O excelente artigo “Aqui nas nossas barbas” (“Estadão”, 25/2,
A6), da sra. Eliane Catanhêde, analisa as interações
do governo brasileiro com a madura Venezuela, em célere marcha para um cenário degenerative,
e por extensão constitui-se em emblemático estímulo para a reflexão sobre as
andanças de nossa trajetória político-institucional.
Nesse sentido, aduziria que é oportuno visitar mestre Rui
Barbosa, que afirmara em conferência na Associação Comercial do Rio de Janeiro,
por ocasião de sua campanha presidencial: “Mentira
toda ela. Mentira de tudo, em tudo e por tudo. Mentira na terra,
no ar, até no céu, onde, segundo o padre Vieira (que não chegou a conhecer o
sr. …….), o próprio sol mentia ao Maranhão, e direis hoje mente ao Brasil
inteiro. Mentira nos protestos. Mentira nas promessas. Mentira nos programas.
Mentira nos projetos. Mentira nos progressos. Mentira nas reformas. Mentira nas
convicções. Mentira nas transmutações. Mentira nas soluções. Mentira nos
homens, nos atos e nas coisas. Mentira no rosto na voz, na postura, no gesto,
na palavra, na escrita. Mentira nos partidos, nas coligações e nos blocos (...)
Mentira nas eleições. (...) Mentira nas candidaturas. (...) Mentira nas
responsabilidades. Mentira nos desmentidos. A mentira geral. O monopólio da
mentira”. Chega!
Sócrates, o grego da cicuta, perguntaria: “Mas, estaria o profeta baiano se referindo à compra da refinaria de
Pasadena? Ou seria sobre a esticada da comitiva presidencial em
Lisboa no retorno ao Brasil? Teria a desmontagem da candidatura da Marina
alguma coisa que ver com isso? Não estaria falando o profeta sobre as notícias
veiculadas pelo governo sobre a (des)pujança da economia brasileira? Seria
sobre a indigência da educação pública no Brasil? Ou sobre a pobreza do apoio
médico brasileiro, com questões estruturais que jamais seriam solucionadas com
o programa Mais Médicos? Poderia ser sobre os investimentos brasileiros nas
ditaduras americanas e africanas? Haveria de ser pelo apoio dos mensaleiros à
reeleição do ano passado? Ou sobre o apoio dos petroleiros, esses que estão
trancafiados por um magistrado do Estado do Paraná? Ou quem sabe sobre a
propalada alegação de desconhecimento da agência Moody’s sobre a situação da
Petrobrás? Será que a sra. Catanhêde poderia esclarecer? Profeta! Articulista!
Eu só sei que nada sei; é isso que eu propugnava?”.
Aí apareceria Aristóteles asseverando, com mais um silogismo: “SE as indagações do sábio Sócrates sobre as
assertivas do profeta Barbosa forem respondidas afirmativamente; e SE
arquitetura da civilização ocidental desencadeada pelo sábio Platão estiver
sendo propositalmente contrariada; ENTÃO a verdade, a liberdade, a decência e a
justiça estão sendo conspurcadas no Brasil e, como corolário, as preocupações
da sra. Catanhêde estão justificadas e o perigo tem endereço
certo”.
Como seria divertido brincar com as reflexões dos moços de
Atenas sobre a realidade brasileira! Como seria cômico, se não fosse trágico –
tragédia expressa em crônicas antecipadas de insucessos garantidos,
inequívocos, cristalinos. Mas os brasileiros relutam em ver – pelo menos, desde
a conferência do estadista Rui Barbosa, na Associação Comercial do Rio de
Janeiro, em 1919!
E a oposição? Bem a base aliada paradoxalmente tornou-se
oposição de si própria, dificultando a atuação dos opositores. Não é incrível
este país chamado Brasil? Quem sabe a sra. Catanhêde poderia apelar para o sr. Aécio. Ora,
diante do cabelo inexcedivelmente bem talhado e do sorriso suave e enigmático
da apelante – não cito a Mona Lisa porque ela não é tão bonita; que venha para
cá um da Vinci! –, o mineiro poderia escorregar nas malhas dos encantos do
apelo. E agir. Ação! Ação! Oposição! [Ação ainda que tardia ou antes que seja
tarde demais; ou antes que se imponha a reação!].
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