Em 31 de agosto do corrente ano, depois de um longo e moroso processo
que durou nove meses, foi aprovado o impedimento da senhora Dilma Vana Roussef para
o exercício do cargo de presidente da República. Lamentavelmente, contrariando
a jurisprudência firmada em 1992 ─ em processo similar que afastou o senhor
Fernando Collor de Melo ─ e afrontando dispositivo constitucional que preceitua
que o impedimento é simultâneo com a suspensão dos direitos políticos durante oito
anos, houve o fatiamento da disposição da Carta Magna e a senhora Roussef
manteve seus direitos de ocupar cargo público, o que lhe permite o exercício
pleno da cidadania a despeito de ter sido condenada por crime de
responsabilidade.
Seria lícito asseverar que o impedimento da senhora Roussef estaria
encerrando o ciclo político iniciado há trinta anos — e mencionado no texto “Comissão
da Verdade”, de 26 de maio de 2012 (divulgado no Fórum de Leitores do Estadão e
em http://ribeirosouto.blogspot.com.br/2012/05/verdde.html
), que trata da indigência dos estadistas que ocuparam a presidência da
República após o regime militar iniciado em 1964. Entretanto, a assertiva sobre
o fim de uma era não se coaduna com a realidade e com a verdade.
A rigor, neste momento de ruptura da administração federal, três dentre
os problemas fundamentais da República continuarão intocados. São eles:
– a indigência de estadistas;
– a ausência de prioridade para educação; e
– o não reconhecimento da relevância do binômio ciência &
tecnologia para povos e nações.
Não é demais enfatizar que os estadistas são a mola propulsora da
evolução de qualquer país. Eles atuam com visão de futuro e com estabelecimento
das melhores estratégias; conquistam a confiança, lideram, medeiam conflitos,
planejam, orientam e empreendem; e assim obtêm os melhores resultados,
colocando o país na vanguarda da história.
A educação deve ser a prioridade das prioridades de todas as ações
governamentais. Nenhuma outra demanda da sociedade tem a faculdade de
potencializar todas as forças do país como os investimentos em educação.
Ademais, os educadores devem ser escolhidos na nata da juventude e, para isso, devem
ser os mais valorizados servidores e devem ter os melhores salários do setor
público; e a par disso nenhum dia do ano letivo deve ser perdido, com greve,
doença de professores ou qualquer outro motivo. As demais medidas educacionais
relevantes tornam-se conseqüência natural do estabelecimento da educação como
prioridade absoluta, ancorado na questão primacial que é a valorização dos
professores; sendo relevante asseverar que medidas políticas cosméticas — que,
não raro, têm sido anunciadas na última década — são inoportunas,
inconvenientes e ineficazes.
É imperioso considerar que desde a passagem do porrete para o arco e
flecha, até a arma eletromagnética (quando e se for operacionalizada) ─ passando
por todos os demais objetos resultantes da evolução humana ─, a ciência e a tecnologia
têm sido (e serão) essenciais para qualquer passo evolutivo e, como tal,
impulsionadoras de qualquer país, da condição de ator secundário, para a
condição de potência global dominante.
Diante dos três problemas essenciais caracterizados, que ações devem
ser desencadeadas? O que podem fazer cidadãos comuns, minimamente lúcidos; de
boa fé e sobretudo desprovidos de preconceitos e descompromissados com quaisquer
ideologias escravizantes e embotadores da faculdade de pensar? Mesmo sabendo
tratar-se de ousadia incomum (e possivelmente inconveniente), apresento as
seguintes ideias para avaliação, questionamento, abandono, aperfeiçoamento e/ou
ampliação por parte de pessoas que crêem nos atributos mencionados e que se
sentem comprometidas com a construção de um país melhor, mercê da
conscientização de parcela expressiva da população:
– identificação de
cidadãos com afinidade na forma de encarar a problemática brasileira, instituição
de um grupo de atuação, estabelecimento de uma rede de comunicação e definição
de uma plataforma de luta pelos objetivos colimados — inicialmente, em caráter
local, por exemplo, em Brasília — e, posteriormente, com a ampliação para o
âmbito nacional;
– formulação de
objetivos estratégicos e operacionais de curto, médio e longo prazos para a
atuação social e política do grupo de integrantes da rede estabelecida;
– instituição de grupos
regionais (ou ampliação, caso existam) ─ sediados em todas as capitais da
federação ─, com a participação de formadores de opinião, para debater os
problemas nacionais e empreender ações visando à concretização dos objetivos colimados;
– identificação de
especialistas em comunicação social para a formulação e o estabelecimento de
rigorosa política de aproveitamento das potencialidades da mídia;
– atuação junto à
imprensa, com o envio periódico de mensagem, de forma sistemática e coordenada
em âmbito nacional e regional ─ incluindo
resposta contundente a qualquer matéria que contrarie os objetivos colimados;
– exercício
sistemático de pressão sobre os congressistas, com o envio de mensagem ─ são necessárias centenas, milhares para cada
deputado ou senador ─, contendo o posicionamento satisfatório para o país;
– interação com
intelectuais confiáveis, estimulando-os à adoção de atitude inequivocamente
pró-ativa, com ênfase para aqueles que militam no magistério superior;
– estímulo aos
filhos e amigos para que organizem (ou ampliem) redes de contatos pessoais e
redes sociais com o objetivo de conscientização; melhoria da formação política
e cidadã; estabelecimento de objetivos; e atuação conjunta em favor dos
objetivos colimados;
– estabelecimento
de medidas e procedimentos para o lançamento de candidaturas a cargos eletivos
em todos as unidades da federação, de cidadãos identificados com a plataforma
de luta — preferencialmente pertencentes ao(s) grupo(s) instituídos — com o objetivo primordial de formar no
Congresso Nacional uma poderosa bancada;
– estímulo à
ampliação do número de professores universitários oriundos do(s) grupo(s)
instituído(s), visando à oferta de contraposição às ideias contrárias ao
desenvolvimento nacional baseado na verdade, liberdade, justiça e decência;
– identificação
e divulgação de cidadãos oriundos da raça negra e das camadas mais pobres da
população, como forma de combater as medidas contrárias à meritocracia; e
– outras ações
resultantes da inteligência, qualificação e experiência.
Finalmente, devo asseverar que este texto se propõe a desafiar as
melhores cabeças pensantes a identificar o discurso e, se for o caso, definir as
ações ─ o que tentei iniciar, mas com certeza, não cheguei a bom termo — para
atuação sistemática, coordenada e eficaz por parte de uma amostra de cidadãos
que estejam imbuídos de patriotismo e amparados em coragem, capacitação e
comprometimento para tentar alterar os rumos da evolução social e política do
Brasil. Enfim a meta é aspirar e tentar uma transformação que se valha das
potencialidades nacionais para a busca de uma Nação solidária, decente e justa,
onde prevaleça a igualdade de oportunidades, a qualificação pessoal e
profissional, e o mérito. Não pode ser perdido de vista que discurso equivale a
palavras ao vento; o que importa é o conjunto de iniciativas, ações,
empreendimentos, bem como a qualidade, a eficiência e a eficácia dos desafios a
serem enfrentados.
Ademais, ao me propor a divulgar estas menores e modestas ideias, corro
o risco de ter respostas que constrangem e ridicularizam. É um risco. E se o
risco se tornar realidade? Parafraseando Galileu, a terra continuará rodando
e os problemas essenciais brasileiros continuarão intocados!