sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Os sonhos que sonhei

"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado".
Homenagem a Oscar Barboza Soluto, antigo lavrador.
In Memoriam.

Com grande alegria, recuperei o que escrevera 51 anos atrás, por ocasião da saída da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAr) e ingresso na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). 

São apenas dois parágrafos. O primeiro foi escrito alguns momentos antes de tentar conseguir carona para ir de Barbacena, onde fica a EPCAr, para Resende, onde se localiza a AMAN. O segundo foi escrito na primeira noite passada em Resende, no momento em que cruzei a ponte do rio Paraíba, que separa a AMAN da cidade de Resende.

Esses parágrafos expressam os sentimentos de perda, ao não lograr sucesso na ida para a Academia da Força Aérea por ter sido reprovado no exame oftalmológico, dado que contraí miopia ao longo do ensino médio; bem como, de forma não explícita, a expectativa de uma nova oportunidade de busca da trajetória das sendas de minha vida.

Os sonhos que sonhei.

[1]

Foi uma ilusão doce, profunda, meteórica mas como tudo que se relaciona com o amor deixa às vezes um sabor amargo.

Estou partindo! Deixando tudo prá trás como se nada houvera acontecido.

Novos sonhos, novas ilusões hão de ocorrer. Sonhar é preciso!

Barbacena, fevereiro de 1968

 

[2] 

Do alto desta ponte sobre o Paraíba ao som da música distante vislumbro a água carregando os sonhos idos, fugazes e trazendo a promessa, vã promessa de outros. Não estou satisfeito, mas nada posso fazer. Quisera ter alguém comigo prá dividir estas emoções, esta saudade, esta solidão.

Lá mais na frente, quando tudo for apenas uma lembrança fluida, quero reviver estes momentos e sonhar com os sonhos que sonhei.

Resende, fevereiro de 1968.

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