segunda-feira, 2 de julho de 2018

Viagem a Paris - Arco do Triunfo, Champs Elysées e imediações


19 de junho (terça-feira) – Passeio no Arco do Triunfo, na Av. Champs Elysées, ponte Alexandre III, praça de La Concorde e igreja Madeleine
A Laura foi a única a colocar o relógio para despertar. Acordou e voltou a dormir. Todos acordamos por volta de 10 horas. Perdemos o café grátis do hotel Lepic. Saímos e fomos tomar café na Brasserie Café Le Nazir, esquina da rue Lepic com rue Abesse.


Brasserie Café Le Nazir, Montmartre [1]

Brasserie Café Le Nazir, Montmartre [2]

        Voltamos para o hotel, fizemos a higiene, saímos, tomamos o metrô na estação Blanche (entre Pigalle e Place de Clichy),  tendo antes passado em frente ao Moulin Rouge. Da próxima vez, evitaremos esse percurso — por ele transitam turistas à procura de moças que buscam turistas para arranjar uns trocados, de forma não tão trabalhosa. Descemos na estação Charles De Gaulle.

Moulin Rouge

O Arco do Triunfo foi uma boa escolha para o início da jornada cultural e histórica. O monumento foi erigido para celebrar a vitória da França contra as forças da Áustria e da Rússia, constitui-se em uma síntese da grandeza da França que antecede o século XX e sinaliza o prenúncio do envolvimento do país nas duas grandes guerras subsequentes, as maiores da história da humanidade. 
A Batalha de Austerlitz, também conhecida como Batalha dos Três Imperadores, foi uma das maiores vitórias de Napoleão Bonaparte. Nesse evento épico, em 1805, o Império Francês derrotou um Exército Austro-Russo, liderado pelo czar Alexandre I da Rússia e pelo imperador Francisco II, da Áustria. Após a Batalha de Austerlitz, Napoleão prometeu que os soldados franceses voltariam para casa passando sob um arco triunfal. A obra monumental de 50 metros de altura foi iniciada no ano seguinte e terminada em 1836. Doze ruas da capital francesa, entre as quais a avenida de Champs-Elysées, irradiam do Arco dando-lhe o nome Arco do Triunfo da Estrela (l’Arc de Triomphe de l’Étoile), que o diferencia de outro arco menor que fica próximo do museu do Louvre — o Arco do Triunfo do Carroussel (l’Arc de Triomphe du Carroussel). Na atualidade, o Arco é o ponto de partida de paradas e celebrações de vitória. Dentre as atrações encontradas no piso e nas fachadas do Arco podem ser citadas (conforme dados do guia Eyewitness Travel Guides Paris, lidos para a meninas):
   a Partida dos Voluntários, alto relevo de François Rude, que celebra a partida dos cidadãos para defender a nação em 1792;
   o Funeral do General Marceau, baixo relevo que homenageia o comandante que venceu os austríacos em 1795 e foi morto no ano seguinte combatendo quem ele já havia derrotado;
   a Batalha de Aboukir, baixo relevo de Seurre o Velho, apresentando uma cena da vitória de Napoleão sobre o Exército Turco em 1799;
   a Batalha de Austerlitz, baixo relevo de Gechter, com a exaltação do Exército de Napoleão quebrando gelo no lago de Satschan, em 1805, na Áustria, para afundar milhares de soldados inimigos;
   o Triunfo de Napoleão, alto relevo de J P Cortot, que celebra o acordo de paz formalizado em 1810 pelo Tratado de Viena;
   o Túmulo de Victor Hugo, numa clara alusão à relevância das artes francesas;
   o friso que envolve o Arco em sua parte superior, de autoria de Rude, Brun, Jacquet, Laitié, Cailloutte e Seurre, o Velho — mostrando na fachada leste a partida do Exército Francês para novas campanhas; e na fachada oeste o retorno dos militares;
   os nomes dos oficiais do Exército Imperial, nas paredes internas dos arcos laterais;
   30 escudos distribuídos abaixo do teto, cada um com o nome de uma batalha vencida por Napoleão na Europa e na África; e
   o Túmulo do Soldado Desconhecido, onde foi sepultado um militar morto na Primeira Guerra Mundial.

