez parar e observar:
“MAY GOD GRANT TO THE LIVING • GRACE; TO THE DEPARTED • REST; TO THE CHURCH & THE WORLD • PEACE AND CONCORD; AND TO US, SINNERS • ETERNAL LIFE.”
(“POSSA DEUS ASSEGURAR: PARA OS VIVOS, GRAÇA; PARA OS QUE SE FORAM, DESCANSO; PARA A IGREJA & PARA O MUNDO, PAZ E CONCÓRDIA; E PARA TODOS NÓS PECADORES, VIDA ETERNA.”)
Poder-se-ia aduzir que a abadia de Westminster homenageia também a beleza. Em seu interior, a beleza atinge o paroxismo — até a falta de sensibilidade mais atroz se rende, sucumbe diante da demonstração de genialidade daqueles que vão muito além do trivial e do senso comum; e projetam, empreendem e colocam à nossa disposição uma obra-prima como aquela abadia.
No passado, quando eu e Isabel visitamos Amsterdã, cedi à tentação e comprei um anel de brilhante para presenteá-la. Essa cidade holandesa tem uma tradição ancestral na produção de joias, aquelas em que a união fatal de ouro e diamante fascina as mulheres e escraviza os homens — a incomparável escravidão de quem quer ser lembrado para sempre. Decidi entregar o presente em outra hora, em algum lugar fora da curva do senso comum. Fazer a entrega na abadia de Westminster foi uma boa escolha; passados dezoito anos, recordar com as meninas — que constituem o corolário dessa equação afetiva — não é uma abstração matemática, é uma abstração resultante da harmonia e virtude humana. Ou não, diria o pessimista empedernido.
Saímos do templo e caminhamos na Parliament Square, observando as várias estátuas. Uma das que mais despertou a curiosidade foi a de Milligent Garret Fawcet, uma ativista social e líder sufragista. Sua estátua relembra os 100 anos passados após a data em que a mulher adquiriu o direito ao voto no Reino Unido. A imagem retrata Millicent quando ela tinha 50 anos e se tornou presidente da União Nacional das Sociedades pelo Sufrágio da Mulher (National Union of Women’s Suffrage Societies [NUWSS]). A estátua foi erigida com Millicent segurando um estandarte onde se lê: “Courage calls to courage everywhere”— frase extraída do discurso que ela pronunciou por ocasião da morte da sufragista Emily W. Davison. A estátua é o primeiro monumento de mulher na Parliament Square e é a primeira obra da praça a ser esculpida por uma mulher, a escultora Gillian Wearing, ganhadora do Turner Prize — uma láurea atribuída anualmente a um artista britânico da área das artes visuais com menos de 50 anos.
A outra estátua onde paramos e tiramos várias fotografias foi a de Winston Churchill. A parada serviu também para reflexão. Como e por que ele se arquitetou estadista, passou para a história como Primeiro-Ministro britânico e condutor do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial e foi imortalizado com sua imagem colocada em local de tamanho destaque? Era de família nobre, tornou-se militar e participou de campanhas militares na Índia, no Sudão e na África do Sul. Serviu no Exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial, comandando o 6º Batalhão dos Fuzileiros Reais Escoceses. Ganhou notoriedade como correspondente de guerra, descrevendo as campanhas militares a que assistira. Sua têmpera originária da nobreza e seu intelecto privilegiado — que lhe permitiu, após a vitória na Segunda Guerra Mundial, escrever o épico e monumental relato da vitória, que o transformou em ganhador do Prêmio Nobel de literatura — foram temperados com aço no calor de várias guerras; com vitórias e com pelo menos uma grande derrota.
Para fechar a caixa de reflexões, transporto-me para a querência e questiono:
– É razoável pensar que, no Brasil, estamos muito distantes do período monárquico, então, nesse sentido, há nobreza no sentido político?
– Mas temos nobreza no espírito, nas profundezas da mente, nas bordas ou no interior da arquitetura do pensamento?
– Os traumas brasileiros políticos, militares ou de outra ordem foram suficientes para conformar atitudes e procedimentos?
– Foram adequados para estimular e fomentar a formação e evolução de intelectuais?
– Foram relevantes para construir o ambiente que permitisse o surgimento de empreendedores e de estadistas?
– Poder-se-ia asseverar que tudo começa com os traumas; conquanto os nossos tenham existido, foram como que espargidos nas sombras da poeira do tempo. Ou não?
– O que resta então? Estaria nas mãos e nas mentes dos jovens, dado que os demais não possuem a impulsão que o desafio requer?
