segunda-feira, 2 de julho de 2018

Viagem a Paris - Museu d'Orsay e BatoBus


23 de junho (sábado) – Visita ao museu d’Orsay e passeio de BatoBus
Logo após o café da manhã, caminhamos até a praça Des Abesses, onde ontem à noite, eu e Alessandra estivemos. Hoje, apreciamos o belíssimo carroussel da praça e depois tomamos o metrô e seguimos até a estação Solferino, a mais próxima do Museu d’Orsay, que era o objetivo colimado para o dia de hoje.
Ao longo do percurso a pé, depois de deixar o metrô, passamos na Academia de Agricultura da França; e uma senhora simpática nos mostrou a identificação, a data e a marca horizontal inscrita na porta lateral do prédio, indicando o nível que a água resultante da maior enchente da história atingiu — “Crue de la Seine – 28 janvier 1910” (“Inundação do rio Sena – 28 de janeiro de 1910”).
Em seguida, passamos por uma edificação belíssima, que abriga o Museu da Legião de Honra e foi um antigo hotel, construído no final do século XVIII — Hotel de Salm. Na lateral, cada uma das janelas identifica as várias ordens da Legião e as respectivas figuras da medalha correspondente; sendo que a primeira contém uma frase emblemática: “L’HONNEUR NOURRIT LES ARTS” (“A HONRA ALIMENTA AS ARTES”).  Tiramos várias fotos. Apreciar a edificação apenas externamente valeu a pena. 
Na continuação, chegamos a nosso objetivo. O que é hoje o Museu d’Orsay foi até 1939 uma magnífica estação ferroviária, construída pelo arquiteto Victor Laloux, para a Exposição Universal de 1900. Em 1986, 47 anos após o fechamento da estação, foi reaberto com a finalidade de mostrar a coleção nacional francesa de pinturas, esculturas e objetos de arte produzidos entre 1848 e 1914, abrangendo os movimentos Impressionista, Pós-impressionista e Art Nouveau na França. As obras expostas no museu são originárias de três fontes: Museu do Louvre (obras de artistas nascidos no século XIX), Museu Jeu de Pomme (obras impressionistas desde 1947) e Museu de Arte Moderna de Paris (obras mais recentes, do século XX).
A nave principal do pavimento térreo apresenta uma impressionante coleção de esculturas. Nossa atenção foi focalizada nas seguintes:
   Estátua da Liberdade, de Fréderic-Auguste Bartholdi;
   Virgílio e Dante, de Antoine-Augustin Préault;
   Mulher picada por uma serpente, de Auguste Clésinger;
   Pénélope, de Pierre-Jules Cavelier;
   Os Gracques, de Eugène Guillaume;
   Napoleão Iº legislador, de Eugène Guillaume;
   A juventude de Aristóteles, de Charles Degeorge;
   Eva depois do pecado, de Eugène Delaplanche;
   As quatro partes do mundo, de Jean-Baptiste Carpeaux;
   Heracles arqueiro, de Emile-Antoine Bourdelle.
Deve ser mencionado o monumental Grande Relógio interior da antiga estação d’Orsay, exposto na parte elevada da parede de entrada do átrio principal do pavilhão térreo do museu — uma obra maravilhosa, aparentemente, de Nicolas Sanchez.
Dentre as obras de pintura, os Impressionistas são parte da essência do Museu d’Orsay. Então, observar as obras de Edouard Manet, Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Camille Pissaro, Edgar Degas, Paul Cézanne, Vincent Van Gogh e outros constitui-se, para as meninas, em uma oportunidade única, de confirmar e enriquecer as informações que elas têm recebido na disciplina Artes, no ensino fundamental. Para mim e Isabel, não há novidade; é a terceira vez que visitamos o museu; então, rever a beleza e o resultado do talento de uma parcela dos maiores artistas da história é simplesmente deslumbrante. Destacamos pois a seguinte amostra das obras, que mais detidamente observamos e fotografamos:

    de Edouard Manet 
·     Olympia
·     Senhor e senhora
·     Na praia
    de Paul Cézanne 
·     O Cristo no limbo
·     Imperador Aquiles
    de Claude Monet 
·     Mulheres no jardim 
·     A charrete – rota sob a neve a Honfleur 
·     Madame Louis Joachim Gaudibert 
·     Almoço na grama 
·     Carrières-Saint-Dennis
·     Loura com os seios nus 
·     Barco ancorad, 
·     Zaandam
·     Coquelicots,
·     A ponte da estrada de ferro a Argenteuil 
·     Perus
·     O almoço 
·     Mulher com  guarda-chuva voltada para a esquerda
·     Mulher com  guarda-chuva voltada para a direita 
·     O barco em Giverny 
·     Crisântemos
·     A ponte de Argenteuil 
·     Praia de Étretat 
·     O jardim do artista em Giverny
    de Pierre-Auguste Renoir 
·     Menino com o gato 
·     Alphonsine Fournaise 
·     Estudo, torso, efeito do sol 
·     A pereira da Inglaterra 
·     Baile do moinho da Galette 
·     Dança na cidade
·     Dança na campanha
·     Paisagem da Algéria – a ravina da mulher selvagem
·     Madame Gaston Bernheim de Villers
·     Grande nu – nu nas almofadas
·     Nu reclinado, visto de costas
·     Moças ao piano

