segunda-feira, 2 de julho de 2018

Viagem a Paris - 18 a 24/Jun/2018 - Versão completa










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SUMÁRIO
Apresentação
16 de junho (sábado) – Final da preparação
17 de junho (domingo) – Viagem aérea Brasília-São Paulo e São Paulo-Paris
18 de junho (segunda-feira) – Viagem aérea São Paulo-Paris, caminhada em Montmartre e visita à basílica Sacré-Couer
19 de junho (terça-feira) – Passeio no Arco do Triunfo, na Av. Champs Elysées, ponte Alexandre III, praça de La Concorde e igreja Madeleine
20 de junho (quarta-feira) – Passeio na torre Eiffel, La Coupole, St-German-de-Près e Sorbonne
21 de junho (quinta-feira) – Visita ao museu do Louvre
22 de junho (sexta-feira) – Visitas às igrejas Notre Dame e Sainte-Chapelle
23 de junho (sábado) – Visita ao museu d’Orsay e passeio de BatoBus
24 de junho (domingo) – Viagem de trem TGV
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Apresentação
Com o objetivo de celebrar o aniversário de 15 anos de Cecília, Laura e Alessandra, por opção delas, nós decidimos viajar para a Europa. Neste texto, um misto de diário e relatório, apresentamos os fatos marcantes da viagem a Paris. Ele está organizado em 10 itens, correspondentes a esta apresentação, à véspera e a cada dia da viagem. Em outro artigo, com o título “Viagem a Londres – 24/Jun/2018”, serão relatados os detalhes do prosseguimento da viagem para a cidade de Londres.

16 de junho (sábado) – Final da preparação
Amanhã, nossas queridas filhas, Isabel e eu próprio embarcaremos para Paris, onde passaremos uma semana e depois seguiremos para Londres para passar cinco dias. É a primeira viagem ao exterior de nossas queridas filhas.
O principal objetivo é celebrar seus aniversários de 15 anos. A escolha não poderia ser melhor. Em Paris, eu e Isabel celebramos o réveillon de 2000. Em Londres, na Abadia de Westminster, eu dei-lhe provavelmente o presente mais significativo: um anel de brilhante. 
Para as meninas, vai ser especial não apenas pela data tão esperada de suas vidas, mas também porque elas já tomaram conhecimento em livros, em álbuns de fotos e em nossos relatos de curiosidades sobre essas duas cidades de enorme importância para seus países, bem como para a história da humanidade. 
Que tudo corra bem; que as expectativas sejam satisfeitas; que a alegria prevaleça; e que as meninas se sintam melhores, mais amadurecidas e mais felizes, nessa quadra mágica e inesquecível de suas vidas!

17 de junho (domingo) – Viagem aérea Brasília-São Paulo e São Paulo-Paris
Acordei cedo e antes do café matinal, contatei o José, que há mais de seis anos faz a manutenção de nossa piscina. É um profissional exemplar. Foi objeto de uma ação insana: estava voltando para casa de moto, foi atropelado, não foi socorrido pelo motorista, que fugiu. Ele fraturou duas costelas, machucou o joelho com alguma severidade e teve o baço atingido severamente (teve que extraí-lo, o que ocorreu com atraso, por falha inicial de diagnóstico). Enfim, vai permanecer no hospital pelo menos dois meses. Afora a notícia do pagamento mensal, minha mensagem essencial foi a ênfase que atribui ao fato de ele estar fora de perigo e, portanto com a vida assegurada. 
Em seguida, resolvi as demais questões pendentes e depois fui ao comércio comprar uma mala de mão e uma camiseta da seleção brasileira para a Laura. Voltei pra casa, conclui a arrumação da mala, etiquetei todas as demais malas da viagem e parei para o almoço. 
Isabel adquiriu o  galeto que tanto gostamos — feito à moda gaúcha na galeteria homônima. Após a refeição, retirei da churrasqueira alguns objetos que poderiam ser mais facilmente roubados se lá permanecessem; e ajustei o acendimento automático das luzes para melhorar a segurança da Casa em Cima do Mundo. 
Finalmente, chegou a hora da estreia do Brasil na Copa do Mundo da Rússia. O Brasil jogou contra a Suíça. No intervalo do jogo, tomei banho, com atraso de pelo menos meia hora. A Paula, motorista de táxi educada e pontual chegou às 16:30 h, conforme combinado. Fomos para o aeroporto, assistindo a partida na pequena TV do carro. O Brasil não jogou bem e com a ajuda do juiz — que deixou de dar falta de um atacante no zagueiro Miranda — a Suíça empatou e o jogo terminou 1 a 1. 
Chegamos ao aeroporto com duas horas de antecedência. Com o checkin já realizado, a entrega das malas foi rápida. Aproveitei o tempo disponível para enviar uma mensagem para os Generais de Exército da reserva Ferreira e Heleno, companheiros da equipe de conselheiros do candidato à Presidência Jair Bolsonaro. Pela relevância, relato de forma resumida o que transmiti para ambos.
"Em face da evolução do Bolsonaro para a primeira colocação nas pesquisas de opinião, os ataques dos adversários se intensificaram. Doravante, deverão aumentar exponencialmente, podendo chegar a níveis inimagináveis. Dentre os últimos ataques destaquei:
1) a acusação de que ele não tem ideias nem propostas de governo na área de segurança e insiste em afirmar que a solução é armar a população e causar mortes; 
2) em relação à área de educação, afirmam que como ele é autoritário, a única solução que ele preconiza é a militarização das escolas. 
Então, asseverei que o Bolsonaro deveria utilizar todas as oportunidades (discurso, entrevista e debate) para apresentar: três ideias-força em segurança e somente a quarta ideia-força seria a questão do armamento em contraposição ao desarmamento; três ideias-força em educação e somente a quarta ele mencionaria a militarização das escolas; e similarmente nos demais campos da gestão pública, ele deveria ter posicionamento semelhante. 
Em síntese, ele deveria ter no mínimo umas quinze ideias-força de seu governo; e para cada uma destas, haveria a quebra em três ou mais ideias básicas. Mencionei para os companheiros de aconselhamento que, agindo dessa forma, ele teria possibilidade de conquistar um bom percentual de eleitores indecisos e desencantados com a política." 
Faço o registro dessa mensagem para que no futuro haja a lembrança consentânea com um dos dois cenários possíveis. O primeiro deles, resultante da derrota do candidato Bolsonaro — aí haverá algum lamento nostálgico, dado que terei trabalhado por um objetivo frustrado; nesse caso, vale uma de minhas frases favoritas: “Gostaria de arrepender-me apenas do que fiz errado. Gostaria de jamais arrepender-me do que deixei de tentar fazer.” O segundo cenário, resultante da vitória do candidato Bolsonaro — aí recordarei com satisfação que tive a oportunidade de trabalhar na equipe que assessorou o candidato que se propunha a realizar a mudança de rumos do Brasil; de retirar o País de uma das maiores crises da história; crise moral, ética, política, econômica e, desafortunadamente, educacional.
Concluída e enviada a mensagem, fomos chamados para o embarque. Decolamos e chegamos em São Paulo na hora planejada. No aeroporto de Guarulhos, confirmar o checkin e passar pela alfândega foi fácil, tranquilo. Agora chegar ao Terminal 3 foi cansativo e até mesmo desagradável. Recebemos informação errada e tivemos que andar quase 20 minutos para chegar ao portão de embarque. Alguma dificuldade cria uma certa sensação de aventura e dá à viagem um certo sentido de quebra de expectativa. No horário planejado, embarcamos e em seguida decolamos. Meia noite coincidiu com os primeiros mil quilômetros no ar em direção à Cidade Luz.
A refeição na hora avançada não chegou a incomodar. Devo registrar que o jantar foi ótimo e o vinho mereceu reprise. Tudo indica que já estamos imersos na cultura culinária francesa. Reflito e não  tenho pejo (essa palavra existe? Se existe o que significa?) de lembrar que se ganhasse um grande prêmio da loteria, não alteraria de forma expressiva meu padrão de vida, mas seguramente faria um esforço enorme para que todo prato fosse um prato especial. A roça me deixou marcas e uma delas foi aprender o gosto da comida bem feita. Simples, modesta, mas irrepreensivelmente bem feita, bem condimentada, bem cozida e com o sabor inequivocamente agradável. A de hoje agradou à percepção, ao coração e à mente.