Contíguo à Parliament Square, impacta o horizonte, bem próximo da gente, as Casas do Parlamento e o inefável Big Ben, envolto em placas que caracterizam a reforma que impede sua visão. Viemos, não o vimos, não o ouvimos. Fechando-se os olhos apenas, já que o ouvido não foi construído para ser fechado, foi possível imaginar a figura e o som, tão universais quanto se queira; foi possível registrar, sem perder a integridade, que estivemos a seu lado — as meninas pela primeira vez, e nós pela terceira, quarta, quinta, ... sei lá. Assistir a uma sessão do Parlamento britânico teria o seu encanto, mas a improbabilidade de sermos aceitos em trajes turísticos impediu até mesmo uma simples cogitação.
Observar o número 10 da Downing Street não tem apelo estético, mas a curiosidade humana é insaciável. Então, paramos, olhamos, fotografamos e tietamos o quanto pudemos. Afinal, dar uma olhada na residência do chefe de Governo britânico relembra uma boa parcela da história da humanidade. Por ali, passaram, entre outros:
Neville Chamberlain, que em 1940, foi a Berlim e acertou a paz com Hitler, um erro histórico comprovado pela Segunda Guerra Mundial, o maior conflito humano da história;
Winston Spencer Churchill, que conduziu o Reino Unido na correção do erro de Chamberlain e levou os Aliados (Reino Unido, Estados Unidos, França, Canadá, Brasil e outros) à vitória naquele conflito;
Margareth Thatcher, a Dama de Ferro — que ao lado do presidente americano Ronald Reagan e do papa João Paulo II (anteriormente, bispo polonês Carol Wojtyla) — contribuiu para a queda do muro de Berlim em 1989, e para o consequente esfacelamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas;
John Major, que fez parte do conjunto de chefes de Estado que instituiu a União Europeia, por intermédio do Tratado de Maastricht — formalmente Tratado da União Europeia (TUE), assinado em 7 de fevereiro de 1992, pelos membros da Comunidade Europeia na cidade de Maastricht, Países Baixos;
David Cameron, que em 2016, convocou o plebiscito, denominado BREXIT (Britain Exit), que votou pela saída do Reino Unido da União Europeia; e
Theresa May (atualmente Primeira Ministra, lá residindo), que está ultimando as medidas políticas e jurídicas para formalizar a separação britânica daquela União.
Passamos em frente aos Horse Guards, quartel general do comando dos dois mais antigos regimentos de Cavalaria do Exército Britânico: o Life’s Guards e o Blues and Royals, que são encarregados da guarda real. Assistimos militares femininas, regiamente paramentadas e montadas no matungo, fazendo o rodízio da guarda. E fomos seguindo, observando, admirando.
Destaquei-me de Isabel e das meninas, pois vi a estátua do General Bernard Law Montgomery — apelidado “Monty” e laureado com o título de 1º Visconde Montgomery de Alamein. Não há como não admirar o grande comandante do 8º Exército Britânico (os “Ratos do Deserto”), que venceu, na África, as tropas alemãs (o “Afrika Korps”) comandadas pelo General Erwin von Rommel, um dos maiores comandantes alemães daquela guerra. Após vencer Rommel, “Monty” comandou tropas britânicas na invasão da Sicília e da península italiana; e depois foi convocado para participar da Operação Overlord, a invasão da Normandia, como comandante das forças terrestres americanas, britânicas, francesas livres e canadenses, cujo comando geral (forças aéreas, navais e terrestres dos quatro países) cabia ao General Dwight Eisenhower, americano e, após a guerra, presidente dos Estados Unidos. “Monty” e sua indefectível boina têm a minha reverência — em realidade, imperecível, infalível nessa história é o portador da boina.
Apareceu o memorial “The Women of World War II”, uma obra de arte erigida em 2005, com 6,7 m de altura por 4,9 m de largura por 1,8 m de profundidade; abrigando 17 conjuntos de uniformes ou trajes, um ao lado do outro, envolvendo o memorial nos quatro azimutes, em alto relevo metálico, os quais simbolizam as centenas de diferentes trabalhos realizados por mais de 7 milhões de mulheres durante a Segunda Guerra Mundial. Embora tardiamente, o reconhecimento ao papel e ao valor da mulher foi resgatado com o destaque devido.
A transição da manhã para a tarde se alongava além do previsto e o surgimento do restaurante Grand Caffé Concerto estimulou as papilas gustativas; não hesitamos em aproveitar a oportunidade. A entrada e o elegante ambiente interno — com um grande quadro sugerindo a presença em festa ou dança do tango, e com lustres pendentes de muito bom gosto — contribuíram para a alegria na ansiosa espera dos pedidos. Foram momentos adequados que antecederam o próximo evento do dia.
Retornamos à Trafalgar Square e nos enfiamos no santuário londrino de artes plásticas — o museu National Gallery. A primeira acolhida estava na imponente fachada com suas 8 colunas gregas coríntias de mármore, sob o triângulo que aparenta sempre equilíbrio eterno; e logo após o primeiro hall, as 3 portas de entrada de madeira, tendo logo acima de cada uma delas, em alto relevo — e entre colunas gregas coríntias de granito — o florentino Leonardo da Vinci, ladeado pelo batavo Rembrandt e pelo corregiense Antonio Allegri.