    de Henri Fantin-Latour 
·     Homenagem a Delacroix, 
·     Charlotte Dubourg;
    de Alfred Sisley 
·     Passarela de Argenteuil, 
·     Vista do canal Saint-Martin;
    de Camille Pissaro 
·     Diligência a Louveciennes, 
·     A rota de Louveciennes, 
·     Castanheiras de Louveciennes;
    de Paul Cézanne 
·     A casa do enforcado 
·     Uma Olímpia moderna 
·     Maçãs e laranjas
    de Edgar Degas 
·     Dançarinas azuis
    de Paul Gauguin 
·     As lavadeiras em Pont-Aven 
·     A bela Angele 
·     Os Alyscamps 
Alyscamp era um espaço público em Arles, França, construído fora das muralhas da cidade, que servira, no passado, de necrópole — um costume herdado da Roma Antiga.
·     O cavalo branco 
·     Arearea
·     Le repas
·     Retrato de William Molard
    de Vincent Van Gogh 
·     O quarto de V. G. em Arles 
·     A mulher de Arles 
·     O doutor Paul Gachet
·     Duas meninas
·     Rosas e anêmonas
·     Natureza morta (à l’éventail)
·     Auto-retrato
·     O meridiano (dito, a sesta)
    de Pablo Picasso
·     O menino levando o cavalo
    de Gabriel Ferrier
·     L’Auto da Fé
    de Ernest Meissonier
·     Campanha da França, 1814
    de Tony Robert-Fleury 
·     O último dia de Corinto