18 de junho (segunda-feira) – Viagem aérea São Paulo-Paris, caminhada em Montmartre e visita à basílica Sacré-Coeur
Consegui dormir pelo menos umas três horas. Acordei por volta de 6:00 horas, horário de Brasília; ou seja, 11:00 horas na França. Observando o mapa que a Laura estava acompanhando, estávamos passando nos limites de Portugal com o oceano Atlântico. Depois de algum tempo, pedi para a Laura identificar as cidades espanholas, e ela com enorme alegria identificou também Barcelona. Então, Cecília, como sempre observadora, mencionou que estávamos próximo de La Rochelle — ela se lembrou de um relato que fiz alguns anos antes: eu lá estivera, trabalhando, em 1994. Fiz questão de reprisar que, naquela viagem, fui de avião de Paris a Limoges e em seguida fui de carro  a Saint Yrieux, onde visitei instalações médicas do Exército Francês. Continuei de carro para La Rochelle. Estava na companhia dos coronéis Pavani, Araujo (médico), Paulo Assis e outro cujo nome me foge agora. A última etapa dessa volta em território francês, foi o retorno de trem-bala a Paris. Estivéramos também em Bourges e Rennes. Esses cinco oficiais — dentre os quais quatro foram promovidos a general — compuseram o destacamento precursor de uma visita à França do Ministro do Exército, General Zenildo Zoroastro de Lucena.
Continuando o sobrevoo da França, perguntei a Alessandra se ela se lembrava do que ocorrera no dia 6 de junho de 1944. Ela respondeu que foi a invasão da Normandia, o chamado Dia D, retratado no filme "O mais longo dos dias". Insisti no questionamento, pedindo para que mostrasse no mapa as praias da invasão e os respectivos nomes. Eu tive que relembrar para ela: Juno, Gold, Sword, Utah e Omaha.
O tempo passou celeremente e finalmente pousamos no aeroporto Charles De Gaulle. O Coronel Ronaldo Morais Brancalione, adido do Exército em Paris estava nos esperando com uma confortável Van. Eu não o conhecia pessoalmente. Ele confirmou a excelente impressão causada nos contatos feitos por WhatsApp — profissional, prestativo, mentalmente ágil e gentil. Depois dos cumprimentos, trocamos lembranças. Eu ganhei um 'Grand vin' Bordeaux, rótulo Chateau Lestrille,  e dei-lhe o livro "O Brasil que queremos", uma coletânea de artigos com análise dos principais campos da gestão pública voltados para a próxima Administração, cujo titular será eleito em outubro de 2018. 
O adido nos acompanhou até o hotel Lepic, próximo do Moulin Rouge, em Monmartre. O hotel não é bom, mas foi uma ótima solução emergencial possibilitada pela ação oportuna e eficaz do Brancalione. Devo enfatizar que havia reservado um apartamento nas proximidades da Torre Eiffel, em 30 de dezembro de 2017,  com seis meses de antecedência, tendo pago a metade no ato da reserva e a outra metade seria debitada automaticamente no cartão de crédito em maio. Em face de tentativa de fraude, o Banco do Brasil rejeitou o pagamento e a reserva foi cancelada. 
Então, depois de desarrumar as malas, fomos caminhando ladeira acima, identificando restaurantes e caraterísticas marcantes de Paris. Caminhamos até a basílica Sacré-Coeur, visitamo-la e curtimos intensamente esse ícone da arquitetura religiosa da capital francesa. Quase ao término da guerra franco-prussiana em 1870, dois homens de negócio, Alexandre Legentil e Rohault de Fleury, fizeram uma promessa de construir uma igreja dedicada ao Sagrado Coração de Cristo se a França fosse poupada do iminente ataque prussiano. Eles viveram o suficiente para ver Paris salva da invasão, a despeito de longo cerco — 4 meses com as tropas de Otto Von Bismarck à porta; os parisienses ficaram tão famintos que comeram todos os animais encontrados na cidade —, e presenciar o início da construção do que foi chamada basílica Sacré-Coeur. A torre tem uma altura de 83 m e contém um dos sinos mais pesados do mundo, 18,5 toneladas. Seu domo na forma ovóide é o segundo ponto mais alto de Paris, só perdendo para a Torre Eiffel.
Depois ainda com luz diurna, fomos jantar no restaurante La Mère Catherine, na Place Tertre, no coração de Monmartre. Foi uma boa estréia nas plagas parisienses. Voltamos para o hotel, imersos no intenso cansaço das longas 17 horas de viagem.

