sábado, 7 de janeiro de 2017

Transformação

[Mensagem divulgada no Fórum de Leitores eletrônico do Estadão em 7/1/2017]
A revolta, a indignação e a pena manifestada por autoridades, intelectuais, políticos e outros cidadãos, no atinente aos massacres de detentos em Manaus e Boa Vista são exageros que se distanciam da razão e da lógica. Não se constata a mesma atitude com cerca de 280 assassinatos e mortes no trânsito, ocorridos diariamente no Brasil — enfatize-se: diariamente.
É imperioso asseverar que, com aritmética de comprar banana na feira, constata-se que 60.000 assassinatos e 45.000 mortes no trânsito, por ano, correspondem a mais de 280 mortes por dia.
Nesse sentido, 105.000 cidadãos perecidos equivalem a 233 participações do País em conflagração similar à Segunda Guerra Mundial — basta lembrar que 25.000 soldados brasileiros combaterem na Itália na década de 1940 e cerca de 450 sacrificaram a vida no campo de batalha.
Ademais, se quisermos comparar com a Contrarrevolução de 1964 e supondo que cerca de 550 pessoas pereceram na contenda (considerando-se os dois lados adversários), é fácil inferir que as perdas anuais por assassinato e no trânsito equivalem a cerca de 190 conflitos similares.
Por último e igualmente chocante, em menos de 5 anos, em assassinatos e acidentes de trânsito, o Brasil perde mais cidadãos do que a Síria, na famigerada e fraticida guerra em andamento naquele país.
Não há fundamentação lógica para o comportamento de avestruz, explicitado nas primeiras linhas desta mensagem — à guisa de ênfase, abraço o desatino de afirmar que se coloca a mente no esgoto submerso, sendo que o esgoto encontra-se também inexcedivelmente a céu aberto, e não raro esquecido.

Com certeza, precisamos de uma transformação em nosso país, na política, na justiça, na segurança, nos transportes, na educação e na saúde — com prioridade para as favelas. Que lutemos por isso, em pensamento e ação! Em qualquer tempo, em qualquer lugar! De dia e de noite, no lar, no trabalho, no lazer, na igreja, na escola, na mídia, no parlamento e nos tribunais! Porém, sem hipocrisia!

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