terça-feira, 26 de março de 2013

Pensar e inovar

Divulgado no Fórum de Leitores eletrônico do jornal O Estado de São Paulo – 26 Mar 2013
A excelente matéria “Brasil fica para trás em inovação” (“Estadão” de 24/3/2013) aborda questões essenciais, cujas consequências estarão na agenda do cotidiano das futuras gerações. Gostaria de acrescentar algumas considerações para reflexão daqueles que pensam o País que transmitiremos para os herdeiros de nossos herdeiros.
Se examinarmos a estatística de crescimento dos 100 maiores países no século passado, a despeito de algumas décadas perdidas, o Brasil cresceu vigorosamente naquele período. Essa constatação é inegável. De que forma ocorreu esse crescimento? Que modelo foi adotado para que o citado crescimento fosse possível?
Talvez o exame do período de 1950 a 1980 possa ser uma boa metáfora de todo o período. Especialmente a partir do governo de Juscelino Kubitschek, o modelo de importação de expressiva parcela de objetos de consumo do cotidiano foi substituído pela importação de filiais de multinacionais para produzir em nosso território o que antes importávamos.
Como consequência, nos dias de hoje – para ilustrarmos com uma indústria síntese de desenvolvimento, a automobilística –, verificamos que somos o quinto ou sexto maior produtor de automóveis do mundo e, dentre os dez ou doze países maiores produtores, o Brasil é o único que não tem uma empresa industrial automobilística brasileira, de propriedade de brasileiros e com capital majoritariamente brasileiro.
Ademais deve ser enfatizado que os países citados na matéria motivadora desta mensagem – Coreia do Sul, Índia, China e Rússia – estão entre os maiores produtores e, de forma diversa, cada um deles tem empresas industriais automobilísticas, de propriedade de nacionais e com capital majoritariamente nacional. O que vale para a indústria automobilística, vale também para expressiva parcela das empresas integrantes do setor industrial brasileiro.
Ora, como querer incentivo à inovação de parte da iniciativa privada, se esta é alicerce de poder e é feita sistematicamente na matriz, ou seja, nos países que sediam as empresas que estão instaladas em nosso país?

Dessa forma, é difícil imaginar efetividade, no longo prazo, em qualquer medida governamental, associada à conquista de patamares razoáveis e satisfatórios de inovação, por melhor intencionada e melhor arquitetada que seja, se não houver uma guinada radical no modelo de País, nos processos de planejamento e gestão, no pensamento estruturado pela “inteligentzia” e na própria consciência coletiva da sociedade.

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