19 de junho (terça-feira) – Passeio no Arco do Triunfo, na Av. Champs Elysées, ponte Alexandre III, praça de La Concorde e igreja Madeleine
A Laura foi a única a colocar o relógio para despertar. Acordou e voltou a dormir. Todos acordamos por volta de 10 horas. Perdemos o café grátis do hotel Lepic. Saímos e fomos tomar café na Brasserie Café Le Nazir, esquina da rue Lepic com rue Abesse.
Voltamos para o hotel, fizemos a higiene, saímos, tomamos o metrô na estação Blanche (entre Pigalle e Place de Clichy),  tendo antes passado em frente ao Moulin Rouge. Da próxima vez, evitaremos esse percurso — por ele transitam turistas à procura de moças que buscam turistas para arranjar uns trocados, de forma não tão trabalhosa. Descemos na estação Charles De Gaulle.
O Arco do Triunfo foi uma boa escolha para o início da jornada cultural e histórica. O monumento foi erigido para celebrar a vitória da França contra as forças da Áustria e da Rússia, constitui-se em uma síntese da grandeza da França que antecede o século XX e sinaliza o prenúncio do envolvimento do país nas duas grandes guerras subsequentes, as maiores da história da humanidade. 
A Batalha de Austerlitz, também conhecida como Batalha dos Três Imperadores, foi uma das maiores vitórias de Napoleão Bonaparte. Nesse evento épico, em 1805, o Império Francês derrotou um Exército Austro-Russo, liderado pelo czar Alexandre I da Rússia e pelo imperador Francisco II, da Áustria. Após a Batalha de Austerlitz, Napoleão prometeu que os soldados franceses voltariam para casa passando sob um arco triunfal. A obra monumental de 50 metros de altura foi iniciada no ano seguinte e terminada em 1836. Doze ruas da capital francesa, entre as quais a avenida de Champs-Elysées, irradiam do Arco dando-lhe o nome Arco do Triunfo da Estrela (l’Arc de Triomphe de l’Étoile), que o diferencia de outro arco menor que fica próximo do museu do Louvre — o Arco do Triunfo do Carroussel (l’Arc de Triomphe du Carroussel). Na atualidade, o Arco é o ponto de partida de paradas e celebrações de vitória. Dentre as atrações encontradas no piso e nas fachadas do Arco podem ser citadas (conforme dados do guia Eyewitness Travel Guides Paris, lidos para a meninas):
   a Partida dos Voluntários, alto relevo de François Rude, que celebra a partida dos cidadãos para defender a nação em 1792;
   o Funeral do General Marceau, baixo relevo que homenageia o comandante que venceu os austríacos em 1795 e foi morto no ano seguinte combatendo quem ele já havia derrotado;
   a Batalha de Aboukir, baixo relevo de Seurre o Velho, apresentando uma cena da vitória de Napoleão sobre o Exército Turco em 1799;
   a Batalha de Austerlitz, baixo relevo de Gechter, com a exaltação do Exército de Napoleão quebrando gelo no lago de Satschan, em 1805, na Áustria, para afundar milhares de soldados inimigos;
   o Triunfo de Napoleão, alto relevo de J P Cortot, que celebra o acordo de paz formalizado em 1810 pelo Tratado de Viena;
   o Túmulo de Victor Hugo, numa clara alusão à relevância das artes francesas;
   o friso que envolve o Arco em sua parte superior, de autoria de Rude, Brun, Jacquet, Laitié, Cailloutte e Seurre, o Velho — mostrando na fachada leste a partida do Exército Francês para novas campanhas; e na fachada oeste o retorno dos militares;
   os nomes dos oficiais do Exército Imperial, nas paredes internas dos arcos laterais;
   30 escudos distribuídos abaixo do teto, cada um com o nome de uma batalha vencida por Napoleão na Europa e na África; e
   o Túmulo do Soldado Desconhecido, onde foi sepultado um militar morto na Primeira Guerra Mundial.
Enfim, o maior monumento francês homenageia o Exército. Um povo grande de um país grande homenageia seus soldados. O povo brasileiro homenageia e acredita em seus militares; mas uma expressiva parcela de intelectuais, políticos, artistas e demais formadores de opinião possuem uma má vontade atávica com os militares brasileiros. Por que? Os integrantes da caserna contribuíram para a derrota do nazismo — cerca de 430 morreram nos campos de batalha na Itália em 1945; e tiveram atuação decisiva e fundamental para impedir a implantação do comunismo no País — cerca de 120 morreram no conflito de 1964, lutando pela prevalência dos ideais da verdade e liberdade; contra os mais de 400 patrícios que foram derrotados defendendo ideal hediondo. Essa vitória é até hoje imperdoável.
Iniciamos a caminhada pela avenida Champs-Elysées, satisfazendo a curiosidade em cada atração da mais famosa via urbana do mundo. 
Passamos em frente ao Lido, um misto de restaurante e cabaré — entendendo-se esta expressão como o designativo de casa de show de dança, nesse caso, de padrão internacional, onde as dançarinas não raro apresentam-se com os seios à mostra. Fiz questão de mencionar para as meninas, porque em 1994, na já citada viagem de serviço à França, os anfitriões proporcionaram um jantar para nossa comitiva no Lido. Olhando para a retaguarda, não tenho dúvida de que um convite desses é recusável e deve ser recusado. Estávamos representando o governo brasileiro, preparando a visita de um ministro de Estado que poderia fazer opções pela aquisição de material de defesa e, portanto, qualquer evento fora do que fosse imprescindível não devia, não podia e não pode ser aceito. Dessa experiência, retirei ensinamentos que pratiquei em eventos subsequentes, onde eu tinha responsabilidades em processos de interação com empresas nacionais e estrangeiras. Não há almoço ou jantar gratuito, foi o ensinamento precioso. Portanto, qualquer oferta adicional passou a ficar fora dos planos.
Eu e Alessandra entramos na loja Cartier. Perguntei ao vendedor se tinha relógio modelo Santos Dumont. Ele fez-se de desentendido. Ante minha insistência, ele chamou um gerente com cara de oriental; em realidade, era um mongol. Fiz a mesma pergunta e ele mostrou-se surpreso, embora prestativo. Lembrei-lhe a origem do relógio de pulso; afirmei que, em 1906, o brasileiro Santos Dumont realizou, no campo de Bagatelle, em Paris, um voo de 220 metros, pilotando e conduzindo pela primeira vez na história uma parafernália mais pesada que o ar, o 14-Bis. Ademais, para facilitar o controle do tempo, quando estava pilotando, ele encomendou à Cartier um relógio para que não precisasse usar as mãos para ver as horas — com isso Santos Dumont propôs à humanidade a utilização do relógio de pulso. Acrescentei que estava com a pretensão de dar um relógio Cartier para minha sogra, brasileira de Vacaria; e um para cada uma das três netas da sogra. Enfim, refrescada a memória, o mongol passou a descrever e mostrar os relógios da coleção Santos, que a Cartier mantém até hoje, para lembrar o pioneirismo da empresa, infelizmente sem divulgar a genialidade, a originalidade e a visão prática do Pai da Aviação.
Na saída da loja Cartier, uma bronca de Isabel estava na ponta da língua, faiscante  e incomparável. Ela não percebeu que havíamos entrado na loja Cartier; então, durante cerca de meia hora, ela, Cecília e Laura nos procuraram, não nos encontraram e pensaram que tínhamos sido sequestrados. 
Devidamente bronqueado, fomos em frente. A loja Adidas caiu sob medida a nossos pés; quer dizer, aos pés de Cecília que estava com bolhas, pois saíra com um sapato novo e apertado. Entramos e foi um tal de experimenta aqui, experimenta ali, até que ela se agradou de um bom tênis, desses divulgado pelo Messi. Na hora de pagar, conversei um pouco com a moça do caixa. Acho que ela entendeu muito bem, especialmente quando disse: 
“Seulement les scientifique et les fous changent le monde; et comme je ne sui pas scientifique, je dois être fou; mais je ne dérange pas les petits enfants et je ne déchire le billet de 50 euros. Pourtant, je dois être fou mais pas tellement!”.
“Somente os cientistas e os loucos transformam o mundo; e como não sou cientista, devo ser louco; mas não perturbo as criancinhas e não rasgo nota de 50 euros. Portanto, sou louco mas nem tanto assim!”
A moça riu com muita vontade; claro, ela não está acostumada com gente de Rochedo. Paguei e levei bronca novamente; dessa vez, das meninas.
Seguimos observando e apreciando a Champs-Elysées. Atravessamos para a margem Sul. Vimos a loja do PSG, o time onde jogam os brasileiros Neymar, Tiago Silva e Marquinhos, o uruguaio Cavani e o francês Mbappé. A Laura sugeriu que fôssemos dar uma olhada. Acho que para ela e para todos nós foi interessante entrar no ambiente do time cujos jogos temos assistido com grande frequência pela televisão. Não poderia ser diferente: presenteamos Laura com uma camisa do clube francês.
No prosseguimento da caminhada, chegamos à estátua do General Charles De Gaulle, com a inscrição: 
“IL Y A UN PACTE VINGT FOIS SÉCULAIRE ENTRE LA GRANDEUR DE LA FRANCE ET LA LIBERTÉ DU MONDE” 
“HÁ UM PACTO MILENAR ENTRE A GRANDEZA DA FRANÇA E A LIBERDADE DO MUNDO”
Em 1941, após a invasão da França pela Alemanha, o então Coronel De Gaulle recusou-se a aceitar a rendição para os germânicos e contrapôs-se ao governo do Marechal Pétain, que se estabeleceu em Vichy, sob a tutela nazista. De Gaulle foi para Londres organizar as Forças Francesas Livres que lutou ao lado dos Aliados até a libertação da França. Durante seus dois períodos presidenciais, De Gaulle reconheceu o direito da mulher ao voto, em 1945, e deu a independência à Argélia, em 1962. O general também fixou as bases da aliança franco-alemã do pós-guerra e reformou a constituição francesa ao criar a Quinta República, em 1958.
Por ocasião da morte do estadista, Pierre Clostermann, o maior herói da aviação francesa, nascido no Brasil, afirmou:
“De Gaulle est mort hier soir. J’ai pleuré. Étai-ce sur moi ou sur la fin de quelque chose qui me dépasse? Comme l’a écrit Roman Gary, ami et mon compagnon dans l’Ordre de la Libération, dans Time USA: ‘An old man walked away, and took with him our youth.’ (Un vieil homme est parti emportant avec lui notre jeunesse.) — cette jeunesse que nous lui avion apportée volontairement à Londres!”
 “De Gaulle morreu ontem. Eu chorei. Por minha perda ou pelo fim de qualquer coisa que ainda me assombra? Como escreveu Roman Gary, amigo e camarada da Ordre da la Libération: ‘Um velho homem se foi, levando consigo nossa juventude.’— essa juventude que nós lhe entregamos voluntariamente em Londres.”
Ressalte-se que Romain Gary — da mesma forma que Clostermann, herói e piloto das Forças Aéreas Francesas Livres — foi o único escritor francês a ganhar duas vezes o prêmio Goncourt de literatura. Na segunda vez, ele utilizou um pseudônimo para fugir à norma que regia a premiação, de concessão uma única vez para o mesmo escritor.
Na cerimônia de inauguração do monumento, diante de oficiais e veteranos que lutaram com o herói na Segunda Guerra Mundial, o presidente Jacques Chirac asseverou que  "o general De Gaulle encarnou a França".
Em seguida, passamos em frente ao Grand Palais, ao Petit Palais e chegamos à ponte Alexandre III. Essas três obras arquitetônicas icônicas e emblemáticas foram construídas ao mesmo tempo, para a Exposição Universal de 1900. O Grand Palais combina uma imponente fachada Clássica de pedra, com uma estrutura metálica, compondo um conjunto Art Nouveau; e colossais esculturas de cavalos voadores e respectivas carruagens na parte superior dos quatro cantos da edificação. O Petit Palais foi construído em estilo semelhante ao Grand Palais e abriga atualmente o Museu de Belas Artes da Cidade de Paris. A ponte Alexandre III é considerada a mais bela do rio Sena; e possui uma exuberante decoração Art Nouveau de lâmpadas, querubins, ninfas e cavalos alados nos corrimãos dos dois lados. De seu nível mais alto, tem-se uma esplêndida visão de várias pontos monumentais da capital francesa. Assim, podemos observar a torre Eiffel, o Museu dos Inválidos, a Assembleia Nacional e a praça da Concórdia.
É oportuno lembrar que a Exposição Universal de 1900 foi um evento mundial realizado em Paris, para celebrar as conquistas do século XIX e potencializar o desenvolvimento ao longo do século subsequente. A feira durou de abril a novembro de 1900. Os maiores destaques foram: os novos meios de transporte, emblematizado numa esteira rolante chamada “Rua do Futuro”; a inauguração da primeira linha de metrô da capital francesa, de Porte de Vincennes a Porte Maillot; as novas estações de comboio — d’Orsay, Invalides e Lyon; o uso pela primeira vez da eletricidade para iluminar ambientes externos; a construção dos prédios Petit e Grand Palais e da ponte Alexandre III; e o os Jogos Olímpicos de 1900, organizados durante a exposição.
Prosseguindo, chegamos à ponte de La Concorde, de onde se tem uma vista esplendorosa de locais históricos de grande valor. 
Olhando para o Sul vimos, na margem direita do rio Sena, a Assembleia Nacional francesa, construída, em 1722, em arquitetura grega, estilo coríntio, fachada com 12 colunas sob o triângulo com base longa; destinada à Duquesa de Bourbon, filha de Luís XIV; confiscada durante a Revolução francesa; e tornada sede do Parlamento francês em 1830. 
Olhando para o Norte, vimos em primeiro plano, a praça de La Concorde e, mais ao fundo, a igreja de Madeleine. A praça é uma das mais conhecidas e famosas do mundo. Sua superfície em forma de octógono cobre mais de 8 hectares. Foi construída em meados do século XVIII, inicialmente com o nome de Luís XV, por abrigar ao centro a estátua do rei.  Depois recebeu o nome de Praça da Revolução e teve a estátua real substituída pela guilhotina, que, em dois anos e meio, prestou-se para o corte fatal no pescoço de 1.119 pobres condenados, aí incluídos Luís XVI e sua esposa Maria Antonieta; e os líderes revolucionários Danton e Robespierre. Para recuperar o espírito de reconciliação, a praça foi rebatizada com o nome de La Concorde, teve a guilhotina substituída pelo obelisco egípcio de Luxor, de 3200 anos; recebeu duas magníficas fontes; e em cada um dos oito vértices foram acrescidas estátuas personificando cidades francesas importantes. 
Chegamos à última etapa da caminhada, a igreja Madeleine. A repetição da arquitetura grega, com suas colunas sob o triângulo contribui para eternizar a beleza com os gregos nos presentearam. Eu e Alessandra entramos na igreja. Havia o anúncio da apresentação das Quatros Estações de Vivaldi. Ao falar com Isabel, chegamos à conclusão de que teríamos que renunciar a esse programa irrenunciável. Tomamos o metrô na estação Madeleine e saltamos em Pigalle e fomos para o hotel.
Depois do banho, saímos para jantar. Fomos ao restaurante Le Basilic — localizado nas proximidades do hotel — aparentemente modesto, mas com a comida nos padrões habituais da maioria das casas francesas. Fomos atendidos por um garçom negro, de nacionalidade mali, que mostrou um desembaraço pouco habitual — comunicativo, brincalhão e com o pensamento ágil. Na saída, perguntei-lhe se era o proprietário ou o gerente; ele respondeu que era o proprietário. Ainda bem que usei a abordagem correta. É surpreendente que um cidadão africano do Mali consiga tornar-se proprietário de empresa na França. Não importa a circunstância, importam três fatores: talento, trabalho e liberdade para empreender. 
Descansar era preciso.

