quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Indigência de estadistas e outras

Em 31 de agosto do corrente ano, depois de um longo e moroso processo que durou nove meses, foi aprovado o impedimento da senhora Dilma Vana Roussef para o exercício do cargo de presidente da República. Lamentavelmente, contrariando a jurisprudência firmada em 1992 ─ em processo similar que afastou o senhor Fernando Collor de Melo ─ e afrontando dispositivo constitucional que preceitua que o impedimento é simultâneo com a suspensão dos direitos políticos durante oito anos, houve o fatiamento da disposição da Carta Magna e a senhora Roussef manteve seus direitos de ocupar cargo público, o que lhe permite o exercício pleno da cidadania a despeito de ter sido condenada por crime de responsabilidade.
Seria lícito asseverar que o impedimento da senhora Roussef estaria encerrando o ciclo político iniciado há trinta anos — e mencionado no texto “Comissão da Verdade”, de 26 de maio de 2012 (divulgado no Fórum de Leitores do Estadão e em http://ribeirosouto.blogspot.com.br/2012/05/verdde.html ), que trata da indigência dos estadistas que ocuparam a presidência da República após o regime militar iniciado em 1964. Entretanto, a assertiva sobre o fim de uma era não se coaduna com a realidade e com a verdade.
A rigor, neste momento de ruptura da administração federal, três dentre os problemas fundamentais da República continuarão intocados. São eles:
– a indigência de estadistas;
– a ausência de prioridade para educação; e
– o não reconhecimento da relevância do binômio ciência & tecnologia para povos e nações.
Não é demais enfatizar que os estadistas são a mola propulsora da evolução de qualquer país. Eles atuam com visão de futuro e com estabelecimento das melhores estratégias; conquistam a confiança, lideram, medeiam conflitos, planejam, orientam e empreendem; e assim obtêm os melhores resultados, colocando o país na vanguarda da história.
A educação deve ser a prioridade das prioridades de todas as ações governamentais. Nenhuma outra demanda da sociedade tem a faculdade de potencializar todas as forças do país como os investimentos em educação. Ademais, os educadores devem ser escolhidos na nata da juventude e, para isso, devem ser os mais valorizados servidores e devem ter os melhores salários do setor público; e a par disso nenhum dia do ano letivo deve ser perdido, com greve, doença de professores ou qualquer outro motivo. As demais medidas educacionais relevantes tornam-se conseqüência natural do estabelecimento da educação como prioridade absoluta, ancorado na questão primacial que é a valorização dos professores; sendo relevante asseverar que medidas políticas cosméticas — que, não raro, têm sido anunciadas na última década — são inoportunas, inconvenientes e ineficazes.
É imperioso considerar que desde a passagem do porrete para o arco e flecha, até a arma eletromagnética (quando e se for operacionalizada) ─ passando por todos os demais objetos resultantes da evolução humana ─, a ciência e a tecnologia têm sido (e serão) essenciais para qualquer passo evolutivo e, como tal, impulsionadoras de qualquer país, da condição de ator secundário, para a condição de potência global dominante.
Diante dos três problemas essenciais caracterizados, que ações devem ser desencadeadas? O que podem fazer cidadãos comuns, minimamente lúcidos; de boa fé e sobretudo desprovidos de preconceitos e descompromissados com quaisquer ideologias escravizantes e embotadores da faculdade de pensar? Mesmo sabendo tratar-se de ousadia incomum (e possivelmente inconveniente), apresento as seguintes ideias para avaliação, questionamento, abandono, aperfeiçoamento e/ou ampliação por parte de pessoas que crêem nos atributos mencionados e que se sentem comprometidas com a construção de um país melhor, mercê da conscientização de parcela expressiva da população:
– identificação de cidadãos com afinidade na forma de encarar a problemática brasileira, instituição de um grupo de atuação, estabelecimento de uma rede de comunicação e definição de uma plataforma de luta pelos objetivos colimados — inicialmente, em caráter local, por exemplo, em Brasília — e, posteriormente, com a ampliação para o âmbito nacional;
– formulação de objetivos estratégicos e operacionais de curto, médio e longo prazos para a atuação social e política do grupo de integrantes da rede estabelecida;
– instituição de grupos regionais (ou ampliação, caso existam) ─ sediados em todas as capitais da federação ─, com a participação de formadores de opinião, para debater os problemas nacionais e empreender ações visando à concretização dos objetivos colimados;
– identificação de especialistas em comunicação social para a formulação e o estabelecimento de rigorosa política de aproveitamento das potencialidades da mídia;
– atuação junto à imprensa, com o envio periódico de mensagem, de forma sistemática e coordenada em âmbito nacional e regional ─  incluindo resposta contundente a qualquer matéria que contrarie os objetivos colimados;
– exercício sistemático de pressão sobre os congressistas, com o envio de mensagem ─  são necessárias centenas, milhares para cada deputado ou senador ─, contendo o posicionamento satisfatório para o país;
– interação com intelectuais confiáveis, estimulando-os à adoção de atitude inequivocamente pró-ativa, com ênfase para aqueles que militam no magistério superior;
– estímulo aos filhos e amigos para que organizem (ou ampliem) redes de contatos pessoais e redes sociais com o objetivo de conscientização; melhoria da formação política e cidadã; estabelecimento de objetivos; e atuação conjunta em favor dos objetivos colimados;
– estabelecimento de medidas e procedimentos para o lançamento de candidaturas a cargos eletivos em todos as unidades da federação, de cidadãos identificados com a plataforma de luta — preferencialmente pertencentes ao(s) grupo(s) instituídos —  com o objetivo primordial de formar no Congresso Nacional uma poderosa bancada;
– estímulo à ampliação do número de professores universitários oriundos do(s) grupo(s) instituído(s), visando à oferta de contraposição às ideias contrárias ao desenvolvimento nacional baseado na verdade, liberdade, justiça e decência;
– identificação e divulgação de cidadãos oriundos da raça negra e das camadas mais pobres da população, como forma de combater as medidas contrárias à meritocracia; e
– outras ações resultantes da inteligência, qualificação e experiência.
Finalmente, devo asseverar que este texto se propõe a desafiar as melhores cabeças pensantes a identificar o discurso e, se for o caso, definir as ações ─ o que tentei iniciar, mas com certeza, não cheguei a bom termo — para atuação sistemática, coordenada e eficaz por parte de uma amostra de cidadãos que estejam imbuídos de patriotismo e amparados em coragem, capacitação e comprometimento para tentar alterar os rumos da evolução social e política do Brasil. Enfim a meta é aspirar e tentar uma transformação que se valha das potencialidades nacionais para a busca de uma Nação solidária, decente e justa, onde prevaleça a igualdade de oportunidades, a qualificação pessoal e profissional, e o mérito. Não pode ser perdido de vista que discurso equivale a palavras ao vento; o que importa é o conjunto de iniciativas, ações, empreendimentos, bem como a qualidade, a eficiência e a eficácia dos desafios a serem enfrentados.

Ademais, ao me propor a divulgar estas menores e modestas ideias, corro o risco de ter respostas que constrangem e ridicularizam. É um risco. E se o risco se tornar realidade? Parafraseando Galileu, a terra continuará rodando e os problemas essenciais brasileiros continuarão intocados!

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