Arco do Triunfo [1]

Arco do Triunfo [2]

Arco do Triunfo [3]

Arco do Triunfo [4]

Arco do Triunfo [5]

       Enfim, o maior monumento francês homenageia o Exército. Um povo grande de um país grande homenageia seus soldados. O povo brasileiro homenageia e acredita em seus militares; mas uma expressiva parcela de intelectuais, políticos, artistas e demais formadores de opinião possuem uma má vontade atávica com os militares brasileiros. Por que? Os integrantes da caserna contribuíram para a derrota do nazismo — cerca de 430 morreram nos campos de batalha na Itália em 1945; e tiveram atuação decisiva e fundamental para impedir a implantação do comunismo no País — cerca de 120 morreram no conflito de 1964, lutando pela prevalência dos ideais da verdade e liberdade; contra os mais de 400 patrícios que foram derrotados defendendo ideal hediondo. Essa vitória é até hoje imperdoável.
Iniciamos a caminhada pela avenida Champs-Elysées, satisfazendo a curiosidade em cada atração da mais famosa via urbana do mundo. 
Passamos em frente ao Lido, um misto de restaurante e cabaré — entendendo-se esta expressão como o designativo de casa de show de dança, nesse caso, de padrão internacional, onde as dançarinas não raro apresentam-se com os seios à mostra. Fiz questão de mencionar para as meninas, porque em 1994, na já citada viagem de serviço à França, os anfitriões proporcionaram um jantar para nossa comitiva no Lido. Olhando para a retaguarda, não tenho dúvida de que um convite desses é recusável e deve ser recusado. Estávamos representando o governo brasileiro, preparando a visita de um ministro de Estado que poderia fazer opções pela aquisição de material de defesa e, portanto, qualquer evento fora do que fosse imprescindível não devia, não podia e não pode ser aceito. Dessa experiência, retirei ensinamentos que pratiquei em eventos subsequentes, onde eu tinha responsabilidades em processos de interação com empresas nacionais e estrangeiras. Não há almoço ou jantar gratuito, foi o ensinamento precioso. Portanto, qualquer oferta adicional passou a ficar fora dos planos.

Casa de espetáculos Lido

Av. Champs Elysées

 Eu, Laura e Alessandra entramos na loja Cartier. Perguntei ao vendedor se tinha relógio modelo Santos Dumont. Ele fez-se de desentendido. Ante minha insistência, ele chamou um gerente com cara de oriental; em realidade, era um mongol. Fiz a mesma pergunta e ele mostrou-se surpreso, embora prestativo. Lembrei-lhe a origem do relógio de pulso; afirmei que, em 1906, o brasileiro Santos Dumont realizou, no campo de Bagatelle, em Paris, um voo de 220 metros, pilotando e conduzindo pela primeira vez na história uma parafernália mais pesada que o ar, o 14-Bis. Ademais, para facilitar o controle do tempo, quando estava pilotando, ele encomendou à Cartier um relógio para que não precisasse usar as mãos para ver as horas — com isso Santos Dumont propôs à humanidade a utilização do relógio de pulso. Acrescentei que estava com a pretensão de dar um relógio Cartier para minha sogra, brasileira de Vacaria; e um para cada uma das três netas da sogra. Enfim, refrescada a memória, o mongol passou a descrever e mostrar os relógios da coleção Santos, que a Cartier mantém até hoje, para lembrar o pioneirismo da empresa, infelizmente sem divulgar a genialidade, a originalidade e a visão prática do Pai da Aviação.
Na saída da loja Cartier, uma bronca de Isabel estava na ponta da língua, faiscante  e incomparável. Ela não percebeu que havíamos entrado na loja Cartier; então, durante cerca de meia hora, ela e Cecília nos procuraram, não nos encontraram e pensaram que tínhamos sido sequestrados. 
Devidamente bronqueado, fomos em frente. A loja Adidas caiu sob medida a nossos pés; quer dizer, aos pés de Cecília que estava com bolhas, pois saíra com um sapato novo e apertado. Entramos e foi um tal de experimenta aqui, experimenta ali, até que ela se agradou de um bom tênis, desses divulgado pelo Messi. Na hora de pagar, conversei um pouco com a moça do caixa. Acho que ela entendeu muito bem, especialmente quando disse: 
“Seulement les scientifique et les fous changent le monde; et comme je ne sui pas scientifique, je dois être fou; mais je ne dérange pas les petits enfants et je ne déchire le billet de 50 euros. Pourtant, je dois être fou mais pas tellement!”.
“Somente os cientistas e os loucos transformam o mundo; e como não sou cientista, devo ser louco; mas não perturbo as criancinhas e não rasgo nota de 50 euros. Portanto, sou louco mas nem tanto assim!”
A moça riu com muita vontade; claro, ela não está acostumada com gente de Rochedo. Paguei e levei bronca novamente; dessa vez, das meninas.
Seguimos observando e apreciando a Champs-Elysées. Atravessamos para a margem Sul. Vimos a loja do PSG, o time onde jogam os brasileiros Neymar, Tiago Silva e Marquinhos, o uruguaio Cavani e o francês Mbappé. A Laura sugeriu que fôssemos dar uma olhada. Acho que para ela e para todos nós foi interessante entrar no ambiente do time cujos jogos temos assistido com grande frequência pela televisão. Não poderia ser diferente: presenteamos Laura com uma camisa do clube francês.