20 de junho (quarta-feira) – Passeio na torre Eiffel, La Coupole, St-German-de-Près e Sorbonne
Em face de uma melhor adaptação à diferença de fuso horário (5 horas mais tarde que em Brasília), conseguimos acordar um pouco antes de 9 horas e assim tomar o café da manhã no hotel. Em Paris como de resto em toda França, qualquer refeição é de qualidade satisfatória. 
Com a tranquilidade requerida, partimos da estação Blanche em direção à estação Charles De Gaulle, baldeamos para a linha  6 para chegar à estação Tour Eiffel. Seguiu-se uma caminhada de cerca de 20 minutos, por um caminho não pavimentado, caracterizado por várias obras de manutenção e melhoria das cercanias da torre. Depois ficamos cerca de uma hora em uma longa fila para a compra de ingressos. Às vezes, algum desconforto é inevitável.
A Laura pediu para não ir ao topo da torre, então ela e Isabel optaram pelo acesso à primeira escala da subida. Eu, Alessandra e Cecilia decidimos ir até o topo. Como o dia estava ensolarado, foi possível desfrutar ao máximo a magnífica visão de uma das mais belas cidades do mundo. Procurei mostrar para as meninas, lá do alto, os pontos mais famosos de Paris: Arco do Triunfo da Estrela, Petit Palais, Grand Palais, Les Invalides, Trocadero, Assembleia Nacional, Louvre, Notre Dame etc.
A demora na compra dos ingressos e no acesso à torre, levou-nos a cancelar uma caminhada e visita ao museu Les Invalides e imediações. Por isso, fomos de metrô, partindo da estação Bir-Hakeim, para o restaurante La Coupole, chegando na estação Edgar-Quinet. Ir ao La Coupole foi uma opção nossa, como ponto alto da celebração dos quinze anos das meninas através da viagem que elas escolheram para vivenciar esse marco de suas existências. No passado, fui duas vezes com Isabel e uma vez sozinho neste simples porém magnífico restaurante. A escultura central, La Terre, do artista Pierre Debret e as pinturas no terço mais alto das colunas formam um conjunto belíssimo e sofisticado, valorizado por espelhos colocados de forma apropriada para que olhemos e fiquemos com a sensação de infinito. No almoço, com pratos eternos da cozinha 'coupoleana' — tivemos momentos de satisfação indescritível. Quando foi servido um Bordeaux Superieur, não hesitei e sugeri um brinde às aniversariantes.
Após uma providencial caminhada na Boulevard de Monmartre, tomamos o metrô na estação Edgar Quinet e descemos na estação Saint Germain-de-Près, que fica bem ao lado da igreja homônima. Do lado de fora, essa igreja não tem atrativos, até porque parece que sofreu danos e não foi recuperada. Há manutenção no interior, o que não impede que uma parcela de sua inigualável beleza e harmonia estejam ao alcance dos olhos e da mente. É magnífica. Além disso, assistimos ao ensaio de uma apresentação lírica, com acompanhamento de uma orquestra maravilhosa. Ademais, cartazes anunciavam que no sábado, haverá a apresentação de "As quatro estações", aquela que deixamos de ver na igreja de Madeleine dois dias antes. Complemento a posteriori: essa nova oportunidade foi desperdiçada.
Saímos da igreja e passamos em frente ao Café Deux Magots, famoso pela frequência de Picasso, Hemingway e outros do mesmo naipe. Logo depois veio o café De Flores, famoso por razões similares — ou seja, pelos encontros da boemia que se aglutinava em Paris, sobretudo na primeira metade do século passado. Mas nosso destino seguinte foi a livraria  L'Ecune des Pages. Isabel comprou dois livros e eu dei uma bisbilhotada para ver o prestígio brasileiro — que decepção! Não encontrei nenhum título da terra à mostra nos boxes dos livros em evidência. Corrijo-me, havia um único autor brasileiro presente: Paulo Coelho. Indaguei ao vendedor — que como bom francês, não se mostrou minimamente interessado — se existia alguma obra referente a Santos Dumont. Inicialmente, ele demonstrou desconhecer quem era o conterrâneo; depois que lhe expliquei, disse um "Ah! ..."  e confirmou não haver qualquer registro em seu sistema. Surpreso, agradeci e resolvi sair.
Era chegada a hora do retorno, especialmente para Cecília e Laura. Decidimos que Isabel e elas voltariam para o hotel. Eu e Alessandra iríamos continuar e passar em frente da Universidade Sorbonne. 
A igreja Saint Germain-de-Près é bem próxima da mais conhecida universidade francesa. Então, caminhamos na Boulevard Saint Germain, no sentido oposto ao que fizéramos para chegar à livraria. Depois de dois quarteirões, chegamos ao prédio da Université Renés Descartes. Era a Sorbonne ou não era? Fotografamos e continuamos. Batemos a cara na École de Medecine. A alegria da Alessandra foi contagiante. Não tivemos dúvida em entrar, satisfazendo a enorme curiosidade. E qual não foi a surpresa: demos numa festa, com salgados e vinhos, entre os quais champanhe; e ao conversar com um senhor que estava meio isolado, ficamos sabendo que se tratava da celebração do final de período letivo de 2017/2018 e o início das férias. Deslocamo-nos para um hall contíguo, a partir de onde se tinha acesso à outra dependências da Faculdade. Na porta de um desses acessos, havia duas esculturas, uma de Paracelso e outra provavelmente de Hipócrates. Alessandra não hesitou, sacou sua câmera e começou a fotografar. Aí apareceu um careca jovem e grandalhão, com cara de pouco amigo e disse que deveríamos sair. Tentei lhe explicar que tinha autorização de um gentleman, mas ele atribuindo-se responsabilidade pelo acesso àquele ambiente, afirmou que tínhamos que sair imediatamente. Saímos, com a satisfação de quem tinha sido penetras eficazes, já que cumprimos a meta essencial: ver, observar e admirar o que nem mesmo planejáramos. Caminhamos por uma via diferente daquela pela qual chegáramos. Passamos por vários jovens, possivelmente acadêmicos, consumindo maconha e outras drogas. Apressamos o passo, pois esse tipo de  cena surpreende, choca e amedronta. Chegamos à Place de l'Odeon, onde fica o Theatre Odeon de l'Europe, uma edificação suntuosa, e que quebra não apenas a sisudez arquitetônica mas sobretudo, o que imagino seja, a sisudez do ambiente de estudos de qualquer escola de alto nível. Chegou a hora de retornar para o hotel.
Isabel sugeriu que saíssemos para lanchar. Optamos por comprar sanduíches em um café que já estava fechando e voltamos para o hotel.

Curiosidades sobre Sorbonne.
A Universidade Sorbonne da Cidade de Paris (L’Université Sorbonne-Paris-Cité) é uma comunidade de universidades e centros tecnológicos, criada em 2010, resultante do reagrupamento de estabelecimentos de ensino superior e institutos de pesquisa da cidade de Paris e da região de Seine-Saint-Denis. Essa comunidade compreende treze membros: oito estabelecimentos de ensino superior e cinco institutos de pesquisa. Conquanto reagrupadas em torno da citada comunidade, cada organização manteve a sua individualidade. Elas são:
Estabelecimentos de ensino superior e de pesquisa
·    Escola de Altos Estudos em Saúde Pública (EHESP)
·    Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (INALCO, Langues O)
·    Instituto de Estudos Políticos de Paris(Sciences Po)
·    Instituto de Física do Globo de Paris
·    Fundação Casa de Ciências do Homem(FMSH)
Organismos de pesquisa
·     Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS)

Entre 2010 e 2017 existiu a Sorbonne Universidades (Sorbonne Universités) que era o resultado do reagrupamento da Universidade Paris-Sorbonne (Université Paris-Sorbonne) e a Universidade Pierre-et-Marie-Curie — tendo similarmente, as duas organizações, mantido a sua individualidade. Em 1º de janeiro de 2018, houve a fusão da Paris-Sorbonne com a Pierre-et-Marie-Curie e surgiu a nova Universidade Sorbonne Université.