No momento da saída, quando as meninas davam uma olhada na loja de lembranças, deparei-me com um amigo, o general Terra Amaral e esposa. É sempre uma alegria encontrar um conterrâneo em terras estrangeiras e ainda mais quando estamos numa atividade cultural do porte da visita a um dos mais importantes museus da França. Isso permite um pouco de reflexão. 
Tenho que agradecer a papai e mamãe, pelo que visualizaram e empreenderam. Quando ainda morando na roça — a rigor, uma ponta da fazenda do vovô a que eu costumo me referir como “a roça”, dado que com os próprios braços, papai trabalhava a terra, plantava, colhia e beneficiava a maioria dos alimentos que consumíamos nos meus primeiros sete anos de vida —, a despeito de uma condição sócio-cultural muito modesta, eles apostaram na improbabilidade de estudarmos e “virarmos gente”. Tenho que agradecer à Força Aérea e ao Exército — que, historicamente, adotaram a abordagem do mérito para o acesso a seus quadros — por terem me conduzido até onde não tinha aspirado chegar; por ter, o Exército, como sempre, sob a égide da meritocracia, me nomeado para a Aditância de Teerã, no Irã; por ter assim me possibilitado conhecer Isabel e, por extensão, por ter contribuído para que as meninas estejam conosco, como corolário das sendas que não planejei percorrer, mas que as abertas de minha época indicou como vanguarda sonhada. E sobretudo por estar com elas quatro, sorvendo com os olhos, a mente e a emoção os produtos culturais que enobrecem e dignificam o ser humano.
Saímos para uma caminhada, à procura de um local para almoçar. Optamos pelo Café Brassserie Le Solferino. Foi uma boa escolha. Com a alegria de uma manhã bem vivida, até a comida francesa tem possibilidade de ficar mais saborosa.
Após a refeição, seguimos para as margens do rio Sena, à procura de uma estação do BatoBus, cujos bilhetes ganhamos ontem no restaurante La Focaccia. O local de embarque foi entre a ponte de La Concorde e Alexandre III. O barco enorme com dois andares é minimamente confortável. Como o sol ainda estava forte, ficamos no 1o. andar. O passeio não contém novidades, mas o ponto de observação inédito permitiu recordar o que já tínhamos visto ao longo da semana e consolidar na memória as maravilhas históricas e arquitetônicas da Cidade Luz. Enfim, revimos o Petit e Grand Palais, a praça de La Concorde, o Arco do Triunfo do Carroussel, o museu d’Orsay, o museu do Louvre, a capela Sainte-Chapelle, a catedral Notre Dame [ressalto que hoje, 15 de abril de 2019, por volta das 14:00 horas, enquanto reeditava estas memórias, a catedral mais famosa do mundo foi quase completamente por um incêndio]; e bem de longe, dois locais em que não estivemos: o Pantheon e a praça da Bastilha. A última parada do barco foi na estação fluvial do jardim das Plantas, que fica rio acima depois da ilha de St Louis; em seguida, o barco retornou, agora no sentido Leste-Oeste, isto é, no sentido das águas, que seguem até o canal da Mancha. Passamos ao lado do Hôtel de Ville, que também não visitamos, e chegamos às imediações do Louvre, onde desembarcamos para tomar o metrô na estação Tulherias. Registre-se no jardim das Tulherias — que ocupa a enorme área em frente ao museu do Louvre, tendo a Leste o Arco do Triunfo do Carroussel — a passagem pela moça nua reclinada, em bronze, bela, monumental, inexcedível, de Aristide Maillol e cujo nome é Monumento a Paul Cézanne. Como não devo ser homenageado, a solução é, antes da fatalidade inevitável, mas segundo Steve Jobs, necessária, encomendar uma para guardar meu nome para a eternidade.
Dois esclarecimentos são oportunos. No coração de Paris, encravada no rio Sena, encontram-se dois ícones geográficos: a ilha de La Cité  e, com cerca de metade da área da primeira, a ilha de St Louis, interligadas pela ponte de St Louis. Essas duas ilhas são um símbolo da história de Paris. A ilha de La Cité era uma vila primitiva quando o conquistador Júlio Cesar chegou em 53 a. C. Reis ancestrais tornaram-na centro político, religioso e de aplicação da lei. Essa condição emblemática persiste até hoje, pois ela abriga a igreja Notre Dame, uma obra-prima gótica; e o Palácio da Justiça, uma imponência arquitetônica exemplar.
O mencionado Hôtel de Ville abriga o conselho da cidade, uma espécie de prefeitura. Trata-se da magnífica reconstrução no final do século XIX, após incêndio em 1871, de edificação oriunda do século XVII. O enorme pátio interno foi, antes de se tornar a prefeitura, o principal local para enforcamento, queima e outras horrendas execuções. Foi aí que Ravaillac — o assassino do rei Henri IV, em 1610 — foi esquartejado vivo, com seu corpo dilacerado em pedaços pela força de quatro cavalos puxando em direções opostas.
Conforme imaginamos, tomamos o metrô na estação Tulherias, fizemos a baldeação na estação Concorde e descemos na Abesses. Na praça homônima, em frente ao carroussel, havia um músico tocando violoncelo. Paramos para apreciar. Apenas por alguns minutos, porque um morador chegou, reclamou e ameaçou chamar a polícia. Aqui não vale a lei ‘os incomodados que se mudem’. 
O destino seguinte foi o hotel Lepic, para banho, lanche, arrumação das malas e repouso; afinal, essa seria, nesta viagem, nossa última noite em Paris. A pergunta que hesita em se calar: aproveitamos bem esses seis dias? A Cidade Luz tem tanto a oferecer em arte, culinária, futebol (nos últimos vinte anos, o País foi duas vezes campeão do mundo — claro estou completando este relato, após a viagem e após a Copa do Mundo na Rússia), cultura e história, que parece que fizemos pouco. Provavelmente, é uma inferência apressada. Depois de uma hipotética décima visita a Paris, há razoável probabilidade de se concluir que ainda falta muito para ver, observar, apreciar, admirar e aprender. Nesse sentido, utilizando os olhos e o pensamento das adolescentes queridas, que estão assumindo o seu próprio eu e sua forma própria de pensar e reagir, fizemos o que era possível em seis dias de contato com a primeira cidade estrangeira escolhida por elas conhecerem e celebrar a passagem para a antessala da vida adulta.

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SUMÁRIO

Apresentação
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Museu d'Orsay, 1900, de Victor Laloux.

Relógio na esquadria da fachada interna (parede da entrada).

 Moças ao piano, 1892, de Pierre-Auguste Renoir.

 Moças ao piano, 1892, de Pierre-Auguste Renoir;
e as meninas que tocam piano, com os pais, 2018.

As quatro partes do mundo sustentando a esfera celeste, 1867, de Jean-Baptiste Carpeaux.

Dançarinas azuis, 1897, de Edgar Degas.

 Homenagem a Delacroix, 1864, de Henri Fantin-Latour.

As filhas da senhora Hoschede (Germaine, Suzanne e Blanche), segunda esposa do artista, 1887, de Claude Monet.

Papoulas, 1897, de Claude Monet.

Retrato do artista, 1899, de Vincent Van Gogh.

 O quarto de Van Gogh em Arles, 1889, Vincent Van Gogh.

Napoleão, 1º legislador, 1880, de Eugène Guillaumme.


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