Loja do PSG

No prosseguimento da caminhada, chegamos à estátua do General Charles De Gaulle, com a inscrição: 
“IL Y A UN PACTE VINGT FOIS SÉCULAIRE ENTRE LA GRANDEUR DE LA FRANCE ET LA LIBERTÉ DU MONDE” 
“HÁ UM PACTO MILENAR ENTRE A GRANDEZA DA FRANÇA E A LIBERDADE DO MUNDO”
Em 1941, após a invasão da França pela Alemanha, o então Coronel De Gaulle recusou-se a aceitar a rendição para os germânicos e contrapôs-se ao governo do Marechal Pétain, que se estabeleceu em Vichy, sob a tutela nazista. De Gaulle foi para Londres organizar as Forças Francesas Livres que lutou ao lado dos Aliados até a libertação da França. Durante seus dois períodos presidenciais, De Gaulle reconheceu o direito da mulher ao voto, em 1945, e deu a independência à Argélia, em 1962. O general também fixou as bases da aliança franco-alemã do pós-guerra e reformou a constituição francesa ao criar a Quinta República, em 1958.
Por ocasião da morte do estadista, Pierre Clostermann, o maior herói da aviação francesa, nascido no Brasil, afirmou:
“De Gaulle est mort hier soir. J’ai pleuré. Étai-ce sur moi ou sur la fin de quelque chose qui me dépasse? Comme l’a écrit Roman Gary, ami et mon compagnon dans l’Ordre de la Libération, dans Time USA: ‘An old man walked away, and took with him our youth.’ (Un vieil homme est parti emportant avec lui notre jeunesse.) — cette jeunesse que nous lui avion apportée volontairement à Londres!”
 “De Gaulle morreu ontem. Eu chorei. Por minha perda ou pelo fim de qualquer coisa que ainda me assombra? Como escreveu Roman Gary, amigo e camarada da Ordre da la Libération: ‘Um velho homem se foi, levando consigo nossa juventude.’— essa juventude que nós lhe entregamos voluntariamente em Londres.”
Ressalte-se que Romain Gary — da mesma forma que Clostermann, herói e piloto das Forças Aéreas Francesas Livres — foi o único escritor francês a ganhar duas vezes o prêmio Goncourt de literatura. Na segunda vez, ele utilizou um pseudônimo para fugir à norma que regia a premiação, de concessão uma única vez para o mesmo escritor.
Na cerimônia de inauguração do monumento, diante de oficiais e veteranos que lutaram com o herói na Segunda Guerra Mundial, o presidente Jacques Chirac asseverou que  "o general De Gaulle encarnou a França".