21 de junho (quinta-feira) – Visita ao museu do Louvre
Hoje, acordamos mais cedo. A programação de Isabel previa a ida ao Museu do Louvre. Ela não conseguiu comprar os ingressos pela Internet. E a recomendação é chegar cedo para reduzir o tempo de espera na fila. Tomamos café com calma. Acessamos o metrô na estação Blanche, seguimos até a estação Charles De Gaulle, aí mudamos para a Linha 1, e depois desembarcamos na estação Louvre Rivoli.
Surpreendentemente, a fila era insignificante e pudemos iniciar a visita quase de imediato. Não nos preparamos de forma adequada, pois estando com as meninas deveríamos ter organizado um roteiro que permitisse eficácia no percurso e na observação das obras. Ainda assim, é uma atividade que só evanescerá da lembrança quando a poeira do tempo tiver concluído sua missão final. Vou mencionar apenas os destaques de nossa andança artístico-cultural: Mona Lisa, Vênus de Milo, Vitória de Samotrácia, as esculturas greco-romanas, as fachadas e esculturas persas. Devo confessar que antes do final da caminhada, senti-me exausto e pedi que Isabel e as meninas continuassem, enquanto eu ficaria descansando num banco no enorme hall da entrada. Cecília decidiu ficar comigo — por cansaço ou solidariedade? Talvez por ambos. Foi uma atitude acertada, pois recuperei as energias que pareciam perdidas.
Descobrimos que o ingresso dava direito à visita da exposição do Delacroix e seu emblemático quadro "Liberdade conduzindo o povo". Apenas um lamento: não dispor de umas duas horas para observar com a calma requerida, quadro a quadro, esse evento singular.
De uma forma ou de outra, com duas horas ou duas semanas, ir ao Louvre é incomparável, inexcedível e magnificamente agradável e enriquecedor. Assim, tivemos a oportunidade única de ver ou rever um sem número de obras maravilhosas. Vou citar aquelas que apreciamos com mais gosto. Dentre as esculturas:
Philopoemen, em mármore, 1837, de Pierre-Jean David;
Joana d’Arc escutando sua voz, em mármore, 1852, de François Rude;
Napoleão acordando para a imortalidade, em gesso, 1846, de François Rude;
Prometeu, em mármore, 1827, de James Pradier;
O soldado de Maratona anunciando a vitória, em mármore, 1834, de Jean-Pierre Cortot;
Napoleão em triunfo, em chumbo, 1808, François Frédéric Lemot;
Vênus, em mármore, 1767, de Christophe Gabriel Allegrain;
Vênus ensinando Cupido a usar sua flecha, mármore, 1760, Louis Claude Vassé;
Painel de tijolos: leão passando, Babilônia, época neo-babilônica, reino de Nabucodonosor II (604-562 a. C.)
Painel de tijolos: guerreiros, Babilônia, época neo-babilônica, reino de Nabucodonosor (604-562 a. C.);
Coluna de Apadana, Persépolis, Pérsia (hoje, Irã), 515 a. C.;
Painel de tijolos: arqueiros no palácio de Dario I, em Susa, 510 a. C.;
Painel de tijolos: arqueiros persas - I, Persépolis, Pérsia, 515 a. C.;
Painel de tijolos: arqueiros persas - II, Persépolis, Pérsia, 515 a. C.;
Painel de tijolos cinza: leão passando, Persépolis, Pérsia, 515 a. C.;
Vitória de Samotrácia (deusa grega Nice), em mármore, 190 a. C., de Pythokritos;
Vênus de Milo, em mármore, século II a. C., de Alexandre de Antioquia;
A Pallas de Velletri (deusa Atena, da sabedoria), em mármore — réplica de antigo bronze, de 430 a. C., de Cresilas;
 Vaso de Pérgamo – vaso funerário em mármore, decorado com 15 cavaleiros em baixo relevo), do século II a. C. (oferecido como presente, em 1837, pelo sultão Mohamad II ao rei Louis-Philippe);
Artemis, deusa da caça, conhecida como Diana de Versalhes; século IV a. C.;

     Dentre as pinturas, destacam-se:

           A virgem e o menino, em majestade, rodeado por seis anjos;
                 1280, de Cenni di Pepe, dito Cimabue;
          Mona Lisa, 1506, de Leonardo da Vinci;
          A liberdade guiando o povo, 1830, de Eugène Delacroix;
          Grécia nas ruínas de Mussolonghi, 1826, de Eugène
                  Delacroix.

                          NOTAS
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Vitória de Samotrácia
Conta a história que Pythokritos, um ainda novato escultor grego, sem muita fama e com um currículo artístico minguado, teria sido o criador desta mulher alada, tida como “a beleza em velocidade”, uma obra-prima da época helenística. 
Para exaltar a originalidade de seu estilo e a imponência de sua forma, foi decidido que deveria ficar em um local que chamasse a atenção, preferencialmente bem no alto, no topo de algo, olhando para o mar aberto. E assim foi feito… A mulher alada foi colocada na proa de um navio, indicando a vitória dos guerreiros de Rhodes sobre o persa (que reinou sobre a Grécia) Antiochus III (222-187 a.C.). Esta era uma maneira comum dos gregos expressarem sua homenagem aos heróis de guerra.
A Vitória de Samotrácia foi concebida através da união de seis blocos de mármore, uma tradição da escultura grega, que costumava utilizar diferentes pedaços de pedra para esculpir suas obras de arte.
Ela foi descoberta em 1863 por Charles Champoiseau, arqueologista e cônsul francês em Adrianople, em uma colina na Ilha de Samotrácia, daí a razão de seu nome. Destruída pela ação do tempo, o arqueologista a encontrou fragmentada em 118 pedaços.
A estátua só foi remontada no próprio Museu do Louvre, quando por lá aportou em 1864. No entanto, um dos mistérios que rodeiam Samotrácia nunca foi solucionado: sua cabeça parece ter se perdido para sempre. Ainda nos dias atuais, ela é tida como uma das maiores expressões de arte da Era Helenística. 
Para refrescar a memória, a Era Helenística marcou a transição da civilização grega para a romana. Convencionou-se chamar de civilização helenística a que se desenvolveu fora da Grécia, sob a influência do espírito grego. Esse período histórico medeia entre 323 a.C., data da morte de Alexandre III (Alexandre, o Grande), e 30 a.C., quando se deu a conquista do Egito pelos romanos.
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Vênus de Milo
Segundo Marianne Hamiaux, a escultura Vênus de Milo foi desenterrada em 8 de abril de 1820 pelo camponês Yorgos Kentrotas, perto da cidade antiga da ilha de Milo (também conhecida como Milos ou Melos), no mar Egeu, então parte do Império Otomano.
A Vênus foi embarcada em um navio francês e seguiu para Constantinopla, onde foi entregue para Rivière e mantida oculta dos oficiais turcos. Rivière coincidentemente fora chamado para um novo cargo em Paris, levando-a consigo, não sem passar novamente por Milo para averiguar se não haveria outras relíquias à venda. Chegando em Marselha em 1 de dezembro de 1820, entregou a carga para o enviado dos Museus Reais, que a despachou para Paris junto com outros fragmentos. Em 1821 Rivière finalmente a ofereceu ao rei Luís XVIII, que então a doou para o Museu do Louvre, oficialmente como uma obra-prima da prestigiosa geração clássicae atribuída ao círculo de Praxíteles, tornando-se uma celebridade instantânea.
Como é típico da arte do Helenismo, a Vênus de Milo é uma obra estilisticamente eclética, pois os artistas do período apreciavam recuperar, em combinações novas, elementos de estilos mais antigos como sinal de erudição e como prova de maestria técnica. Ivan Zoltovskij identificou que suas proporções seguem a seção áurea, um cânone clássico por excelência, enquanto que obras helenísticas usualmente possuem formas mais alongadas. O ar impassível de seu semblante e a harmonia dos traços da face são comuns ao século V a.C., do chamado Alto Classicismo, enquanto que o estilo do penteado e o delicado modelado do corpo apontam para o século IV a.C., do Baixo Classicismo. A sua postura geral com um movimento espiralado, os seios pequenos e o padrão das dobras do seu manto, por outro lado, concordam com as inovações formais introduzidas pelos escultores helenistas.
Isso não impede que a estátua possa ser, alternativamente, uma derivação helenística de um original clássico perdido. Atribui-se então que teria sido esculpida no século II a. C.
(Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Vênus_de_Milo, consultada em 2/Jul/2018)
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Mona Lisa
A obra Mona Lisa("Senhora Lisa") também conhecida como A Gioconda (em italiano: La Gioconda, "a sorridente"; em francês, La Joconde) ou ainda Mona Lisa del Giocondo ("Senhora Lisa esposade Giocondo") é a mais notável e conhecida obra de Leonardo da Vinci, um dos mais eminentes homens do Renascimentoitaliano.
Sua pintura foi iniciada em 1503e é nesta obra que o artista melhor concebeu a técnica do sfumato. O quadro representa uma mulher com uma expressão introspectiva e um pouco tímida. O seu sorriso restrito é muito sedutor, mesmo que um pouco conservador. O seu corpo representa o padrão de beleza da mulher na época de Leonardo. Este quadro é provavelmente o retrato mais famoso na história da arte, senão, o quadro mais famoso e valioso de todo o mundo. Poucos outros trabalhos de arte são tão controversos, questionados, valiosos, elogiados, comemorados ou reproduzidos.
Muitos historiadores da arte desconfiavam de que a reverência de Da Vinci pela Mona Lisa nada tinha a ver com sua maestria artística. Segundo muitos afirmavam devia-se a algo muito bem mais profundo: uma mensagem oculta nas camadas de pintura. Se observarem com calma verá que a linha do horizonte que Da Vinci pintou se encontra num nível visivelmente mais baixo que a da direita, ele fez com que a Mona Lisa parecer muito maior vista da esquerda que da direita. Historicamente, os conceitos de masculino e feminino estão ligados aos lados — o esquerdo é feminino, o direito é o masculino.
A pintura a óleo sobre madeirade álamo encontra-se exposta no Museu do Louvre, em Paris, e é uma das suas maiores atrações.
HISTÓRIA. A pintura foi trazida da Itáliapara Françapelo próprio Leonardo, em 1506, quando este foi convidado pelo rei Francisco I de Françapara trabalhar na sua corte. Francisco teria então comprado a pintura, que passou a estar exibida em Fontainebleaue, posteriormente, no Palácio de Versailles.
Só após a Revolução Francesao quadro foi exposto no Museu do Louvre, onde se conserva até hoje. O imperador Napoleão Bonaparteficou apaixonado pelo quadro desde a primeira vez que o viu, e mandou colocá-lo nos seus aposentos. Porém, durante as guerras com a Prússia, a Mona Lisa, bem como outras peças da coleção do museu francês, foram escondidas em um lugar seguro.
A 22 de agosto de 1911, cerca de 400 anos após ser pintada por Leonardo da Vinci, a Mona Lisa foi roubada. Muitas pessoas, incluindo o poeta francês Guillaume Apollinairee o pintor espanholPablo Picasso, foram presas e/ou interrogadas sob suspeita do roubo da obra-prima da pintura italiana. Quanto a Guillaume Apollinaire e a Pablo Picasso, foram soltos meses mais tarde.
Acreditou-se, que a pintura estava perdida para sempre, que nunca mais iria aparecer. Porém, a obra apareceu na Itália, nas mãos de um antigo empregado do museu onde a obra estava exposta, Vincenzo Peruggia, que era de fato, o verdadeiro ladrão.
Em 1956, um psicopata jogou ácido sobre ela, danificando parte inferior da obra; o processo de restauração foi demorado. No mesmo ano, um bolivianojogou uma pedra contra a obra, estragando parte da sombra no olho esquerdo da musa de Da Vinci, sombra esta que é comumente confundida com uma sobrancelha, porção de pelos que a Mona Lisa não tem.
Em 2 de agosto de 2009, uma mulher russajogou uma xícara vazia de café contra o quadro. A pintura não foi danificada, pois a xícara quebrou na proteção de vidro à prova de balas que existe antes do painel. Segundo as autoridades, a mulher só fez isso porque estava indignada após não conseguir a cidadania francesa. A russa foi presa imediatamente.
IDENTIDADE DO MODELO. Muitos historiadores da arte acreditam que o modelo usado para a pintura pode ter sido a esposa de Francesco del Giocondo, um rico comerciante de seda de Florençae uma figura proeminente no governofiorentino. Acredita-se também que estes eram vizinhos de Leonardo Da Vinci. Esta opinião fundamenta-se numa indicação feita por Da Vinci durante os últimos anos de sua vida, a propósito de um retrato de uma determinada senhora florentina feita da vida ao pedido do magnífico Juliano de Médici. O primeiro biógrafo de Da Vinci, Vasari, também pintor, descreve o retrato como sendo o de Mona Lisa, esposa do cavalheiro florentino Francesco del Giocondo.
As notas de Agostino Vespucci na Biblioteca da Universidade de Heidelberg
Em 2008, essa hipótese é a mais aceita, sendo, inclusive, respaldada por cientistas da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, que afirmam terem encontrado um documento com clara referência a um retrato de Lisa del Giocondo que estaria sendo realizado por Leonardo.
A identidade da modelo sendo Lisa del Giocondo, mulher de um comerciante florentino, Francesco del Giocondo, com base em notas escritas de Agostino Vespucci de 1503, encontradas na biblioteca da Universidade de Heidelberg. Descobriu-se também que Lisa tinha sido mãe recentemente, e o retrato foi feito um pouco em comemoração da recente maternidade.
(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa, consultada em 2/Jul/2018)
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A liberdade guiando o povo
A Liberdade guiando o povo (em francêsLa Liberté guidant le peuple) é uma pintura de Eugène Delacroix em comemoração à Revolução de Julho de 1830, com a queda de Carlos X. Uma mulher representando a Liberdade, guia o povo por cima dos corpos dos derrotados, empunhando a bandeira tricolor da Revolução francesa em uma mão e brandindo um mosquete com baioneta na outra.
Delacroix retratou a Liberdade, como figura alegórica de uma deusa e como uma robusta mulher do povo. O monte de cadáveres funciona como uma espécie de pedestal, do qual a Liberdade se lança, descalça e com o peito meio descoberto, da tela para o espaço do espectador. Ela usa barrete frígioque se tornara símbolo da liberdade durante a Primeira República Francesa(1789-1794). Ela segura pelo mastro uma bandeira tricolor, que ocupa o eixo médio da tela. A pintura tem sido vista como um marco do fim da Era do Iluminismo, já que muitos estudiosos identificam o fim da Revolução Francesacomo o início da Era Romântica.
Distinguem-se quatro outros personagens à beira da barricada. Há dois meninos de rua — um deles, usando uma boina e segurando duas pistolas, pode ter sido a inspiração para o personagem Gavroche, de Les Misérablesde Victor Hugo; o outro, abaixado, quase rente ao solo, usa um boné de policial e segura uma espada. Há também um homem de cartola, o que sugere se tratar de um burguês, e, atrás dele, um proletário, usando uma boina e com um sabre na mão. Atrás, pode-se ver um estudante da prestigiosa École Polytechnique, identificado pelo tradicional bicorne.  O que todos têm em comum é o olhar intenso e determinado. Ao longe, emergindo da densa névoa, veem-se as torres de Notre-Dame. A identidade do homem da cartola tem sido amplamente debatida. A sugestão de que seria um auto-retrato de Delacroix foi eliminada pelos historiadores da arte moderna. No final do século XIX, foi sugerido o diretor teatral Étienne Arago; outros têm sugerido o futuro curadordo museu do LouvreFrédéric Villot, mas não há consenso sobre este ponto.[6] Os principais personagens se inscrevem dentro de um triângulo em cujo vértice está a bandeira. As cores predominantes são azul, branco e vermelho, que se destacam dos tons de cinza e marrom predominantes.
COMPRA E EXIBIÇÃO. O governo da França comprou a pintura em 1831, por 3.000 francos, com a intenção de exibi-lo na sala do trono do Palais du Luxembourg, como lembrança para o "rei-cidadão" Louis-Philippe da Revolução de Julho. Delacroix foi autorizado a enviar o quadro para Félicité, sua tia, para o preservar. Ele foi exibido por pouco tempo no Salão de 1855. Em 1874, a pintura esta exposta no museu do Louvre.
LEGADO. A pintura inspirou a Estátua da Liberdade, em Nova York, que foi dado para os Estados Unidos como um presente dos franceses, 50 anos depois do quadro ter sido pintado. A estátua, que segura uma tocha na mão, tem uma posição mais estável, ao contrário da mulher na pintura.
Uma versão gravada desta pintura, junto com uma representação do próprio Delacroix, foi destaque na nota de 100 francos no início dos anos 90.
A pintura teve ainda influência na música clássica; o americano George Antheilintitulada na "Sinfonia n º 6 - After Delacroix", afirmou que o trabalho foi inspirado pelo quadro.
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Grécia nas ruínas de Mussolonghi
A obra Grécia nas ruínas de Mussolonghi, concluída em 1826, por Eugène Delacroix, é uma homenagem a Lord Byron, que morreu dois anos antes na localidade grega de Mussolonghi. A mulher retratada na tela simboliza a Grécia, que estava lutando contra os turcos pela independência e foi inspirada pelo terceiro cerco a Mussolonghi, pelos otomanos. A obra pertence ao Museu de Belas Artes de Bordeaux.
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A solução mais confortável para o almoço foi aproveitar o restaurante Benoit, do próprio Louvre. Como já passava das 14:00 horas, tinha muitas mesas vazias. A comida estava satisfatória. Foi uma boa surpresa. Aliás, foi um aprendizado perceber que o preço da alimentação não varia muito, dos locais turísticos para os demais locais; e a qualidade se mantém. 
Antes de pegar o metrô para o retorno, as meninas viram uma sequência de lojas de confecções — algo irresistível para um conjunto majoritário de lindas garotas. Isabel comprou um moleton com a inscrição Sorbonne. Cecília escolheu uma blusa com a marca Paris. Laura preferiu uma blusa do time de futebol Paris Saint Germain e uma blusa com a marca Paris. Alessandra optou por um moleton e uma blusa, ambos com a marca da Cidade Luz. Eu não podia ficar pra trás, ser o 'diferentão'; então, fiz a minha escolha: um blusão azul e uma camiseta de malha.
Voltamos para o hotel e ao ligar a TV, vimos que o jogo Argentina e Croácia estava sendo transmitido. Isso bastou para que acabasse a vontade de sair para lanchar. Isabel providenciou sanduíches, suco e frutas. Valeu a pena, especialmente porque a Croácia "deu um chocolate" na seleção argentina — 3 x 0, com choro, mas sem velas. O melhor foi ver o Maradona na arquibancada, com a cabeça baixa, no que se pode definir como o desesperado lamento portenho

22 de junho (sexta-feira) – Visitas às igrejas Notre Dami e Sainte-Chapelle
Acordei com muito sono. A barulheira no Le Gisou, o bar do hotel Lepic, onde ocorreu uma festa, durou até três horas da madrugada. Após o café da manhã desci para falar com a gerente do hotel. Queria reclamar e saber se hoje a festa se repetiria. Aí ela informou que 21 de junho é o dia da música. Em toda a França a cantoria vara a noite. Uma senhora que estava a meu lado no balcão da recepção, tinha deixado sua casa para dormir essa noite no hotel porque não suportava o ruído que seus vizinhos faziam em sua vizinhança. Enfim, mais uma sobre essa França imemorial.
Saímos sem muita pressa. As caminhadas dos dias anteriores já estavam fazendo efeito. Hoje, nossa jornada começou com a igreja de Notre Dame — como jamais deixara de ser, simplesmente fantástica. Para observá-la com a acurácia merecida, era preciso passar quase o dia inteiro, mas havíamos imaginado observá-la durante cerca de uma hora. Então, demos a volta na parte externa da nave, observando as diversas capelas, cada uma constituindo-se em maravilhosa obra de arte, ornamentadas pelos vitrais de uma beleza sem jaça. Depois, ingressamos na nave. Isabel e as meninas sentaram-se nos bancos, não sei se para descansar ou para refletir e sorver o que a imaginação é capaz diante do que o ser humano consegue realizar com inspiração divina. Basta a igreja de Notre Dame para justificar uma visita a Paris.
Nossa meta subsequente foi a visita a igreja Sainte Chapelle. A esta falta-lhe a grandiosidade da Notre Dame, mas sobra-lhe simplicidade, elegância e indescritível beleza, encerradas nos maravilhosos vitrais que lhe conferem características singulares e únicas.
Não ficamos muito tempo porque era preciso voltar para o hotel. Propuséramos a assistir ao jogo do Brasil contra a Costa Rica, o segundo das oitavas de finais da Copa do Mundo na Rússia.
O objetivo era chegar ao hotel às 14:00 horas. Pegamos o metrô na estação Cité e conseguimos — baldeando em Rochechouart e chegando à estação Blanche — ser pontuais e chegar na hora. Ligamos a TV no anunciado canal TF1 e nada de transmissão de jogo. Pesquisei e cheguei ao canal 21. Era mostrado na tela um casal transmitindo o jogo, sem imagem, isto é, com a imagem dos locutores. De tempo em tempo, quatro comentaristas conversavam e comentavam o que ocorrera. Isabel comprou sanduíches, suco e frutas para o almoço.  Como se isso não bastasse, o jogo foi ruim e até os 90 minutos, não saiu gol. Ouvir o jogo no hotel, sem transmissão de TV, sem almoço e sem gol é algo que, para se tornar horrível, precisa melhorar muito. Quando eu desistira de acompanhar o jogo — passados os 90 minutos dos dois tempos normais — o Brasil marcou o primeiro gol. E por mais inacreditável que possa parecer, saiu ainda o segundo gol. Em meus 60 anos de observação e prática de futebol — tendo jogado dos 10 aos 40 anos, como inigualável perna-de-pau, com uma passagem edificante pelo Rochedo Futebol Clube — nada parecido eu vivenciara ou testemunhara.
Terminado o jogo — que eu nem ouvira até o final, já que os gols, fiquei sabendo pelas meninas, ocorreram depois dos 90 minutos regulamentares — fui de metrô, a partir da estação Blanche, até a Gare du Nord para reconhecer o perímetro da ida àquela estação, pois no sábado para tomaríamos o TVG para Londres; e também para esclarecer se era possível descer no aeroporto CDG na vinda de Londres para Paris. Enquanto isso, Isabel e as meninas iriam passear a pé em Monmartre.
A Gare du Nord é uma enormidade. Passei quase vinte minutos percorrendo-a — com algumas paradas para observação — vindo da estação La Chapelle. Embora não tenha sido fácil, identifiquei o setor para tomar o TVG. Depois de uma caminhada a pé na região contígua à Gare du Nord, voltei para o hotel, onde Isabel e as meninas já estavam aguardando.
Depois de uma meia hora de descanso, saímos para jantar. A pizzaria e o restaurante que eram preferência delas, pelo reconhecimento feito horas antes, estavam completamente cheios. A alternativa resultante do acaso foi a Pizzaria Focaccio.  Excelente escolha. O ambiente estava ótimo, as massas estavam magníficas e o vinho Chianti era dos melhores. Tudo conspirou para que os momentos lá passados fossem maravilhosos. 
Além disso, quase na hora da saída da pizzaria, uma das proprietárias perguntou se tínhamos interesse em passear no rio Sena de barco. Pergunta estranha, mas a resposta foi sim; então, ela ofereceu ingresso para o evento. Se fosse no Brasil, logo desconfiaríamos; será que não há uma armadilha nisso e podemos ser assaltados ou algo pior? Enfim, aceitamos e, para nossa surpresa, recebemos um presente de 5 ingressos do BatoBus, que valia cada um 47 euros. Planejamos o passeio para o dia seguinte.
Antes de ir para o hotel, eu e Alessandra demos uma volta e estivemos na praça Des Abesses, um local simples e acolhedor, que elas tinham visitado quando eu fui à Gare du Nord verificar o embarque para Londres.

23 de junho (sábado) – Visita ao museu d’Orsay e passeio de BatoBus
Logo após o café da manhã, caminhamos até a praça Des Abesses, onde ontem eu e Alessandra estivemos ontem à noite. Hoje, apreciamos o belíssimo carroussel da praça e depois tomamos o metrô e seguimos até a estação Solferino, a mais próxima do Museu d’Orsay, que era o objetivo colimado para o dia de hoje.
Ao longo do percurso a pé, depois de deixar o metrô, passamos na Academia de Agricultura da França; e uma senhora simpática mostrou para nós a identificação, a data e a marca horizontal inscrita na porta lateral do prédio, indicando o nível que a água resultante da maior enchente da história atingiu — “Crue de la Seine – 28 janvier 1910” (“Inundação do rio Sena – 28 de janeiro de 1910”).
Em seguida, passamos por uma edificação belíssima, que abriga o Museu da Legião de Honra e foi um antigo hotel, construído no final do século XVIII — Hotel de Salm. Na lateral, cada uma das janelas identifica as várias ordens da Legião e as respectivas figuras da medalha correspondente; sendo que a primeira contém uma frase emblemática: “L’HONNEUR NOURRIT LES ARTS” (“A HONRA ALIMENTA AS ARTES”).  Tiramos várias fotos. Apreciar a edificação apenas externamente valeu a pena. 
Na continuação, chegamos a nosso objetivo. O que é hoje o Museu d’Orsay foi até 1939 uma magnífica estação ferroviária, construída pelo arquiteto Victor Laloux, para a Exposição Universal de 1900. Em 1986, 47 anos após o fechamento da estação, foi reaberto com a finalidade de mostrar a coleção nacional francesa de pinturas, esculturas e objetos de arte produzidos entre 1848 e 1914, abrangendo os movimentos Impressionista, Pós-impressionista e Art Nouveau na França. As obras expostos no museu são originárias de três fontes: Museu do Louvre (obras de artistas nascidos no século XIX), Museu Jeu de Pomme (obras impressionistas desde 1947) e Museu de Arte Moderna de Paris (obras mais recentes, do século XX).
A nave principal do pavimento térreo apresenta uma impressionante coleção de esculturas. Nossa atenção foi focalizada nas seguintes:
   Estátua da Liberdade, de Fréderic-Auguste Bartholdi;
   Virgílio e Dante, de Antoine-Augustin Préault;
   Mulher picada por uma serpente, de Auguste Clésinger;
   Pénélope, de Pierre-Jules Cavelier;
   Os Gracques, de Eugène Guillaume;
   Napoleão Iº legislador, de Eugène Guillaume;
   A juventude de Aristóteles, de Charles Degeorge;
   Eva depois do pecado, de Eugène Delaplanche;
   As quatro partes do mundo, de Jean-Baptiste Carpeaux;
   Heracles arqueiro, de Emile-Antoine Bourdelle.
Deve ser mencionado o monumental Grande Relógio interior da antiga estação d’Orsay, exposto na parte elevada da parede de entrada do átrio principal do pavilhão térreo do museu — uma obra maravilhosa, aparentemente, de Nicolas Sanchez.
Dentre as obras de pintura, os Impressionistas são parte da essência do Museu d’Orsay. Então, observar as obras de Edouard Manet, Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Camille Pissaro, Edgar Degas, Paul Cézanne, Vincent Van Gogh e outros constitui-se, para as meninas, em uma oportunidade única, de confirmar e enriquecer as informações que elas têm recebido na disciplina Artes do ensino fundamental. Para mim e Isabel, não há novidade; é a terceira vez que visitamos o museu; então, rever a beleza e o resultado do talento de uma parcela dos maiores artistas da história é simplesmente deslumbrante. Destacamos pois a seguinte amostra das obras, que mais detidamente observamos e fotografamos:

