segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O estadista e a liturgia de decisão

O ministro da Cultura, Marcelo Calero, pediu demissão. Ele alegou que foi pressionado pelo ministro da Secretaria de Governo, Gedel Vieira Lima, para obter do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), subordinado ao Ministério da Cultura, a liberação da construção de um prédio de 30 andares em Salvador. O ministro Gedel tinha interesse na aprovação do empreendimento porque era um dos compradores de apartamento da edificação. De acordo com aquele Instituto, o projeto não foi aprovado porque fora concebido com altura expressivamente superior ao gabarito vigente e, por essa razão, causaria impacto negativo ao patrimônio histórico da capital baiana.
A agressão aos bons costumes institucionais perpetrada por Gedel ocasionou crise nas instâncias governamentais de Brasília, com intensas pressões para seu afastamento do governo. Em face da importância do ministro nas articulações políticas do poder executivo, notadamente com o parlamento, o presidente da República, Michel Temer, anunciou que vai mantê-lo no cargo.

É imperioso considerar que, se o ministro Gedel tivesse consciência de suas responsabilidades de cidadão e tivesse estatura, atitude e coragem concernentes com sua elevada posição governamental, pediria demissão. Se o presidente fosse estadista e estivesse comprometido com a liturgia do cargo que ocupa, aceitaria o pedido e, de imediato, exoneraria o corajoso auxiliar; ou, não havendo pedido, tomaria a iniciativa de se livrar de quem não demonstrou aptidão ética para permanecer no ministério.

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