quarta-feira, 14 de junho de 2017

Pensar com o cérebro


Brilhante o artigo “O seu destino por um fio“ (Estadão de 7 de junho). No texto, o sr. Fernão Lara usou inexcedível talento, integridade intelectual e moral para asseverar “já o juiz venezuelizante é o milico de 64 modelo 2017, mas sem a reserva moral. Cava a entrada no jogo by-passando a regra porque é imoral. E este é vitalício. Não tem compromisso nenhum com o instituto do voto nem com a ideia de representação.”
Cabem indagações. Para quem está falando o sr. Fernão Lara? Em nome de quem está falando o sr. Fernão Lara? Do sr. Ruy Mesquita, do sr. Júlio de Mesquita? É difícil crer; eles se foram e merecem ser poupados. Ou em nome da intelectualidade, dos políticos e dos empresários?
Ou está falando em nome do nazi-comunismo? Refiro-me ao nazismo que torturou e assassinou 6 milhões de seres humanos, na década de 1940, na Alemanha — os nazistas torturavam pela fome durante muitos dias e depois encerravam o sofrimento nos fornos de cremação; e ao comunismo que torturou e assassinou 7 milhões de seres humanos, no mesmo período, na Ucrânia — os comunistas torturavam pela fome durante muitos dias e depois perpetuavam o sofrimento, pela fome, até a morte, atribuindo-se vantagem quantitativa e qualitativa em relação a seus congêneres.
Por desnecessário, deixo de relatar minha trajetória profissional e acadêmica, no Brasil e no exterior. Mas de qualquer sorte, o sr. Fernão Lara sabe com quem está falando? Por uma questão lógica e racional, exponho quem sou e ressalto minhas motivações.
 Aos cinco anos meu pai, um lavrador semianalfabeto, despendeu um magnífico esforço para me ensinar a ler, escrever e fazer as quatro operações. Ele chegou ao ponto em que eu passei a perceber e mencionar erros no que ele me ensinava. Ele reagiu com a rudeza que o caracterizava:
— Você aprenda do jeito que estou lhe ensinando. Mais tarde, você trate de aprender a coisa do jeito correto!.
Aos seis anos ele comprou uma pequena enxada e disse:
— Nessa questão das letras, já te ensinei tudo o que eu sabia. Agora você vai ver como trabalhar na enxada, dia após dia.
A partir daí, eu tinha que ir para a roça ajudá-lo nas lides da obtenção de alimentos. Quase tudo era produto dos braços dele. Passados seis meses ele afirmou:
— Agora, você sabe ler, escrever e fazer as quatro operações. E sabe também o que é pegar no cabo do guatambu, de sol a sol. Então, você tem que me dizer o que pretende: estudar e levar uma vida boa ou fazer como eu e derramar suor o tempo todo, não importando a estação do ano.
Quando fiz menção de responder, ele disse:
— Não. Você vai levar isso pro travesseiro, vai pensar bem e amanhã, eu quero a resposta.
No dia seguinte, na mesma hora, na parada de descanso, para fumar o palheiro, ele repetiu a pergunta. Sem hesitação, respondi que queria estudar. Ele enfatizou que tinha um problema. Eu iria para a cidade para a pensão da Isabel e do Chiquinho Madureira. Eles aceitaram me hospedar, mas como ele só tinha a metade do dinheiro prá pagar a mensalidade, eles propuseram que eu dormisse na rede em um corredor e aí eles faziam a metade do preço. Meu pai insistiu que a decisão era minha. Mantive a resposta e ele acrescentou:
— Às vezes, você vai ter vontade de chorar. Não vai ter ninguém prá te amparar. Enxugue a lágrima e pense que vou me esforçar e, daqui a alguns anos, vamos morar na cidade para que seus irmãozinhos também possam estudar. Aí, choraremos juntos, de alegria.
(Texto extraído do rascunho de um livro que estou escrevendo para minhas filhas, cujo nome provisório é ‘Uma trajetória diferente das demais’).
Suponho que tenha ficado claro porque passei uma parcela de minha vida construindo moradias, especialmente, para pessoas de baixa renda; uma parcela em sala de aula, transmitindo para alunos modestos o pouco que sabia (aos 23 anos, no ensino médio, e após o mestrado, na faculdade); e uma parcela à frente de projetos de pesquisa e desenvolvimento, porfiando pela redução da dependência externa.

Esta mensagem objetiva lembrar aos canalhas, aos imersos em má fé e aos covardes que os militares de 1964 (os milicos, como o articulista se refere com intenção depreciativa) combateram, venceram e impediram a prevalência do nazi-comunismo no Brasil. Cometeram erros, mas relembrá-los com a ênfase habitual  e típica de uma amostra do universo brasileiro, ignorando os acertos, macula a verdade e expressa canalhice, má fé e covardia recorrentes. Espero que o sr. Fernão Lara Mesquita (sic) a entenda, e se entender, é inequívoco que ele deve uma explicação. Que não pense pelos glúteos, agredindo indistintamente. Que utilize sua integridade intelectual e moral — com o cérebro e poupando as terminações  glúteas — para transmitir lição e agredir somente aqueles que, na sua visão, possam ter cometido atos reprováveis.

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