    de Edouard Manet 
·     Olympia
·     Senhor e senhora
·     Na praia
    de Paul Cézanne 
·     O Cristo no limbo
·     Imperador Aquiles
    de Claude Monet 
·     Mulheres no jardim 
·     A charrete – rota sob a neve a Honfleur 
·     Madame Louis Joachim Gaudibert 
·     Almoço na grama 
·     Carrières-Saint-Dennis
·     Loura com os seios nus 
·     Barco ancorad, 
·     Zaandam
·     Coquelicots,
·     A ponte da estrada de ferro a Argenteuil 
·     Perus
·     O almoço 
·     Mulher com  guarda-chuva voltada para a esquerda
·     Mulher com  guarda-chuva voltada para a direita 
·     O barco em Giverny 
·     Crisântemos
·     A ponte de Argenteuil 
·     Praia de Étretat 
·     O jardim do artista em Giverny
    de Pierre-Auguste Renoir 
·     Menino com o gato 
·     Alphonsine Fournaise 
·     Estudo, torso, efeito do sol 
·     A pereira da Inglaterra 
·     Baile do moinho da Galette 
·     Dança na cidade
·     Dança na campanha
·     Paisagem da Algéria – a ravina da mulher selvagem
·     Madame Gaston Bernheim de Villers
·     Grande nu – nu nas almofadas
·     Nu reclinado, visto de costas
·     Moças ao piano

    de Henri Fantin-Latour 
·     Homenagem a Delacroix, 
·     Charlotte Dubourg;
    de Alfred Sisley 
·     Passarela de Argenteuil, 
·     Vista do canal Saint-Martin;
    de Camille Pissaro 
·     Diligência a Louveciennes, 
·     A rota de Louveciennes, 
·     Castanheiras de Louveciennes;
    de Paul Cézanne 
·     A casa do enforcado 
·     Uma Olímpia moderna 
·     Maçãs e laranjas
    de Edgar Degas 
·     Dançarinas azuis
    de Paul Gauguin 
·     As lavadeiras em Pont-Aven 
·     A bela Angele 
·     Os Alyscamps 
Alyscamp era um espaço público em Arles, França, construído fora das muralhas da cidade, que servira, no passado, de necrópole — um costume herdado da Roma Antiga.
·     O cavalo branco 
·     Arearea
·     Le repas
·     Retrato de William Molard
    de Vincent Van Gogh 
·     O quarto de V. G. em Arles 
·     A mulher de Arles 
·     O doutor Paul Gachet
·     Duas meninas
·     Rosas e anêmonas
·     Natureza morta (à l’éventail)
·     Auto-retrato
·     O meridiano (dito, a sesta)
    de Pablo Picasso
·     O menino levando o cavalo
    de Gabriel Ferrier
·     L’Auto da Fé
    de Ernest Meissonier
·     Campanha da França, 1814
    de Tony Robert-Fleury 
·     O último dia de Corinto

Já próximo ao momento da saída, quando esperava as meninas que davam uma olhada na loja de lembranças, deparei-me com um amigo, o general Terra Amaral e esposa. É sempre uma alegria encontrar um conterrâneo em terras estrangeiras e ainda mais quando estamos numa atividade cultural do porte da visita a um dos mais importantes museus da França. Isso permite um pouco de reflexão. 
Tenho que agradecer a papai e mamãe, pelo que visualizaram e empreenderam. Quando ainda morando na roça — a rigor, uma ponta da fazenda do vovô a que eu costumo me referir como “a roça”, dado que com os próprios braços, papai trabalhava a terra, plantava, colhia e beneficiava a maioria dos alimentos que consumíamos nos meus primeiros sete anos de vida —, a despeito de uma condição sócio-cultural muito modesta, eles apostaram na improbabilidade de estudarmos e “virarmos gente”. Tenho que agradecer à Força Aérea e ao Exército — que, historicamente, adotaram a abordagem do mérito para o acesso a seus quadros — por terem me conduzido até onde não tinha aspirado chegar; por ter, o Exército, como sempre, sob a égide da meritocracia, me nomeado para a Aditância de Teerã, no Irã; por ter assim me possibilitado conhecer Isabel e, por extensão, por ter contribuído para que as meninas estejam conosco, como corolário das sendas que não planejei percorrer, mas que as abertas de minha época indicou como vanguarda sonhada. E sobretudo por estar com elas quatro, sorvendo com os olhos, a mente e a emoção os produtos culturais que enobrecem e dignificam o ser humano.
Saímos para uma caminhada, à procura de um local para almoçar. Optamos pelo Café Brassserie Le Solferino. Foi uma boa escolha. Com a alegria de uma manhã bem vivida, até a comida francesa tem possibilidade de ficar mais saborosa.
Após a refeição, seguimos para as margens do rio Sena, à procura de uma estação do BatoBus, cujos bilhetes ganhamos ontem no restaurante La Focaccia. O local de embarque foi entre a ponte de La Concorde e Alexandre III. O barco enorme com dois andares é minimamente confortável. Como o sol ainda estava forte, ficamos no 1o. andar. O passeio não contém novidades, mas o ponto de observação inédito permitiu recordar o que já tínhamos visto ao longo da semana e consolidar na memória as maravilhas históricas e arquitetônicas da Cidade Luz. Enfim, revimos o Petit e Grand Palais, a praça de La Concorde, o Arco do Triunfo do Carroussel, o museu d’Orsay, o museu do Louvre, a igreja Sainte Chapelle, a igreja Notre Dame; e bem de longe, dois locais em que não estivemos: o Pantheon e a praça da Bastilha. A última parada do barco foi na estação fluvial do jardim das Plantas, que fica rio acima depois da ilha de St Louis; em seguida, o barco retornou, agora no sentido Leste-Oeste, isto é, no sentido das águas, que seguem até o canal da Mancha. Passamos ao lado do Hôtel de Ville, que também não visitamos, e chegamos às imediações do Louvre, onde desembarcamos para tomar o metrô na estação Tulherias. Registre-se no jardim das Tulherias — que ocupa a enorme área em frente ao museu do Louvre, tendo a Leste o Arco do Triunfo do Carroussel — a passagem pela moça nua reclinada, em bronze, bela, monumental, inexcedível, de Aristide Maillol e cujo nome é Monumento a Paul Cézanne. Como não devo ser homenageado, a solução é, antes da fatalidade inevitável, mas segundo Steve Jobs, necessária, encomendar uma para guardar meu nome para a eternidade.
Dois esclarecimentos são oportunos. No coração de Paris, encravada no rio Sena, encontram-se dois ícones geográficos: a ilha de La Cité  e, com cerca de metade da área da primeira, a ilha de St Louis, interligadas pela ponte de St Louis. Essas duas ilhas são um símbolo da história de Paris. A ilha de La Cité era uma vila primitiva quando o conquistador Júlio Cesar chegou em 53 a. C. Reis ancestrais tornaram-na centro político, religioso e de aplicação da lei. Essa condição emblemática persiste até hoje, pois ela abriga a igreja Notre Dame, uma obra-prima gótica; e o Palácio da Justiça, uma imponência arquitetônica exemplar.
O mencionado Hôtel de Ville abriga o conselho da cidade, uma espécie de prefeitura. Trata-se da magnífica reconstrução no final do século XIX, após incêndio em 1871, de edificação oriunda do século XVII. O enorme pátio interno foi, antes de se tornar a prefeitura, o principal local para enforcamento, queima e outras horrendas execuções. Foi aí que Ravaillac — o assassino do rei Henri IV, em 1610 — foi esquartejado vivo, com seu corpo dilacerado em pedaços pela força de quatro cavalos puxando em direções opostas.
Conforme imaginamos, tomamos o metrô na estação Tulherias, fizemos a baldeação na estação Concorde e descemos na Abesses. Na praça homônima, em frente ao carroussel, havia um músico tocando violoncelo. Paramos para apreciar. Apenas por alguns minutos, porque um morador chegou, reclamou e ameaçou chamar a polícia. Aqui não vale a lei ‘os incomodados que se mudem’. 
O destino seguinte foi o hotel Lepic, para banho, lanche, arrumação das malas e repouso; afinal, essa seria, nesta viagem, nossa última noite em Paris. A pergunta que hesita em se calar: aproveitamos bem esses seis dias? A Cidade Luz tem tanto a oferecer em arte, culinária, futebol (nos últimos vinte anos, o País foi duas vezes campeão do mundo — claro estou completando este relato, após a viagem e após a Copa do Mundo na Rússia), cultura e história, que parece que fizemos pouco. Provavelmente, é uma inferência apressada. Depois de uma hipotética décima visita a Paris, há razoável probabilidade de se concluir que ainda falta muito para ver, observar, apreciar, admirar e aprender. Nesse sentido, utilizando os olhos e o pensamento das adolescentes queridas, que estão assumindo o seu próprio eu e sua forma própria de pensar e reagir, fizemos o que era possível em seis dias de contato com a primeira cidade estrangeira escolhida por elas conhecerem e celebrar a passagem para a antessala da vida adulta.

24 de junho (domingo) – Viagem de trem TGV e passeio na Sussex Garden Rd, Edgware Rd e Oxford St 
A epopeia francesa chegou ao fim. A última jornada na Cidade Luz começou com o café da manhã no hotel Lepic, que ficará em nossas lembranças, mas especialmente nas mentes das meninas. Fomos de táxi para a Gare du Nord para embarcar no TGV (Train de Grand Vitesse – Trem de Grande Velocidade – ou Trem-Bala) para Londres.
Os detalhes dessa primeira viagem de trem, de Paris para Londres, estão incluídos no relato sob o título “Viagem a Londres – 24 a 30/Jun/2018”. 

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