O tempo não seria suficiente para uma visita minimamente adequada à riqueza do museu National Gallery. Então, foi necessário buscar as áreas de artistas mais consagrados. Assim, nos fixamos nas obras dos mais conhecidos, dentre as quais, podem ser destacadas:
– A Virgem e a Criança com os Santos, de Gerard David;
– Santa Genevieve e Apolônia, eSanta Cristina e Otila, ambas de Lucas Cranach, o Velho;
– Os Embaixadores, de Hans Hobein, o Jovem;
– Santa Catarina de Alexandria, Segunda Crucificação, e Madona de Ansidei, de Rafael;
– Vênus ao Espelho, de Velásquez;
– Baco e Ariadne, Madona de Aldabrandini, Dinheiro do TributoeA Família Vendramin, de Ticiano;
– A Família de Dario diante de Alexandre, de Paolo Veronese;
Depois da derrota de Dario por Alexandre, a mãe do persa vai pedir clemência e se engana dirigindo-se a amigo de Alexandre.
– Vênus ao Espelho, Retrato do Arcebispo Fernando de Valdés, eFelipe IV de Espanha em Marrom e Prata, de Velázquez;
– No Teatro (A Primeira Saída), e La Yole, de Pierre-Auguste Renoir;
– Lavacourt sob a Neve, eMulher Sentada no Banco, de Claude Monet;
– Girassóis, eCampos de Trigo com Ciprestes, de Vincent Van Gogh;
– Um Vaso de Flores, de Paul Gauguin;
– Banhistas, Encosta, eAvenida de Chantilly, de Paul Cézanne;
– Sr. e Sra. William Hallet, de Thomas Gainsborough;
– A Virgem das Pedras, de Leonardo da Vinci;
– Vênus e Marte, de Sandro Boticelli;
Vênus – deusa do amor e da beleza; Marte – deus da guerra.
– Retrato de uma Dama, de Alesso Baldovinetti;
– A Madona e o Menino, de Masaccio;
– O Altar da Igreja de San Pier Maggiore, de Jacopo di Cione;
– O Altar da Santa Cruz, belíssimo conjunto abrangendo as seguintes peças: David, Isaías, Moisés, São Simão e São Tadeu, São Bartolomeu e Santo André, A Descensão, A Ressurreição, A Traição de Cristo, eO Caminho do Calvário, de Ugolino di Nerio.
Saímos do National Gallery e, por indicação de Isabel, fomos para a livraria Waterstone. Não tive sucesso na tentativa de encontrar livros de autores brasileiros. Mas escolhi um bom título lançado em 2018: The Spy Who Changed History, de Svetlana Lokhova. Na introdução ela promete demonstrar como Stalin conseguiu aprumar a União Soviética, colocando 65 estudantes espiões soviéticos no MIT e em outras instituições de nível superior americanas na década de 1930. Através da espionagem científica e industrial, esses estudantes espiões teriam dado uma grande contribuição para que seu país pudesse competir com o Ocidente e atingir o status de superpotência. Se a hipótese for confirmada, o livro lançado recentemente é uma pérola de espionagem científico-tecnológica e transforma o que se conhecia até agora sobre espionagem em geral, em trabalho de amadores pouco produtivos.
Depois fomos a uma banca identificada no primeiro dia em que visitamos a Trafalgar Square, para comprar camisetas e blusões. Foi um pedido da Alessandra e do qual se valeu também a Laura para comprar roupa com preços melhores do que nas lojas ou outros locais de venda. Ademais, interagimos de forma gentil com o casal de namorados albaneses, proprietários da banca; além de muito simpáticos, eles são apreciadores e conhecedores do futebol brasileiro.
A Cecília sugeriu que passássemos no Her Majesty Theater para comprar o DVD do The Phantom of the Opera. Foi o que fizemos antes de voltar para o hotel.
Depois de uma pausa para assistir à metade do segundo tempo da vitória da Bélgica sobre a Inglaterra, ambas já classificadas para a fase seguinte da Copa do Mundo, saímos para jantar. Perto do hotel, encontramos o restaurante Oliver Steak House, com um serviço razoável e carne de um padrão que brasileiro pode aceitar.
No retorno para o hotel, a pessoa que estava atendendo na recepção do hotel perguntou se nós queríamos transporte para o dia seguinte. Entendi que tínhamos ganho experiência suficiente em arrastar mala em estações e aeroportos e não era exagero gastar um pouquinho mais e ir de van para a Estação St Pancras International.
O começo do fim da epopeia londrina estava se iniciando. Amanhã, começaria a viagem de volta ao Brasil.
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