Monumento General De Gaulle

        Em seguida, passamos em frente ao Grand Palais, ao Petit Palais e chegamos à ponte Alexandre III. Essas três obras arquitetônicas icônicas e emblemáticas foram construídas ao mesmo tempo, para a Exposição Universal de 1900. O Grand Palais combina uma imponente fachada Clássica de pedra, com uma estrutura metálica, compondo um conjunto Art Nouveau; e colossais esculturas de cavalos voadores e respectivas carruagens na parte superior dos quatro cantos da edificação. O Petit Palais foi construído em estilo semelhante ao Grand Palais e abriga atualmente o Museu de Belas Artes da Cidade de Paris. A ponte Alexandre III é considerada a mais bela do rio Sena; e possui uma exuberante decoração Art Nouveau de lâmpadas, querubins, ninfas e cavalos alados nos corrimãos dos dois lados. De seu nível mais alto, tem-se uma esplêndida visão de várias pontos monumentais da capital francesa. Assim, podemos observar a torre Eiffel, o Museu dos Inválidos, a Assembleia Nacional e a praça da Concórdia.

Palácio Grand Palais

Palácio Petit Palais

Ponte Alexandre III [1]

Ponte Alexandre III [2]

Ponte Alexandre III [3]

É oportuno lembrar que a Exposição Universal de 1900 foi um evento mundial realizado em Paris, para celebrar as conquistas do século XIX e potencializar o desenvolvimento ao longo do século subsequente. A feira durou de abril a novembro de 1900. Os maiores destaques foram: os novos meios de transporte, emblematizado numa esteira rolante chamada “Rua do Futuro”; a inauguração da primeira linha de metrô da capital francesa, de Porte de Vincennes a Porte Maillot; as novas estações de comboio — d’Orsay, Invalides e Lyon; o uso pela primeira vez da eletricidade para iluminar ambientes externos; a construção dos prédios Petit e Grand Palais e da ponte Alexandre III; e o os Jogos Olímpicos de 1900, organizados durante a exposição.
Prosseguindo, chegamos à ponte de La Concorde, de onde se tem uma vista esplendorosa de locais históricos de grande valor. 
Olhando para o Sul vimos, na margem direita do rio Sena, a Assembleia Nacional francesa, construída, em 1722, em arquitetura grega, estilo coríntio, fachada com 12 colunas sob o triângulo com base longa; destinada à Duquesa de Bourbon, filha de Luís XIV; confiscada durante a Revolução francesa; e tornada sede do Parlamento francês em 1830. 
Olhando para o Norte, vimos em primeiro plano, a praça de La Concorde e, mais ao fundo, a igreja de Madeleine. A praça é uma das mais conhecidas e famosas do mundo. Sua superfície em forma de octógono cobre mais de 8 hectares. Foi construída em meados do século XVIII, inicialmente com o nome de Luís XV, por abrigar ao centro a estátua do rei.  Depois recebeu o nome de Praça da Revolução e teve a estátua real substituída pela guilhotina, que, em dois anos e meio, prestou-se para o corte fatal no pescoço de 1.119 pobres condenados, aí incluídos Luís XVI e sua esposa Maria Antonieta; e os líderes revolucionários Danton e Robespierre. Para recuperar o espírito de reconciliação, a praça foi rebatizada com o nome de La Concorde, teve a guilhotina substituída pelo obelisco egípcio de Luxor, de 3200 anos; recebeu duas magníficas fontes; e em cada um dos oito vértices foram acrescidas estátuas personificando cidades francesas importantes. 
Chegamos à última etapa da caminhada, a igreja Madeleine. A repetição da arquitetura grega, com suas colunas sob o triângulo contribui para eternizar a beleza com os gregos nos presentearam. Eu e Alessandra entramos na igreja. Havia o anúncio da apresentação das Quatros Estações de Vivaldi. Ao falar com Isabel, chegamos à conclusão de que teríamos que renunciar a esse programa irrenunciável. Tomamos o metrô na estação Madeleine e saltamos em Pigalle e fomos para o hotel.
Depois do banho, saímos para jantar. Fomos ao restaurante Le Basilic — localizado nas proximidades do hotel — aparentemente modesto, mas com a comida nos padrões habituais da maioria das casas francesas. Fomos atendidos por um garçom negro, de nacionalidade mali, que mostrou um desembaraço pouco habitual — comunicativo, brincalhão e com o pensamento ágil. Na saída, perguntei-lhe se era o proprietário ou o gerente; ele respondeu que era o proprietário. Ainda bem que usei a abordagem correta. É surpreendente que um cidadão africano do Mali consiga tornar-se proprietário de empresa na França. Não importa a circunstância, importam três fatores: talento, trabalho e liberdade para empreender. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário